quarta-feira, 25 de abril de 2012

Funai alerta para risco de genocídio de índios isolados no Acre



O avanço da exploração econômica na fronteira entre o Brasil e o Peru ameaça causar um genocídio entre índios que vivem isolados na região, segundo organizações indígenas e indigenistas ouvidas pela BBC Brasil. Estimados em algumas centenas pelo escritório daFundação Nacional do Índio (Funai) em Rio Branco (AC), esses índios - em sua maioria falantes das línguas pano e aruak - vivem nas cabeceiras de rios na fronteira, atravessando-a livremente.


No entanto, segundo indigenistas, a exploração de madeira e o tráfico de drogas estão deslocando esses povos, que, em contato com outras populações (indígenas ou não), poderão ser dizimados por doenças ou confrontos armados.

"Notamos que há mudanças nas rotas dos isolados, que têm avançado além dos espaços que costumavam frequentar, por conta da pressão que sofrem do lado peruano", diz a coordenadora da Funai em Rio Branco, Maria Evanízia dos Santos. "Índios contatados estão preocupados, e muitas aldeias se mudaram por conta da proximidade, para evitar confrontos".

O quadro, diz Santos, se agravará caso obras planejadas por governantes locais saiam do papel. Há planos de construir uma estrada entre as cidades peruanas de Puerto Esperanza e Iñapari, margeando a fronteira com o Brasil, e de fazer uma rodovia ou uma ferrovia entre Cruzeiro do Sul (AC) e Pucallpa, no Peru. Ambas as obras cruzariam territórios de índios isolados.

"Se eles forem espremidos, vão para cima dos manchineri da TI (Terra Indígena) Mamoadate, que vão se defender. Como há histórico de conflitos, não é leviano falar em risco de genocídio", diz o coordenador-substituto da Funai em Rio Branco, Juan Scalia.

O termo também é citado por indígenas peruanos: "Se a estrada de Puerto Esperanza a Iñapari sair, haverá um genocídio", afirma Jaime Corisepa, presidente da Federação Nativa do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad), principal movimento indígena do Departamento (Estado) de Madre de Dios.

Risco de conflitos

As pressões sofridas por índios isolados no território peruano e seus possíveis efeitos no Brasil já fizeram com que o presidente da Funai, Márcio Meira, procurasse a Embaixada do Peru em busca de providências. Paralelamente, movimentos como a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) têm promovido encontros com índios brasileiros contatados para conscientizá-los sobre as ameaças sofridas pelos isolados e desencorajar conflitos.

"Eles percebem que os isolados estão vivendo o tempo das correrias de seus avós, que fugiam dos empresários da seringa", diz Marcela Vecchione, consultora da CPI-Acre. Ela se refere à violência sofrida pelos índios da região durante o ciclo da borracha, entre o fim do século 19 e início do 20.

Acredita-se que os índios isolados sejam remanescentes de grupos massacrados e perseguidos durante aquele período. Com o declínio da extração de borracha, eles voltaram a seus territórios.

"Sabemos que eles estão bem, têm comida suficiente e vivem em malocas bem cuidadas", diz Santos, da Funai, citando informações colhidas em expedições do órgão. Numa delas, em março de 2010, um avião sobrevoou uma aldeia de índios isolados, que atiraram flechas contra a aeronave. As fotos estamparam jornais do mundo todo.

Encontros

Embora a expressão índios isolados possa sugerir grupos que vivam completamente alheios ao mundo exterior, há numerosos relatos de encontros entre essas populações e índios contatados, bem como de encontros entre índios isolados e não-indígenas que habitam o entorno de seus territórios.

Muitos desses encontros resultaram em conflitos, o que rendeu aos isolados o apelido de "índios brabos" na região. Em 1986 e 1987, segundo relato do sertanista da Funai José Carlos Meirelles, o acirramento dos conflitos levou índios kaxinawá e ashaninka contatados a pedirem que o governo "amansasse os brabos".

Em resposta, a Funai criou em 1988 o Departamento de Índios Isolados, cuja missão é proteger esses povos sem promover nenhuma relação. Desde então, a política da Funai estabelece que só haverá contato com esses indígenas se eles desejarem.

No entanto, têm se tornado cada vez mais constantes os relatos da presença de índios isolados em áreas ocupadas por indígenas contatados ou comunidades de agricultores e pescadores.

