segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Conheça Moçambique através de notícias


De grande importância para qualquer missionário é conhecer em profundidade os problemas e a realidade do campo onde irá trabalhar, ou onde já está. Com a internet, esta tarefa foi muito facilitada.
Neste objetivo, listamos aqui diversos sites de notícias de países específicos. Hoje focaremos Moçambique. Leia, informe-se, conheça o país e sua conjuntura.


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Entrevista com ex-muçulmana: "Há muito tempo esse Islã deixou de fazer sentido"

Mina Ahadi: 'O Islã se voltou contra os mulçumanos' (Julien Chatelin/Laif)

Fonte: Veja

A iraniana Mina Ahadi mora há catorze anos na Alemanha, mas pouquíssimos amigos sabem exatamente onde. Desde que ela criou o Conselho de Ex-Muçulmanos, entidade de apoio a pessoas que abdicaram da fé islâmica, passou a receber ameaças de morte que a obrigam a viver quase reclusa. Renunciar ao Islã é considerado entre muçulmanos uma ofensa grave, punível com pena de morte em países como o Irã, que Mina foi obrigada a deixar depois que os aiatolás tomaram o poder, em 1979. Então uma líder estudantil, ela foi perseguida pela Guarda Revolucionária, teve o marido executado e sua cabeça posta a prêmio. Conseguiu asilo político na Áustria e depois se mudou para a Alemanha, onde hoje chefia os Comitês contra a Execução e o Apedrejamento. Mina Ahadi falou a VEJA em um hotel em Colônia. 

A senhora foi uma das pessoas que mais lutaram para que Sakineh Ashtiani - acusada de adultério e, mais tarde, de participação na morte do marido - não fosse executada por apedreja-mento. Como se sentiu ao ouvi-la dizer em entrevista à televisão estatal: “Mina Ahadi, afaste-se de mim, não é da sua conta se eu sou uma pecadora”?
Sei que Sakineh está sob pressão e foi forçada a dizer isso para se salvar. Isso não me incomoda. Também seu filho foi obrigado a declarar diante das câmeras que acredita na culpa da mãe. Mas eu penso que Ahmadinejad (o ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad) vai precisar de outra vítima para demonstrar a sua força. Sakineh já está salva. Por quê? Graças à repercussão que o caso alcançou, o regime não pode mais executá-la - nem pública nem clandestinamente. O governo já está convencido disso. Apenas busca achar um meio de não sair desmoralizado do episódio. Todo esse processo, no fim, foi bom para o Irã. Chamou a atenção do mundo para a barbárie do regime. Antes do caso Sakineh, a preocupação dos países em relação ao Irã se limitava à questão nuclear.

Mas não há sinais de que o governo de Ahmadinejad esteja cedendo a essa pressão mundial. Pelo contrário, medidas recentes apontam para uma “talibanização” do regime, como a reforma curricular destinada a “livrar os estudantes da influência ocidental” e a proibição do uso de determinadas roupas e acessórios.
O Irã neste momento é um país muito instável e seus governantes estão perigosamente próximos dos mulás dos anos 80. Desde as manifestações de 2009 e a morte de Neda (a estudante Neda Agha Soltan, que, ferida por um tiro disparado por um membro da milícia islâmica, teve a agonia registrada em um vídeo que correu o mundo), o governo aumentou a pressão sobre os estudantes, as mulheres e os trabalhadores. Ele sabe que qualquer fagulha pode desencadear um incêndio. A derrubada do regime de Ben Ali (o ditador Zine El Abidine Ben Ali) na Tunísia deve fazer com que as medidas de repressão se intensifiquem ainda mais. As execuções, por exemplo, estão aumentando de maneira assustadora. E vêm sendo conduzidas de uma forma como fazia tempo não se via. Os nomes dos executados voltaram a ser publicados nos jornais oficiais. Na semana passada, eles trouxeram mais dez. Desde janeiro, a média no país tem sido de uma execução a cada oito horas.

