sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Remédio contra malária é sintetizado em larga escala

Peter Seeberger e seus colegas descobriram uma forma simples e de alta produtividade para sintetizar a artemisinina, a principal droga contra a malária.[Imagem: Peter H. Seeberger]
Remédio a preços razoáveis
O mais eficaz medicamento contra a malária, a artemisinina, poderá pela primeira vez ser produzida a baixo custo.
Isto significa que poderá ser possível oferecer a medicação, a preços razoáveis, para todos os 225 milhões de pacientes que sofrem de malária em todo o mundo.
Pesquisadores alemães desenvolveram um processo muito simples, com uma única etapa, para a síntese da artemisinina, o ingrediente ativo que até agora só podia ser obtido das plantas.
Artemisinina
A descoberta da artemisinina é um verdadeiro épico, digno de um roteiro de cinema, e deveu-se à abnegação de uma cientista chinesa, que encontrou a receita em um livro de plantas medicinais com mais de 1.600 anos de idade.
Até hoje, a artemisinina é o medicamento mais eficaz contra a malária, e continua sendo extraído da planta Artemisia annua, ou Qinghaosu.
Agora a história tem mais um capítulo, graças ao auxílio do oxigênio e da luz.
Biotecnologia
Ressaltando a importância da planta medicinal, Peter Seeberger e François Lévesque partiram de um subproduto do atual processo de extração da artemisinina de sua planta original.
A vantagem é que este subproduto - o ácido artemisínico - pode ser fabricado biotecnologicamente usando leveduras.
A partir daí, em uma única etapa, os cientistas produzem o princípio ativo do medicamento contra a malária.
Já existiam outras técnicas para fazer isso, mas envolvendo tantas etapas e tantos insumos que o produto final era mais caro do que a artemisinina natural.
Fotoquímica
Os pesquisadores usaram a fotoquímica - reações químicas induzidas pela luz - para ativar um grupo químico muito reativo do ácido artemisínico, formado por átomos de oxigênio - um endoperóxido.
Para que a reação fotoquímica ocorra em todo o material, em larga escala, os pesquisadores construíram um aparato no qual a luz fica no centro de um tubo, por onde corre a mistura a reagir.
Assim, a luz atinge todo o material que está fluindo à sua volta, permitindo a fabricação da artemisinina sintética em escala industrial.
Segundo os cientistas, o composto produzido poderá ser usado não apenas contra a malária, mas também contra outras infecções e até contra o câncer de mama.
A pesquisa foi financiada pela Fundação Clinton.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Médicos alertam para riscos de viagens a altitudes elevadas

Turistas que se acreditam alpinistas estão se aventurando cada vez mais por regiões acima dos 5.000 metros de altitude. [Imagem: Wikimedia/Julius Silver]

Passagem só de subida
Um número cada vez maior de turistas está se aventurando em montanhas cada vez mais altas.
A consequência mais imediata é um número igualmente maior da chamada "doença da montanha", que pode levar à morte em poucas horas.
O problema é que esses turistas acreditam ser alpinistas, mesmo sem qualquer preparo adequado, aventurando-se por regiões acima dos 5.000 metros de altitude.
Preocupados com o grande número de ocorrências recentes, dois médicos alemães criaram uma cartilha de orientação para os candidatos a montanhistas.
Eles recomendam que, em muitos casos, é melhor optar por um passeio em altitudes menores do que arriscar a própria vida em regiões tipicamente sem socorro imediato.
Doença da montanha
O chamado mal da montanha ocorre por falta de aclimatação ou por uma subida rápida demais.
O baixo nível de oxigênio nas regiões de alta montanha - acima dos 3.000 metros de altitude - pode causar sintomas dos mais diversos tipos.
Por exemplo, vômitos repentinos e dores de cabeça intratáveis com analgésicos comuns podem ser os primeiros sinais de edema cerebral.
Pessoas que passam 48 horas ou mais acima dos 4.000 metros podem sofrer debilitamento ou falhas de consciência que podem progredir para coma em poucas horas.
Por outro lado, a perda rápida de desempenho físico durante a subida, assim como uma tosse seca, são as primeiras manifestações do edema pulmonar de alta altitude.
Se a pessoa continua a subir, seu quadro avança igualmente para edema cerebral.
A doença é fatal se não for tratada rapidamente - o problema é que os locais onde o mal da montanha se manifesta nunca estão próximos de um hospital.
Sensibilidade à altitude
Os médicos Kai Schommer e Peter Bärtsch alertam que não existem testes de avaliação para a suscetibilidade de uma pessoa às altas altitudes.
Eles recomendam uma auto-avaliação que consiste basicamente em aferir a própria capacidade indo passo a passo montanha acima - mas não em uma única caminhada.
Assim, quem pretende fazer uma longa caminhada por altitudes na faixa dos 3.000 metros, deve ter testado antes sua capacidade para uma permanência similar, ainda que a um ritmo menor, um nível de altitude acima, ou seja, a 4.000 metros.
Em poucas palavras, recomendam eles, não se fabrica um montanhista ou um alpinista em um mês de férias, mas em um longo processo de treinamento, em que o candidato ascende nível por nível.
As recomendações completas, em inglês, podem ser vistas no endereço www.aerzteblatt.de/v4/archiv/pdf.asp?id=116424