Em informativo publicado em dezembro de 2010 pela CPI-Acre, indígenas e ribeirinhos entrevistados dizem que índios isolados furtaram seus pertences, como roupas, utensílios domésticos e ferramentas. Os saques, segundo o informe, têm sido especialmente frequentes no município de Jordão (AC). Um deles, em 2009, ocorreu em vilarejo a cinco horas de caminhada da sede da prefeitura.

Também na publicação da CPI-Acre, Getúlio Kaxinawá, um dos principais líderes indígenas do rio Jordão, relata a morte de um "brabo" por caçadores não-índios, em 2000. "Sei também que em maio de 1996 os brabos mataram duas mulheres lá na colocação Tabocal (...), a dona Maria das Dores (47 anos) e sua filha Aldeniza (13 anos). A filha, atingida por várias flechadas, uma delas na garganta, morreu nessa colocação e a mãe, com uma flechada na barriga, só morreu quase dois meses depois num hospital de Rio Branco".

Kaxinawá relata ainda um ataque dos "brabos" que resultou na morte do dono de um seringal, em 1997, e de ofensiva empreendida pelo grupo contra uma comunidade de não-índios: "Cercaram a sede do (seringal) Alegria, fazendo muito medo a todos os moradores de lá. Eles também cercaram e flecharam uma escola lá no alto Tarauacá e depois a maioria dos moradores se retirou de lá por causa da vingança dos brabos".

Exploração de petróleo

Além das ameaças impostas pelas estradas, por madeireiros e traficantes, ONGs alertam para os riscos da exploração petrolífera na região fronteiriça. No lado peruano, vários lotes já foram cedidos a empresas privadas para a prospecção dos bens.

A ONG Survival International afirma que o governo peruano está permitindo que as empresas avancem sobre territórios de índios isolados, violando diretriz da Organização das Nações Unidas (ONU) que defende a proteção dessas áreas.

A organização diz que, em 1980, ações semelhantes provocaram a morte de quase metade dos membros do povo nahua. À época, funcionários da Shell abriram caminhos na terra indígena em que a comunidade vivia isolada, disseminando doenças entre seus integrantes, segundo a ONG.

Também há preocupações quanto à exploração de petróleo e gás do lado brasileiro. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) deve concluir neste ano testes sísmicos para avaliar a viabilidade de extrair os recursos.

FONTE: BBC Brasil

quarta-feira, 18 de abril de 2012

São Paulo é a 4ª cidade com mais índios


Apesar de ter registrado redução em sua população indígena nos últimos 10 anos, São Paulo ainda é a 4ª cidade do País com mais índios entre seus habitantes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são cerca de 13 mil vivendo na metrópole, ante 18,7 mil contabilizados em 2000.
Com a redução, a população indígena do município passou a representar apenas 1,6% do total do País - antes, eram 2,5%. Mas em relação ao Estado de São Paulo, a representatividade da cidade aumentou ligeiramente - agora abriga 31% do total de índios, ante 29,3% em 2000.
Excluindo São Paulo, as cinco cidades que mais têm habitantes indígenas são do Estado do Amazonas. Os municípios são São Gabriel da Cachoeira (29 mil), São Paulo de Olivença (15 mil), Tabatinga (14,9 mil), Santa Isabel do Rio Negro (10,9 mil) e Benjamin Constant (9,8 mil).
Completam a lista dos dez primeiros Pesqueira (PE), Boa Vista (RR), Barcelos (AM) e São João das Missões (MG). Essas cidades, segundo o Censo 2010, concentravam 126,6 mil indígenas, o que corresponde a 15,5% da população indígena nacional.
Em termos de proporção da população indígena na população total dos municípios, o maior percentual foi encontrado no município de Uiramutã (RR), 88,1%. Na área urbana, o município de Marcação (PB) se destacou com 66,2% de população indígena; na área rural, foi São Gabriel da Cachoeira, onde 95,5% dos residentes nessa área são indígenas.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Paua Nova Giné: A impressionante reação de uma tribo ao encontrar pela primeira vez um homem branco




Via blog Regulae Fidei


Apesar destas imagens serem de 1976, são interessantíssimas. Resolvi postar aqui no blog a título de reflexão sobre o papel missionário da igreja. As imagens a seguir mostram o primeiro contato de uma tribo da Papúa Nova Guiné com um homem branco. A tribo chama-se Toulambi e as reações ao ver um homem branco são emocionantes. 
Assista:





Coloquem-se na situação deles, pensando como seria ver homens com a cor totalmente diferente… mas igualzinho a vocês, pela primeira vez na vida. Eles passam a mão e sentem os músculos dele para acreditar que é um homem igual a eles por baixo daquela pele branca. Depois a reação mais engraçada é ao serem apresentados a um espelho. São 15 minutos que passaram muito rápido, impressionado com a curiosidade e coragem desta tribo. Reflita um pouco... e perceba a necessidade destas pessoas de conhecerem o Deus vivo e verdadeiro.



sexta-feira, 6 de abril de 2012

Entenda a crise no Mali

Civis fugiram dos combates na  região norte e foram para a capital do Mali (Getty)
Civis fugiram dos combates na região norte e foram para a capital do Mali



O Mali está enfrentando uma crise política sem precedentes, a mais grave desde que o país do oeste da África conseguiu a independência da França, em 1960.
Os rebeldes tuaregues declararam a independência de uma área no norte do Mali.

O Movimento Nacional para Libertação da Azawad (MNLA) anunciou através de seu site a declaração de independência do território, reivindicando seu reconhecimento por governos de outras nações africanas.
Mas, a União Africana já rejeitou a declaração.
O avanço dos rebeldes tuaregues sobre o norte do Mali ocorreu depois que dissidentes do Exército derrubaram o governo do país há duas semanas.
O Exército tomou o poder acusando o governo eleito de não ser severo o bastante com os rebeldes. Mas, enquanto os militares cuidavam de outros problemas, os rebeldes avançaram rapidamente.
O Mali é um dos países mais pobres do mundo e os países vizinhos ainda ameaçaram impor um bloqueio econômico ao país depois do golpe do mês passado.
Veja quem são os principais envolvidos na crise política do Mali.

O presidente derrubado do poder


Amadou Toumani Toure (AFP)
Touré ganhou o apelido de 'soldado da democracia'

Amadou Toumani Touré - o general do Exercito é visto por muitos como o homem que resgatou o Mali da ditadura militar e estabeleceu a democracia no país. Ele foi deposto da Presidência em março.
Conhecido como ATT, ele deveria deixar o cargo em abril.
Touré ocupou o poder pela primeira vez em um outro golpe, em 1991, derrubando o líder militar Moussa Traore. As forças de segurança tinham matado naquela época mais de cem manifestantes pró-democracia.
Ele entregou o poder aos civis no ano seguinte, o que fez com que Touré ficasse conhecido como "soldado da democracia".
Em maio de 2002, Touré venceu as eleições presidenciais e, em 2007, foi reeleito.
Nascido em 1948, Touré não tem um partido oficial e sempre tentou conseguir o apoio do maior número possível de grupos políticos do país.
Ele ainda está em liberdade e provavelmente está na capital, Bamako, ou nas proximidades.

O líder do golpe


Amadou Sanogo (AFP)
Sanogo é descrito como carismático, porém brusco
O golpe do dia 21 de março parece ter sido espontâneo, surgido de um motim no acampamento militar de Kati, a cerca de dez quilômetros do Palácio Presidencial em Bamako.

Foi liderado por um oficial de média patente do Exército, capitão Amadou Sanogo, um dos poucos que não fugiram do acampamento de Kati quando o motim começou.
Sanogo, que tem mais de 35 anos, é de Segou, a segunda maior cidade do Mali, a cerca de 240 quilômetros ao norte de Bamako. O pai de Sanogo era enfermeiro no centro médico da cidade.
O jornalista Martin Vogl, em Bamako, descreve o militar como um homem carismático e simpático, porém de modos um pouco ásperos.
Sanogo passou toda sua vida profissional no Exército do Mali e teve parte de seu treinamento nos Estados Unidos.

Os rebeldes tuaregues


Rebeldes do MLNA (Foto de arquivo tirada do site do grupo rebelde/AFP)
MLNA quer a independência da região norte do Mal
O Movimento Nacional para LIbertação da Azawad (MNLA) e o grupo Ansar Dine Islâmico são os dois maiores grupos tuaregues envolvidos na ocupação do norte do Mali.
Outros grupos menores afirmam que também participaram dos combates.