Quais são os crimes que mais têm resultado na pena de execução?
As execuções por acusação de envolvimento com drogas têm sido muito frequentes. Há duas semanas, um jovem de 23 anos foi morto por portar 50 gramas de heroína. No início do mês, outro jovem, acusado de esfa-quear um amigo em outubro do ano passado, recebeu cinquenta chibatadas. No dia seguinte, 5 de janeiro, ele foi enforcado em praça pública. Isso se passou em Teerã - não numa vila longínqua, mas na capital do país. A TV estatal mostrou-o caminhando para a execução com as mãos amarradas e o olhar muito assustado (assista ao vídeo). Depois, um repórter entrevistou parentes da vítima e outras pessoas na multidão, perguntando o que haviam achado do que viram. Em todas as entrevistas que foram ao ar, os entrevistados declararam considerar aquela execução positiva e agradeceram ao presidente pela medida.

Execuções públicas são frequentes em Teerã?
Não, fazia muito tempo que isso não ocorria. Trata-se, claramente, de uma nova tática do regime para infundir o terror na população. As prisões estão lotadas. Há, inclusive, crianças e adolescentes aguardando fazer 18 anos para ser executados. Praticamente todos os dias eu recebo chamadas de condenados me pedindo ajuda. Ontem à noite, minha filha pediu que eu desligasse o celular: “Mãe, vamos ver um filme sossegadas. Vamos ficar pelo menos uma noite sem ouvir más notícias”. Eu desliguei o aparelho, e hoje de manhã havia sete mensagens, uma delas com voz de criança. Ela falava baixo, provavelmente porque não podia falar alto: “Por favor, por favor, atenda o telefone, eu preciso de ajuda”.

Que crime essas crianças e adolescentes cometeram?
Alguns são acusados de assassinato, outros de envolvimento com drogas. Mas os julgamentos muitas vezes se baseiam no testemunho de uma única pessoa, ou num comportamento que o estado considera criminoso, como o sexo entre dois homens ou duas mulheres. Estou em contato com a família de dois adolescentes presos porque um deles gravou no seu celular cenas de sexo que teve com o outro e as imagens caíram nas mãos da polícia. Foram condenados à morte por apedrejamento. Como acontece muitas vezes, os familiares não querem ajuda.

Por vergonha?
Para não terem sua reputação comprometida. Eles preferem que os jovens fiquem presos.

Preferem inclusive que sejam apedrejados?
Eles não querem que o caso venha a público. O pai de um desses jovens me disse: “Deixe a nossa família em paz”. Para os homens, principalmente, trata-se de uma desonra muito grande. Agora, estou tentando entrar em contato com as mães desses rapazes.

A senhora pode descrever uma execução por apedrejamento?
Ela acontece em geral ao amanhecer. A pessoa condenada tem as mãos amarradas nas costas e é envolta em uma mortalha branca. Fica totalmente embrulhada nesse pano, o rosto também. Então, é colocada de pé num buraco fundo e coberta de terra até o peito, no caso das mulheres, e até a cintura, no caso dos homens. Dependendo da condenação, é o juiz quem atira a primeira pedra. Mas pode ser também uma das teste-munhas. Se a vítima é uma mulher sentenciada por adultério, por exemplo, tanto o seu marido quanto a família dele podem lançar as primeiras pedras. A lei diz que elas têm de ser grandes o suficiente para machucar a vítima, mas não para matá-la no primeiro ou segundo golpe.

Quanto tempo ela leva?
Pode levar quinze minutos, pode levar mais de uma hora. Um médico fica no local para, de tempos em tempos, verificar se o apedrejado ainda está vivo. Até o fim dos anos 80, o apedrejamento no Irã era um ritual público - assim ordenava a lei. O horário e o local eram anunciados no rádio, nos jornais e na TV. Qualquer um podia comparecer. Mas houve alguns episódios em que as pessoas se manifestaram contra a prática. Num deles, chegaram a atirar pedras contra os mulás presentes. Em 1997, na cidade de Bukan, o apedrejamento de uma mulher acusada de adultério acabou suspenso devido aos protestos e à interferência da multidão. A mulher - seu nome é Zoleykhah Kadkhoda - foi levada ao hospital quase morta, mas sobreviveu e está viva até hoje. Depois disso, as execuções passaram a ser fechadas. Agora, a polícia religiosa é que atira as pedras.

Quantas pessoas estão condenadas ao apedrejamento hoje no Irã?
Mais de 100 pessoas já foram mortas dessa forma pelo estado desde 1979 e outras 27 aguardam na fila.