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Voluntários sem fronteiras - Os Médicos Sem Fronteiras em Moçambique


Em Moçambique, país africano pobre com altos índices de contaminação por HIV, o trabalho de brasileiros voluntários da organização internacional Médicos Sem Fronteiras dá exemplo de altruísmo e obstinação.


João Correia Filho
A enfermeira Fernanda Azevedo prepara-se para atender pacientes em Lichinga, no norte de Moçambique.


Mônica Guarnieri Machado é pediatra especialista em HIV. Ela se emociona ao contar que no país onde vive e trabalha, Moçambique, no sudeste da África, cerca de 85 bebês são infectados pelo vírus todos os dias. A cifra revela a falta de políticas públicas de saúde, a carência de recursos e a miséria que assolam o país há décadas. Diante delas, a brasileira encara uma triste escolha profissional quase diária: "Se são amamentadas, as crianças correm o risco de ser contaminadas pelo HIV por meio do leite materno. Mas se suspendemos a amamentação, acabam morrendo de disenteria ou diarreia por consumirem água e alimentos contaminados." Paulista de Itapetininga, 42 anos, Mônica acostumou-se a enfrentar as adversidades africanas da sua profissão.
Ela é um dos sete profissionais brasileiros que vivem em Moçambique, atuando como voluntários da organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), fundada na década de 1970, na França, por médicos e jornalistas. Ao todo, há cerca de 100 voluntários brasileiros espalhados por diversos países, a maioria na África, todos atuando em missões que envolvem graves catástrofes naturais, conflitos armados e emergências médicas.
No caso de Moçambique, as missões da MSF começaram em 1985 e se concentram no combate à Aids, doença que atinge grande parte da população do continente africano. Embora façam parte da MSF há mais de duas décadas, os brasileiros aumentaram a sua participação nos últimos anos, sobretudo a partir de 2006, quando foi montado um escritório, na cidade do Rio de Janeiro, responsável pelo recrutamento de novos profissionais.

 João Correia Filho

Com 20 milhões de habitantes, Moçambique é o país com mais voluntários brasileiros da Médecins Sans Frontières, devido à língua comum portuguesa, à herança cultural luso-africana e ao fato de a medicina brasileira ter se tornado uma referência mundial no tratamento da Aids. Enquanto no Brasil os índices de contaminação são de 0,5% da população, em Moçambique atingem mais de 17%. Em algumas regiões, como a capital, Maputo, o índice chega a 25% e, em alguns bairros da capital, a alarmantes 36%.
O perfil de Mônica Machado se assemelha ao de profissionais que atuam em trabalhos voluntários e humanitários ao redor do mundo. A médica iniciou sua carreira em pediatria comunitária, voltada para a saúde pública. "Nunca tive a intenção de ficar rica, de ter consultório particular e de aproveitar o status que a minha profissão pode dar. Quando fiz o vestibular já sabia o que queria", explica. "Sempre partilhei da consciência social promovida pela Teologia da Libertação e pelos trabalhos missionários. Sou ligada aos movimentos sociais da Igreja, e isso já me encaminhou para esse tipo de vida", ressalta.

Como integrantes do MSF, os médicos recebem uma ajuda de custo muito aquém do que ganhariam exercendo a profissão no Brasil, sem contar o status e a possibilidade de ascensão social e econômica de que gozam por aqui. Mônica, no entanto, se diz realizada. Todos os dias, ela caminha até um centro de saúde da capital e de lá segue para postos de saúde da periferia, onde acompanha os médicos moçambicanos, geralmente um profissional por posto, orientando-os e dando suporte para casos mais graves. Atualmente há cerca de mil médicos no país. Apenas 40 são formados por ano. Moçambique ocupa um dos últimos lugares do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU: é o 165o país mais pobre das 169 nações listadas no IDH.
A 2 mil quilômetros de Maputo, em Lichinga, no norte do país, o carioca Rafael Machado, de 32 anos, infectologista com especialização em HIV, conta que durante a faculdade de medicina sempre teve a intenção de "lidar com gente". "Fui fazer infectologia, com especialidade em medicina tropical, o que me levou à saúde pública, pois a maioria das doenças tropicais ataca populações de baixa renda", conta. "Na hora de fazer a residência, deparei-me com uma vaga para atuar com o HIV. Topei na hora, pois havia envolvimento social, um peso na sociedade e um grande tabu, e eu gosto de desafios."