Apesar de ter objetivos diferentes, o MNLA e o Ansar Dine se unem de vez em quando e isto aconteceu na captura da cidade de Timbuktu, na região norte. Mas segundo Martin Vogl, existem tensões entre os grupos.
O MNLA quer a independência para sua região, que chama de Azawad.
Uma declaração divulgada pelo MNLA afirma que agora que estão controlando o norte do país, vão parar com as lutas e iniciar o "missão de defender o território de Azawad, para a felicidade de seu povo".
Duas figuras importantes no MNLA são o secretário-geral do movimento, Bila Ag Cherif, e o chefe do braço militar do grupo, Mohame Ag Najim.
Entre os membros do grupo estão tuaregues malineses que, durante a rebelião na Líbia, lutaram junto com as forças de Muamar Khadafi, quando ele tentava se manter no poder.
Depois da queda e morte de Khadafi estes tuaregues voltaram para o Mali, bem treinados e carregando armamentos pesados.
O outro grande grupo tuaregue, o Ansar Dine Islâmico, é liderado pelo ex-líder tuaregue Iyad Ag Ghali.
O grupo tem ligações com o braço da Al-Qaeda no norte da África, conhecido como a Al-Qaeda do Maghreb Islâmico.
O Ansar Dine afirma que não luta pela independência, quer que a região norte do país continue sendo parte do Mali, mas quer introduzir a Sharia (lei islâmica) em todo o país, que é, em sua maioria, muçulmano.

domingo, 1 de abril de 2012

Circuncisão Feminina na África - Pr. José Ferreira


Pr. José Ferreira
São sete horas da manhã, hoje é uma sexta-feira. Já estamos em novembro de 1.987, no final da estação chuvosa. Aqui na Guiné Bissau este cantinho gostoso da África. A chuva cai quase todos os dias de maio a outubro, produzindo um enorme lençol verde em toda a savana, ornamentando-a com flores silvestres e belas aves exóticas.
A região de Bafatá é “Chão” das tribos muçulmanas Fulas e Mandingas. Na nossa rua o movimento é incomum desde a madrugada, deixa antever que algo está para acontecer. Talvez uma cerimônia importante seguida de festa.
As mulheres africanas estão chegando a todo o momento, exibindo seus “panos novos” e os cabelos tecidos formando penteados complicados. As bailarinas trazem chocalhos em volta da cintura e dos tornozelos. Os jovens e senhores chegam com seus tambores.
Desde a madrugada ouvíamos o barulho dos pilões. São as mulheres preparando o arroz, a  mancarra e o “xebem”.
Elas pilam em três ou quatro para cada pilão, produzindo um som cujo arranjo musical foi composto, segundo eles, pelos deuses africanos.
Os movimentos que uma mulher faz ao levantar e baixar a mó do pilão leva o seu corpo a obedecer ao compasso da música, produzindo assim uma dança perfeita. A mulher africana não necessita aprender a dançar. Ela já nasce sabendo.

Traz esse conhecimento desde a sua infância. Muitas e muitas vezes ainda no ventre da mãe ou amarrada às suas costas ela dançou ou ouviu aquela música.
Está chegando a nossa casa o jovem Kebá, meu professor da língua Fula. Kebá é um moço talentoso. Possui grande conhecimento nos usos e costumes de sua tribo. É muçulmano praticante e professor da Língua Portuguesa na escola da cidade.
Com muito jeito – para Kebá não notar a minha curiosidade – lhe faço uma pergunta objetiva.
– Então, o quê está acontecendo na casa do vizinho?
Ele me responde:
– Não é nada. É apenas a festa de Mariama!
De início pensei logo que se tratava de aniversário. Mariama tinha apenas seis anos,era uma menina esperta e sadia. Quantas vezes ela ia até nosso portão e ficava conversando conosco, uma criança normal que gostava de brincar como as outras crianças e fazer de tudo relativo à sua idade.
Alguém já havia dito à ela naquele dia: Esta festa toda é para você. A pessoa mais importante, hoje, é você. Ela corria de um lado para o outro trajando seu vestido novo, meio sem jeito. Mariama sempre usava apenas trapos imundos, revelando a pobreza em que vivia.
No terreiro, espalhadas pelo chão, esteiras de juncos, várias cabaças cortadas ao meio servindo de tigelas continham certos alimentos, além de garrafões de vinho de caju. Enfim a “mesa” do banquete estava posta.
De repente ouvem-se gritos estridentes de dor profunda. Uma criança gritava e chorava ao mesmo tempo. Então seus gritos foram abafados pelo rufar dos tambores e o chocalhar das danças. Era o ponto culminante da cerimônia.
Daí em diante ouvia-se os adultos conversando e rindo, demonstrando satisfação e alegria.
O que estaria de fato acontecendo ali? Estaria aquela gente fazendo algum sacrifício humano? Tínhamos ouvido histórias de sacrifícios humanos seguidos de canibalismo entre as tribos africanas. No entanto, Kebá que percebia a nossa inquietação, disse:
– Foi apenas a Mariama que lhe botaram o ‘fanado. ’
Fanado? Sim. O que eles chamam de Pequeno Fanado nada mais é que a circuncisão feminina, algo que acontece com todas as crianças muçulmanas do sexo feminino entre quatro e seis anos de idade. Como é feito isto? Pergunto. Uma “mulher grande” – senhora de idade, com muita responsabilidade e experiência, lanceta com um bisturi de fabricação caseira, o clitóris da criança.
A finalidade principal de se botar o fanado na menina é para que elas não venham a ter prazer sexual, facilitando assim a submissão total ao homem, no caso, o seu marido.
O dever da mulher em certas tribos africanas é satisfazer sexualmente o seu marido obedecer-lhe em tudo, cuidar do campo de arroz, da horta, da casa, etc. Dar-lhe bastantes filhos e criá-los.
As mulheres ao casar, seus bens passam a pertencer ao marido, tendo posse somente de seus colares e brincos feitos de conchas marinhas, além do “pano” que envolve seus corpos da cintura para baixo. Da cintura para cima não é precisamente necessário usar roupa alguma.

