sábado, 24 de maio de 2008

ENTENDA OS ALFABETOS

Muitos não sabem, mas o que caracteriza uma civilização, o que diferencia um povo civilizado de um povo bárbaro, é a linguagem escrita. A própria História da humanidade só começa a ser contada a partir da invenção da escrita - o que vinha antes não é considerado História, mas Pré-História.
O primeiro povo a desenvolver um método para registrar em escrita seus acontecimentos do dia-a-dia foram os egípcios. Os egípcios, porém, não possuiam um alfabeto, registrando seu conhecimento na forma de hieróglifos, pequenos desenhos trabalhados, evoluções naturais das pinturas rupestres do homem primitivo. Em algum momento, entretanto, o Homem criou um código, com o qual poderia registrar seus pensamentos com mais facilidade, sem a necessidade de passar o dia desenhando. Hoje vamos dar uma olhada na história, evolução e variedades deste código. E agradecer por hoje não termos que ficar desenhando pessoinhas e passarinhos para nos comunicar.

O que é um alfabeto? - Tecnicamente falando, um alfabeto é um conjunto de consoantes e vogais, com as quais serão formados fonemas, capazes de serem reconhecidos por todos os que conheçam o alfabeto em questão. Juntos, os fonemas formam a versão escrita das palavras que compõem aquele idioma.
Assim, hieróglifos, escrita cuneiforme e ideogramas, por exemplo, não são alfabetos, pois cada símbolo representa uma idéia, uma palavra inteira, não formando fonemas quando unidos.

Quem inventou o alfabeto? - O alfabeto original foi criado pelo povo Semita do Deserto do Sinai. Este povo se inspirou nos hieróglifos egípcios, mas criou seus próprios símbolos, cada um correspondente a um som, não a uma idéia. Rapidamente, este alfabeto se popularizou entre os povos vizinhos, os Cananeus, Hebreus e Fenícios. Os Fenícios adaptaram as letras Semitas para que pudessem ser escritas mais rapidamente, dando origem ao que hoje é considerado o pai de todos os alfabetos ocidentais.
Os Fenícios, conhecidos por ser um povo que viajava muito, acabaram levando o alfabeto a todo o mundo conhecido, desde a Ásia Menor, passando pelo Oriente Médio, Arábia, Grécia e pelos Etruscos, chegando até a Espanha. Através de pequenas adaptações, o alfabeto Fenício deu origem aos dois alfabetos mais importantes da antiguidade, o Grego e o Romano, ambos em uso até hoje.
Na tabela abaixo podemos ver as letras originais Semitas, seguidas das adaptações feita pelos Fenícios, e mais as letras gregas e romanas correspondentes, ambas adaptadas do Fenício. Note que uma mesma letra antiga pode ter dado origem a mais de uma letra moderna, de acordo com as necessidades de cada idioma. A letra grega psi (Ψ) não está presente na tabela porque foi inventada pelos próprios gregos, inspirada no tridente de Poseidon.




Quantos alfabetos existem atualmente? - Os três alfabetos mais famosos atualmente são o Romano ou Latino, utilizado por nós, o Cirílico ("Russo") e o Grego. Porém, muitos outros "menos cotados" existem, alguns restritos a pequenas regiões de alguns países. Não se sabe com certeza quantos alfabetos ainda estão em uso, mas estima-se que ainda existam entre 15 e 20 códigos diferentes espalhados pelo planeta. Na figura abaixo temos exemplos dos nove alfabetos mais utilizados atualmente:




Alguns de vocês podem estar sentindo a falta do hebraico e do árabe. Acontece que estes não são alfabetos, mas sim abjadas. O que nos leva à nossa próxima pergunta.

O que é uma abjada? - Uma abjada, ou alfabeto consonantal, é um conjunto de símbolos que representa apenas as consoantes de uma linguagem, ou as consoantes e algumas vogais, como no caso do árabe. A vocalização, ou indicação das vogais, é feita através de sinais diacríticos, espécies de acentos, postos sobre ou logo após as consoantes. Atualmente, só existem quatro abjadas em uso, sendo as mais utilizadas as dos idiomas hebraico e árabe.


E idiomas como o japonês e o chinês? Têm alfabetos ou abjadas? - Na verdade, nem um, nem outro. Idiomas como o japonês, tailandês e khmer (o idioma do Camboja) utilizam o método de escrita silábico, ou alfassilabários. Neste método, cada símbolo representa uma sílaba inteira, e não uma única letra, como em um alfabeto. Unindo-se as sílabas, formam-se as palavras. A maioria dos idiomas orientais utiliza o método de escrita silábico, e cada alfassilabário só costuma ter as sílabas presentes no idioma em questão (em japonês não existe uma sílaba para "la", por exemplo, porque nenhuma palavra em japonês possui este som), o que pode causar certos problemas na hora de escrever palavras estrangeiras. Abaixo temos seis exemplos de alfassilabários, mas muitos outros existem.



Já o chinês e o vietnamita utilizam um sistema muito mais complexo, os ideogramas. Como o próprio nome sugere, um ideograma representa uma idéia inteira, sendo o mais comum que cada símbolo represente uma palavra, mas alguns símbolos podem representar duas ou mais palavras juntas. Muitas vezes também ocorre o inverso, com uma única palavra tendo muitos símbolos, um para cada de seus significados. A principal desvantagem dos ideogramas é a exagerada quantidade de símbolos: Estima-se que, em chinês, já existam mais de 40.000 deles, tornando quase impossível uma pessoa conhecer todos. Atualmente, só existem quatro conjuntos de ideogramas em uso no mundo: Os conjuntos chineses Zhongwen e Jurchen, o japonês Kanji e o vietnamita Chu-Nom.

Existem alfabetos em uso que não tenham se desenvolvido em conjunto com um idioma? - Sim, vários alfabetos já foram inventados por professores, cientistas e pesquisadores, visando uma maior facilidade de escrita e compreensão da linguagem. Mais de uma dezena deles podem ser encontrados através da História, sendo os mais famosos o Alfabeto Braille, inventado pelo francês Louis Braille para permitir que os cegos pudessem "ler" ao passar seus dedos sobre os símbolos, gravados em alto-relevo em papel grosso; o Alfabeto Internacional de Fonemas, aquele que aparece nos dicionários para explicar a pronúncia das palavras, criado pela Associação Internacional de Fonética, e desenvolvido para que qualquer som possa ser expressado sem dúvida por seus símbolos; e o Código Morse, criado por Samuel Morse para a transmissão de mensagens através de telégrafo. Um que não é muito famoso, mas é muito interessante é o Unifon, criado pelo norte-americano John Malone, para o propósito do ensino da língua inglesa. No Unifon, existe uma letra para cada som do inglês, assim, temos três "A" diferentes, um para o som de add, um para o som de ale e um para o som de all. Infelizmente, o Unifon não pegou, e é pouquíssimo conhecido, mesmo dentro dos EUA.

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