João Correia Filho

Rafael foi recrutado pela MSF em dezembro de 2009, e em janeiro de 2010 seguiu para sua primeira missão em Moçambique, sendo atualmente o único infectologista da região Norte do país. Além da ausência de estrutura e de equipamentos, um dos principais problemas enfrentados em Lichinga é a falta de medicamentos, que obriga muitos pacientes a abandonar o tratamento. "A maioria vive em locais distantes e não consegue voltar com frequência para buscar seus remédios. O ideal seria que levassem uma quantidade suficiente para permanecer onde vivem por mais tempo, mas não há medicamentos para isso e muitos acabam abandonando o tratamento", diz o médico.
A falta de estrutura do país encontra reflexo no cotidiano de Rafael e de sua esposa, Franciane Fardin Sacramento, 29 anos, capixaba de Vitória, que também atua como enfermeira em Lichinga. Os dois se conheceram quando trabalhavam com comunidades indígenas no Brasil. Na casa onde vivem, as pequenas headlamps, lanternas usadas em acampamentos, são dependuradas em local fixo e estratégico, nas paredes. Precisam estar à mão diante dos constantes cortes de energia elétrica que assolam Lichinga.
Assim, ao menor tremer das luzes, sabem onde encontrá-las. Os brasileiros têm um jeitinho especial para adaptar-se às adversidades.

João Correia Filho
17% dos moçambicanos estão contaminados pelo HIV
João Correia Filho

João Correia Filho
Acima, um diminuto Luiz Otávio Guimarães (de mochila preta, no centro da foto) inspeciona a conservação dos medicamentos em Maputo. No interior, as estradas precárias desafiam as visitas às aldeias.
Logística e administração

João Correia Filho
Acima, a pediatra paulista Mônica Machado.

Quando se pensa em Médicos Sem Fronteiras, um equívoco comum é achar que a organização é formada só por médicos e enfermeiras. Além deles há muita gente envolvida com a logística das missões, que permite aos médicos chegar a locais de acesso dificílimo, em condições precárias de higiene, sem água ou alimentos. Na verdade, entre os brasileiros recrutados em todo o mundo, apenas 40% são médicos.
Boa parte da equipe brasileira em Moçambique atua em áreas de organização, de logística e de coordenação dos projetos. É o caso do manauara Luiz Otávio Morais Guimarães, 36 anos, que, depois de uma carreira na área de administração e logística em multinacionais, resolveu mudar de vida e aderiu à MSF, trabalhando em países como o Maláui (vizinho a Moçambique) e a Colômbia.
A logística desafia o atendimento médico tanto quanto as doenças
"Todo mundo pensa que a MSF é feita só de médicos", diz Luiz Otávio. "Mas para um médico chegar às aldeias e atender os pacientes é preciso ter toda uma estratégia que garanta local para dormir, água potável, comida e a conservação dos medicamentos. Isso muitas vezes pode ser um grande, imenso, problema", explica o administrador.
Luiz Otávio foi para a MSF no momento que percebeu sua insatisfação com o trabalho. Mesmo trabalhando em grandes empresas, queria mudar de vida. Ao ver um anúncio da entidade em Manaus, resolveu participar do recrutamento e foi aceito. Seis meses depois desembarcava no Maláui. Antes de Moçambique, trabalhou na Colômbia, em Papua-Nova Guiné e no Estado de Alagoas, durante as enchentes de 2010, que deixaram milhares de desabrigados. Em dezembro do ano passado, mudou-se para Maputo, onde atua como coordenador de logística.
A paulistana Kelly Cavalete é outra brasileira que assumiu um cargo de responsabilidade na entidade. Formada em enfermagem, atua como uma das coordenadoras do projeto de HIV, em Maputo. Ela e o marido, Bruno Cardoso, paulista de Caçapava, 35 anos, são responsáveis por equipes que atendem pacientes de HIV nos postos de saúde da capital e prestam auxílio aos médicos que atuam no interior do país.
Kelly conta que seu trabalho é fruto de uma mudança de foco da MSF. "Quando foi criada, na década de 1970, a organização tinha como foco prestar assistência em guerras e catástrofes mundiais, geralmente em situações de emergência. Com o tempo, passou a focar também situações que exigem um trabalho mais demorado e que envolvem ações educativas e de treinamento de pessoal, como é o caso dos países africanos às voltas com altos índices de contaminação por HIV." Nesses casos, o trabalho desenvolve-se em longo prazo, pois trata-se de uma doença que exige acompanhamento constante.
Kelly e Bruno conheceram-se na Amazônia. Participaram de diversas missões da MSF, em vários países, antes de decidir virar um casal e de ter um filho, Madou, que vive com eles em Maputo. Atualmente, a enfermeira brasileira está grávida do segundo filho.