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, posicionou-se publicamente contra a prática do apedrejamento, que classificou de barbárie. Qual a expectativa que a senhora tem desse novo governo?
O que eu espero da presidente Dilma é que ela faça o que seu antecessor não fez: que condene a situação dos direitos humanos no Irã e se recuse a manter relações diplomáticas com um regime assassino como o de Ahmadinejad, a quem Lula chamava de “amigo”.

A senhora foi perseguida pelo regime do xá Reza Pahlevi por suas atividades como líder estudantil. Com a Revolução Islâmica, tornou-se alvo dos aiatolás ao liderar um movimento contra o uso obrigatório do véu...
Sim, sim, mas não há comparação. Como líder estudantil em Tabriz, tive problemas durante o regime do xá: não podia ler alguns livros, dizer algumas coisas, tinha de me apresentar de tempos em tempos à polícia, mas era, por assim dizer, um jogo com regras claras. Com Khomeini, no entanto (o aiatolá Ruhollah Khomeini, líder do movimento que, em 1979, derrubou a monarquia iraniana e instalou a teocracia no país), tudo ficou muito mais brutal. Ele criou a Guarda Revolucionária, uma milícia cruel e impiedosa, principalmente para com as mulheres. Tínhamos de escolher entre o véu e as chibatadas. Quando fizemos essa manifestação contra o uso do véu, tudo transcorreu sem incidentes. Mas, no dia seguinte, quando cheguei à faculdade onde estudava medicina, não pude entrar. Havia um soldado da Guarda com uma lista de nomes de alunos que tinham sido expulsos. Eu cursava o último ano da faculdade, já trabalhava no hospital da universidade e não pude me formar.

Foi então que a senhora se exilou na Europa?
Não. Meu marido não foi expulso como eu e continuou seus estudos de física. Eu passei a trabalhar como operária na fábrica da Pepsi e, à noite, escrevia panfletos contra o regime. Tinha uma máquina de datilografar muito velha que fazia um tremendo barulho. Era preciso vedar a porta e a janela do nosso apartamento para poder bater os textos de modo a não chamar a atenção dos vizinhos. Um dia, quando voltava da fábrica para casa, vi um membro da Guarda parado em frente ao meu prédio. Dei meia-volta e não entrei. Eles levaram meu marido e cinco outras pessoas do nosso grupo que estavam hospedadas em casa, três homens e duas mulheres. Tirando as mulheres, que foram libertadas mais tarde, todos foram executados, inclusive meu marido. Eu consegui fugir para Teerã e, de lá, fui para o Curdistão. Depois, como asilada política, morei seis anos em Viena, na Áustria. Estou há catorze anos na Alemanha.

Aqui, na Alemanha, a senhora criou um comitê para muçulmanos que renunciaram à fé islâmica, o que lhe rende ameaças de morte até hoje. O que a motivou a fazer isso?
Acredito que, como eu, muitos imigrantes de países muçulmanos vieram para cá em busca de uma vida melhor, o que inclui mais liberdade. E essas pessoas não precisam estar fadadas a viver em uma sociedade paralela, em que as crianças não podem ter amigos de outro sexo ou frequentar aulas de natação por causa de uma religião na qual, eventualmente, elas não acreditam mais. O que nós queremos é romper esse tabu, é apoiar as pessoas na decisão de libertar-se desse Islã que se voltou contra os muçulmanos.

A senhora se considera uma ex-muçulmana?
Sim, desde os 15 anos, quando deixei de fazer minhas preces. Nas últimas décadas, em muitos lugares, o islamismo tornou-se uma ferramenta de manipulação política, e não uma religião restrita à esfera privada. Há muito tempo esse Islã deix
zA iraniana Mina Ahadi mora há catorze anos na Alemanha, mas pouquíssimos amigos sabem exatamente onde. Desde que ela criou o Conselho de Ex-Muçulmanos, entidade de apoio a pessoas que abdicaram da fé islâmica, passou a receber ameaças de morte que a obrigam a viver quase reclusa. Renunciar ao Islã é considerado entre muçulmanos uma ofensa grave, punível com pena de morte em países como o Irã, que Mina foi obrigada a deixar depois que os aiatolás tomaram o poder, em 1979. Então uma líder estudantil, ela foi perseguida pela Guarda Revolucionária, teve o marido executado e sua cabeça posta a prêmio. Conseguiu asilo político na Áustria e depois se mudou para a Alemanha, onde hoje chefia os Comitês contra a Execução e o Apedrejamento. Mina Ahadi falou a VEJA em um hotel em Colônia.