Os seios à mostra servem para facilitar a avaliação masculina.
A menina africana entre dez e onze anos, quando começa a despontar seus seios sabe-se que já está pronta para casar. O homem a quem ela foi prometida, procura a família dela para providenciar a cerimônia de casamento. Por outro ângulo, os seios volumosos demonstrarão capacidade para amamentar os filhos, despertando interesse em homens para tomá-la por esposa, caso não seja prometida.
O Grande Fanado
Quando a jovem africana das tribos muçulmanas atinge de onze a dezesseis anos é levado ao Grande Fanado. Um grupo de menina vai para a selva, num lugar secreto previamente escolhido por adultos, longe dos olhares curiosos dos homens e de algumas mulheres que de algum modo escaparam do Pequeno Fanado.
É possível circuncidar jovens na idade adulta. Se esta se apresentar para o Grande Fanado e comprovado através de exame prévio que não possui a cicatriz no clitóris, então ela é circuncidada      ali mesmo, na hora.
Ao chegarem à clareira sagrada para as cerimônias do Grande Fanado, as jovens têm que se despir completamente. Suas roupas são bem guardadas, pois são impedidas de sair dali antes do término do evento.
Este segundo e último fanado demora vários dias para ser realizado. Durante todo o tempo as candidatas permanecem nuas. Uma vez ali não há lugar para arrependimento.
Ali elas aprendem como se portar sexual com o futuro marido, como obedecê-lo em tudo, agradando-o da melhor maneira, e, muitos conselhos para fazer delas esposas ideais.
Tudo o que fazem ali tem que ser dentro de um segredo absoluto. Não se comenta nada com ninguém, a não ser com outra mulher comprovadamente circuncidada.
Antes de saírem dali são feitos certos juramentos de que tudo o que aconteceu não vai cair nos ouvidos de homens ou mulheres não circuncidadas.
Para um estrangeiro obter certas informações fica mais fácil usando o sistema do “soko di bas”. Esta expressão da língua crioula quer dizer soco em baixo que nada mais é do que alguém com o punho fechado, levando-o rapidamente em direção ao baixo ventre de outra pessoa, que para se defender segura de imediato aquela mão fechada que logo se abre passando assim o dinheiro da propina.
Com um “soko di bas” de dez dólares é possível conseguir boas fotos, filmagens, entrevistas e até ouvir esses tão guardados segredos.
Somente depois de terminado todo o ensinamento é que as meninas recebem suas roupas, panos para a cabeça, miçangas de conchas, provas de que já participaram do Grande Fanado.
Voltam para suas casas, festejam com seus familiares, se sentem importantes e superiores perante aquelas que ainda não foram ao Grande Fanado.
A aula de Kebá transformou-se em exposição da cultura e costumes de sua tribo. Ele se foi. Seguiu seu caminho. 
Eu fiquei só a imaginar. Aquela inocente criança num quarto escuro, sozinha, sofrendo grande dor. Um pano apertado entre as pernas para não sangrar até a morte, com medo, sem nada entender. Enquanto isso, no terreiro, seu povo dançando, comendo e bebendo, cantando feliz, certo de ter feito e participado de algo bom e correto.
O incrível é pensar que em pleno século XXI ainda existe barbaridades como estas, cometidas contra mulheres e crianças, e o mundo evoluído em que vivemos parece contemplar tudo em silêncio porem sem saber como fazer para reverter este triste quadro que ainda perdura.

Trecho do livro Portas de Bronze, publicado pela Editora Scortecci. Mais informações AQUI.


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