A senhora foi uma das pessoas que mais lutaram para que Sakineh Ashtiani - acusada de adultério e, mais tarde, de participação na morte do marido - não fosse executada por apedreja-mento. Como se sentiu ao ouvi-la dizer em entrevista à televisão estatal: “Mina Ahadi, afaste-se de mim, não é da sua conta se eu sou uma pecadora”?
Sei que Sakineh está sob pressão e foi forçada a dizer isso para se salvar. Isso não me incomoda. Também seu filho foi obrigado a declarar diante das câmeras que acredita na culpa da mãe. Mas eu penso que Ahmadinejad (o ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad) vai precisar de outra vítima para demonstrar a sua força. Sakineh já está salva. Por quê? Graças à repercussão que o caso alcançou, o regime não pode mais executá-la - nem pública nem clandestinamente. O governo já está convencido disso. Apenas busca achar um meio de não sair desmoralizado do episódio. Todo esse processo, no fim, foi bom para o Irã. Chamou a atenção do mundo para a barbárie do regime. Antes do caso Sakineh, a preocupação dos países em relação ao Irã se limitava à questão nuclear.

Mas não há sinais de que o governo de Ahmadinejad esteja cedendo a essa pressão mundial. Pelo contrário, medidas recentes apontam para uma “talibanização” do regime, como a reforma curricular destinada a “livrar os estudantes da influência ocidental” e a proibição do uso de determinadas roupas e acessórios.
O Irã neste momento é um país muito instável e seus governantes estão perigosamente próximos dos mulás dos anos 80. Desde as manifestações de 2009 e a morte de Neda (a estudante Neda Agha Soltan, que, ferida por um tiro disparado por um membro da milícia islâmica, teve a agonia registrada em um vídeo que correu o mundo), o governo aumentou a pressão sobre os estudantes, as mulheres e os trabalhadores. Ele sabe que qualquer fagulha pode desencadear um incêndio. A derrubada do regime de Ben Ali (o ditador Zine El Abidine Ben Ali) na Tunísia deve fazer com que as medidas de repressão se intensifiquem ainda mais. As execuções, por exemplo, estão aumentando de maneira assustadora. E vêm sendo conduzidas de uma forma como fazia tempo não se via. Os nomes dos executados voltaram a ser publicados nos jornais oficiais. Na semana passada, eles trouxeram mais dez. Desde janeiro, a média no país tem sido de uma execução a cada oito horas.

Quais são os crimes que mais têm resultado na pena de execução?
As execuções por acusação de envolvimento com drogas têm sido muito frequentes. Há duas semanas, um jovem de 23 anos foi morto por portar 50 gramas de heroína. No início do mês, outro jovem, acusado de esfa-quear um amigo em outubro do ano passado, recebeu cinquenta chibatadas. No dia seguinte, 5 de janeiro, ele foi enforcado em praça pública. Isso se passou em Teerã - não numa vila longínqua, mas na capital do país. A TV estatal mostrou-o caminhando para a execução com as mãos amarradas e o olhar muito assustado (assista ao vídeo). Depois, um repórter entrevistou parentes da vítima e outras pessoas na multidão, perguntando o que haviam achado do que viram. Em todas as entrevistas que foram ao ar, os entrevistados declararam considerar aquela execução positiva e agradeceram ao presidente pela medida.

Execuções públicas são frequentes em Teerã?
Não, fazia muito tempo que isso não ocorria. Trata-se, claramente, de uma nova tática do regime para infundir o terror na população. As prisões estão lotadas. Há, inclusive, crianças e adolescentes aguardando fazer 18 anos para ser executados. Praticamente todos os dias eu recebo chamadas de condenados me pedindo ajuda. Ontem à noite, minha filha pediu que eu desligasse o celular: “Mãe, vamos ver um filme sossegadas. Vamos ficar pelo menos uma noite sem ouvir más notícias”. Eu desliguei o aparelho, e hoje de manhã havia sete mensagens, uma delas com voz de criança. Ela falava baixo, provavelmente porque não podia falar alto: “Por favor, por favor, atenda o telefone, eu preciso de ajuda”.

Que crime essas crianças e adolescentes cometeram?
Alguns são acusados de assassinato, outros de envolvimento com drogas. Mas os julgamentos muitas vezes se baseiam no testemunho de uma única pessoa, ou num comportamento que o estado considera criminoso, como o sexo entre dois homens ou duas mulheres. Estou em contato com a família de dois adolescentes presos porque um deles gravou no seu celular cenas de sexo que teve com o outro e as imagens caíram nas mãos da polícia. Foram condenados à morte por apedrejamento. Como acontece muitas vezes, os familiares não querem ajuda.

Por vergonha?
Para não terem sua reputação comprometida. Eles preferem que os jovens fiquem presos.

Preferem inclusive que sejam apedrejados?
Eles não querem que o caso venha a público. O pai de um desses jovens me disse: “Deixe a nossa família em paz”. Para os homens, principalmente, trata-se de uma desonra muito grande. Agora, estou tentando entrar em contato com as mães desses rapazes.

A senhora pode descrever uma execução por apedrejamento?
Ela acontece em geral ao amanhecer. A pessoa condenada tem as mãos amarradas nas costas e é envolta em uma mortalha branca. Fica totalmente embrulhada nesse pano, o rosto também. Então, é colocada de pé num buraco fundo e coberta de terra até o peito, no caso das mulheres, e até a cintura, no caso dos homens. Dependendo da condenação, é o juiz quem atira a primeira pedra. Mas pode ser também uma das teste-munhas. Se a vítima é uma mulher sentenciada por adultério, por exemplo, tanto o seu marido quanto a família dele podem lançar as primeiras pedras. A lei diz que elas têm de ser grandes o suficiente para machucar a vítima, mas não para matá-la no primeiro ou segundo golpe.

Quanto tempo ela leva?
Pode levar quinze minutos, pode levar mais de uma hora. Um médico fica no local para, de tempos em tempos, verificar se o apedrejado ainda está vivo. Até o fim dos anos 80, o apedrejamento no Irã era um ritual público - assim ordenava a lei. O horário e o local eram anunciados no rádio, nos jornais e na TV. Qualquer um podia comparecer. Mas houve alguns episódios em que as pessoas se manifestaram contra a prática. Num deles, chegaram a atirar pedras contra os mulás presentes. Em 1997, na cidade de Bukan, o apedrejamento de uma mulher acusada de adultério acabou suspenso devido aos protestos e à interferência da multidão. A mulher - seu nome é Zoleykhah Kadkhoda - foi levada ao hospital quase morta, mas sobreviveu e está viva até hoje. Depois disso, as execuções passaram a ser fechadas. Agora, a polícia religiosa é que atira as pedras.

Quantas pessoas estão condenadas ao apedrejamento hoje no Irã?
Mais de 100 pessoas já foram mortas dessa forma pelo estado desde 1979 e outras 27 aguardam na fila.

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, posicionou-se publicamente contra a prática do apedrejamento, que classificou de barbárie. Qual a expectativa que a senhora tem desse novo governo?
O que eu espero da presidente Dilma é que ela faça o que seu antecessor não fez: que condene a situação dos direitos humanos no Irã e se recuse a manter relações diplomáticas com um regime assassino como o de Ahmadinejad, a quem Lula chamava de “amigo”.

A senhora foi perseguida pelo regime do xá Reza Pahlevi por suas atividades como líder estudantil. Com a Revolução Islâmica, tornou-se alvo dos aiatolás ao liderar um movimento contra o uso obrigatório do véu...
Sim, sim, mas não há comparação. Como líder estudantil em Tabriz, tive problemas durante o regime do xá: não podia ler alguns livros, dizer algumas coisas, tinha de me apresentar de tempos em tempos à polícia, mas era, por assim dizer, um jogo com regras claras. Com Khomeini, no entanto (o aiatolá Ruhollah Khomeini, líder do movimento que, em 1979, derrubou a monarquia iraniana e instalou a teocracia no país), tudo ficou muito mais brutal. Ele criou a Guarda Revolucionária, uma milícia cruel e impiedosa, principalmente para com as mulheres. Tínhamos de escolher entre o véu e as chibatadas. Quando fizemos essa manifestação contra o uso do véu, tudo transcorreu sem incidentes. Mas, no dia seguinte, quando cheguei à faculdade onde estudava medicina, não pude entrar. Havia um soldado da Guarda com uma lista de nomes de alunos que tinham sido expulsos. Eu cursava o último ano da faculdade, já trabalhava no hospital da universidade e não pude me formar.

Foi então que a senhora se exilou na Europa?
Não. Meu marido não foi expulso como eu e continuou seus estudos de física. Eu passei a trabalhar como operária na fábrica da Pepsi e, à noite, escrevia panfletos contra o regime. Tinha uma máquina de datilografar muito velha que fazia um tremendo barulho. Era preciso vedar a porta e a janela do nosso apartamento para poder bater os textos de modo a não chamar a atenção dos vizinhos. Um dia, quando voltava da fábrica para casa, vi um membro da Guarda parado em frente ao meu prédio. Dei meia-volta e não entrei. Eles levaram meu marido e cinco outras pessoas do nosso grupo que estavam hospedadas em casa, três homens e duas mulheres. Tirando as mulheres, que foram libertadas mais tarde, todos foram executados, inclusive meu marido. Eu consegui fugir para Teerã e, de lá, fui para o Curdistão. Depois, como asilada política, morei seis anos em Viena, na Áustria. Estou há catorze anos na Alemanha.

Aqui, na Alemanha, a senhora criou um comitê para muçulmanos que renunciaram à fé islâmica, o que lhe rende ameaças de morte até hoje. O que a motivou a fazer isso?
Acredito que, como eu, muitos imigrantes de países muçulmanos vieram para cá em busca de uma vida melhor, o que inclui mais liberdade. E essas pessoas não precisam estar fadadas a viver em uma sociedade paralela, em que as crianças não podem ter amigos de outro sexo ou frequentar aulas de natação por causa de uma religião na qual, eventualmente, elas não acreditam mais. O que nós queremos é romper esse tabu, é apoiar as pessoas na decisão de libertar-se desse Islã que se voltou contra os muçulmanos.

A senhora se considera uma ex-muçulmana?
Sim, desde os 15 anos, quando deixei de fazer minhas preces. Nas últimas décadas, em muitos lugares, o islamismo tornou-se uma ferramenta de manipulação política, e não uma religião restrita à esfera privada. Há muito tempo esse Islã deixou de fazer sentido. Hoje, para mim, ele significa apenas barbárie e crueldade.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A vida de um executivo brasileiro na Líbia




Depoimento: Daniel Villar - O Estado de S.Paulo 



Era novembro de 2007 quando recebi no escritório de Buenos Aires um telefonema de Marcelo Odebrecht fazendo-me o convite para liderar o início da operação da Odebrecht na Líbia. Minha reação foi perguntar: "Onde?". Depois de escutar os detalhes do programa, o que se seguiu foi uma mistura de sentimentos conflitantes.



Por um lado, o desafio proposto era extremamente motivador, pela oportunidade de ser pioneiro na abertura de um mercado. Ainda mais em um país como a Líbia, que vive um momento histórico relevante, com a retomada do crescimento. Por outro lado, fiquei apreensivo quanto à necessidade de mobilizar minha família. Afinal, em 12 anos de experiência profissional como expatriado no Equador, Peru e Argentina, minha esposa e três filhos sempre estiveram ao meu lado. Na Líbia, país muçulmano com uma cultura tão diferente da nossa, seria prudente levá-los comigo? Qual seria a qualidade do ensino, da moradia e do atendimento médico? Seria seguro?



Felizmente, todas essas dúvidas desapareceram durante uma visita à capital, Trípoli. A cidade, com seu clima mediterrâneo, é agradável e saudável para se viver. Nossos filhos recebem uma educação de qualidade numa escola internacional onde estudam crianças de 38 nacionalidades. Vivemos com conforto e segurança numa bela casa com piscina. Além disso, os líbios são amáveis e tolerantes com os costumes estrangeiros.



Claro que algumas diferenças culturais causam um certo impacto inicial. Minha esposa anda livremente nas ruas e não precisa usar o véu, mas preferiu excluir do guarda-roupa as saias curtas e as camisas sem mangas ou decotadas. Ela sente que perdeu um pouco de sua independência porque precisa do apoio de um motorista líbio tanto para se locomover quanto para se comunicar com vendedores e prestadores de serviço. Aqui, o árabe é praticamente o único idioma falado. Nos mercados locais, encontramos de tudo, com exceção de bebidas alcoólicas e carne de porco e seus derivados (proibidos por lei). Também nos acostumamos a sair de casa sempre carregados de dinheiro, já que as transações eletrônicas ainda não fazem parte do cotidiano e o preenchimento de cheques deve ser feito em árabe. Resta apenas o pagamento em espécie - até mesmo quando compramos um carro.



Com o passar do tempo, passamos a entender melhor a cultura árabe e a religião muçulmana. Apesar de termos mais contato com outros expatriados, o convívio com os líbios nos trouxe experiências marcantes. Já estivemos em um casamento onde homens e mulheres ficam em grupos separados. Presenciei o momento em que o pai do noivo, com a intermediação de um Imam (autoridade religiosa do islamismo), negociou e assinou o contrato de casamento com o pai da noiva. Enquanto isso, minha esposa observava as mulheres solteiras desfilando sem véu, na esperança de atrair os olhares de alguma potencial futura sogra (na tradição árabe, é comum que as mães escolham as esposas de seus filhos).



Hoje, temos a certeza de que tomamos a decisão correta ao aceitar esse desafio. A vida de expatriado não é fácil, seja na Líbia ou em qualquer outro lugar, pois nos tira da nossa zona de conforto. Mas o retorno que a experiência nos traz é imensurável. Enquanto me proporciona um acelerado crescimento profissional, a Líbia também contribui para que estejamos cada vez mais maduros e unidos como família e como casal.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Nova vacina contra febre amarela terá menos efeitos colaterais

Vacina sem efeitos colaterais
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos - Biomanguinhos, da Fiocruz. deu um importante passo para o desenvolvimento de uma nova vacina contra febre amarela no Brasil.
Um acordo de cooperação assinado com o Centro Fraunhofer para Biotecnologia Molecular e a empresa iBio vai permitir a fabricação de um novo imunizante contra a doença, ainda mais seguro e eficaz, com baixo índice de reações ou eventos adversos nos pacientes.
A unidade da Fiocruz é referência internacional na produção de vacinas, reativos e biofármacos.
Vacina em plataforma vegetal
A nova vacina será desenvolvida por meio de uma planta, a Nicotiana benthamiana, espécie de tabaco cultivado por meio de hidroponia, em cujas folhas são colocados os genes que codificam a principal proteína do vírus que causa a febre amarela.
O acordo determina que a Fraunhofer, renomada em biologia molecular, compartilhe o processo de desenvolvimento, produção e purificação de uma proteína do vírus da febre amarela que atua como antígeno imunizante.
Já a realização dos testes pré-clínicos e clínicos no Brasil será feita em conjunto pelas instituições.
O diretor de Biomanguinhos, Artur Couto, avalia a parceria como um importante avanço na área de pesquisa e desenvolvimento de novos imunizantes. "O acordo abre perspectivas para que o Brasil seja pioneiro na produção de vacina contra febre amarela sem eventos adversos graves," afirmou.
A cooperação permitirá ainda aliar a competência da Fraunhofer no desenvolvimento de vacinas de subunidades recombinantes com a alta capacitação da Biomanguinhos na produção e no controle de qualidade da vacina febre amarela.
Vacina contra a febre amarela
A vacina contra a febre amarela utilizada hoje no país é produzida pelo Instituto com tecnologia 100% brasileira, e desenvolvida a partir de uma estirpe viva atenuada do vírus da doença, cultivada em ovos de galinha.
Para o diretor executivo da Franhoufer, Vidadi Yusibov, "a nova vacina vai contribuir significativamente para proteger um público mais amplo".
O presidente da iBio, Robert B. Kay, por sua vez, destaca a contribuição para o desenvolvimento do setor. "A colaboração entre Biomanguinhos/Fiocruz, Fraunhofer Center e iBio deverá colocar o Brasil na vanguarda do desenvolvimento e produção de vacinas e outros biofármacos".
A Fiocruz investirá US$ 6 milhões no projeto para que o país avance no domínio de avançados processos de produção. A previsão para o início da fase clínica 1, no Brasil e Estados Unidos, é de três anos.

Quando tomar vacina contra febre amarela
A Biomanguinhos é reconhecida internacionalmente como fabricante da vacina contra a febre amarela (antiamarílica).
Desde 1937, as preparações vacinais são obtidas em seus laboratórios a partir da cepa atenuada 17DD do vírus da febre amarela, cultivada em ovos embrionados de galinha, livres de agentes patogênicos, de acordo com as normas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde.
O Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunização, recomenda que a vacina seja aplicada a partir dos nove meses de vida, sendo importante o reforço, a cada dez anos, especialmente para quem vive ou vai viajar para regiões endêmicas.
A Organização Mundial da Saúde estima que 200 mil pessoas não vacinadas contraem a doença todos os anos e 30 mil morrem em decorrência da mesma.

Biomanguinhos/Fiocruz
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (BioManguinhos), que em 2011 completa 35 anos, é a unidade da Fiocruz responsável pelo desenvolvimento tecnológico e pela produção de vacinas, reativos e biofármacos.
Sua missão é atender prioritariamente às demandas da saúde pública nacional.
Com um dos maiores e mais modernos centros de produção da América Latina, possui atuação destacada no cenário internacional, por meio da exportação do excedente de sua produção para cerca de 70 países, por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

RELIGIÕES: Muculmanos serão 2,2 bilhões no mundo em 2030, diz estudo



Por Lenildo Medeiros 



O número global de muçulmanos deve aumentar cerca de 35% nos próximos 20 anos, passando dos atuais 1,6 bilhões para 2,2 bilhões até 2030. As projeções são do instituto de pesquisas norte-americano Pew Research Center. Segundo relatório divulgado nesta quinta-feira, 27, no mesmo período, a população muçulmana no mundo deverá crescer cerca de duas vezes mais que a das outras religiões, atingindo uma taxa média de crescimento anual de 1,5%, em comparação com 0,7% para os não-muçulmanos. Segundo o instituto, se as tendências atuais continuarem, os muçulmanos serão 26,4% da população mundial projetada de 8,3 bilhões em 2030. Em 2010, são 23,4% de 6,9 bilhões. No entanto, esse crescimento é menor do que o que aconteceu nos últimos 20 anos: de 1990 a 2010, a taxa de crescimento do número de muçulmanos no mundo foi de 2,2%.



Outros números da pesquisa revelam que, no continente americano, a projeção é de haver um aumento do número de religiosos islâmicos dos atuais 5,2 milhões para aproximadamente 11 milhões daqui a 20 anos. No Brasil, o aumento é moderado, de 204 para 227 mil, cerca de 0,1 % da população. O país está entre o grupo de 105 países do mundo com menos de 1% da população professando a fé islâmica. No outro extremo, há 32 países em que mais de 90% da população é muçulmana. Em 2030, serão 33. Na lista, Marrocos lidera com 99,9%, seguido de perto por Afeganistão e Tunísia, com 99,8%. Territórios Palestinos tem 97,5% de seus moradores desta religião. 



O estudo é parte do projeto The Pew-Templeton Global Religious Futures (o futuro das religiões globais) que analisa as transformações por que passam as religiões e o impacto destas mudanças sobre as sociedades ao redor do mundo. A metodologia utilizada inclui técnicas de ciências sociais como pesquisas de opinião, análises demográficas e políticas.






quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

MISSIONÁRIO: Informe-se e aprenda línguas através das Rádios e TVs do Mundo


Já que ontem eu dei a dica sobre jornais do mundo, hoje vou colocar links para rádios e TVs online. Na minha opinião a primeira habilidade que se deve dominar no estudo de uma língua é o da escutaOuvir música acaba sendo um dos modos mais agradáveis modos de se aprender um idioma.
Já a TV tem como grande vantagem além de você escutar, você pode ver. O que ajuda muito a reparar costumes e a linguagem corporal das pessoas. Assistir TV pela internet ainda não é muito confortável e é necessária umaótima conexão.

http://www.radios.com.br/novo/inter.htm - Links para rádios de todo o mundo, separado por país.

Para achar bons canais de TV é necessário muita pesquisa. Aqui vão links de sites que tem TV online. Há também programas para assitir TV. Eu já usei oMegacubo há muito tempo atrás. Não sei como está agora, mas até que não decepciona, não.

http://www.freeworldtelevision.com/ - Foi aonde eu consegui a conexão mais rápida. Dependendo do canal foi sem falhas. Recomendo.
http://www.livestation.com/ - Site com poucas opções e apenas com sites de notícias. Apesar disso, funcionou bem.

Bons estudos

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...