Afinidades eletivas
Embora esteja a mais de 8 mil quilômetros do Brasil, Moçambique tem muitas coisas em comum com nosso país. O gosto pela música, pela dança, pelo futebol, e a alegria contagiante do povo, mesmo com os graves problemas que enfrenta, fazem parte do jeito de ser do moçambicano e do africano em geral. Outro ponto em comum, naturalmente, é o idioma, trazido pelos portugueses no século 16. A população fala dezenas de línguas autóctones, mas o português é o idioma oficial.
João Correia Filho
Mosquiteiros contra a malária, em Maputo. Abaixo, a alegria contagiante das mulheres da aldeia de Sabura.
"Na prática, entretanto, descobre-se que há muita gente que não fala português, sobretudo conforme se afasta da capital", diz a infectologista paulista Júlia Chagas Schmidt, de 33 anos, que atua em Maputo. "Muitas vezes achamos que os pacientes estão entendendo o que perguntamos durante uma consulta, pois respondem com um aceno de cabeça, mas muitos não falam nem entendem português e têm vergonha de confessar. Temos que perceber prestando atenção a sutilezas", explica a médica.
João Correia Filho
A alegria é a vitamina da celebração da vida contra a adversidade
Júlia chegou a Moçambique para um período de seis meses, tendo passado antes pela Índia, sua primeira missão na MSF. A experiência, de junho de 2009 a maio de 2010, fortaleceu sua ética profissional. "Fui para a MSF porque o que mais gosto é o atendimento clínico. É sempre uma nova descoberta, sempre se aprende. Com o tempo você começa a entender culturalmente algumas doenças, começa a ver muito mais no rosto das pessoas", explica Júlia, que chama a atenção na capital por sua altura, a pele branca e os cabelos louros curtos.
Já a enfermeira paulista Fernanda Cândido de Azevedo, atualmente em sua primeira missão no MSF, tem outra justificativa para a escolha: "Percebi que queria experimentar essa vida quando aconteceu o tsunami na Indonésia, em 2004. Senti o mesmo na tragédia do terremoto do Haiti, em janeiro de 2010. Fiquei com vontade de ir para lá, para ajudar de verdade", conta.
Pesquisando na internet, Fernanda deparou- se com uma reportagem sobre organizações humanitárias. "Estava querendo me reencontrar, queria dar um sentido para a minha vida, crescer como pessoa, e aquele anúncio me soou como ideal para seguir esse caminho", diz a enfermeira, que, após uma difícil seleção, foi chamada para atuar em Moçambique.
Fernanda é testemunha das dificuldades no interior do país. Assim como Rafael e Franciane, ela vive em Lichinga, atuando em um projeto chamado Profilaxia de Transmissão Vertical, que atende mulheres grávidas portadoras de HIV e busca evitar a transmissão da doença para o feto. Visita comunidades distantes, onde a língua do colonizador quase não deixou marcas. Distribui medicamentos, cartilhas, cartazes e fornece orientação periódica a aldeias como Chiulaula, Lulimili e Namacula, na periferia de Lichinga. Também visita locais mais distantes, na zona rural, como Sabura, que não possui energia elétrica para preservar os medicamentos. Nesse caso, os pequenos geradores de energia movidos a óleo, fornecidos pela MSF e por outras entidades humanitárias, são a chave da sobrevivência.
Há muitas dificuldades, mas também há momentos encantadores e mágicos. Pessoalmente, não precisei de muito tempo para descobrir ao que a enfermeira Fernanda se referia. Enquanto visitava a comunidade de Sabura com a brasileira, fomos surpreendidos por uma aglomeração ruidosa de gente atravessando a pequena aldeia de casas de barro e palha. A música e os tambores imediatamente dominaram o ambiente.
Encenava-se a tradicional cerimônia de posse do régulo, o chefe da aldeia. Enquanto os rapazes tocavam, as mulheres cantavam e dançavam. Nossa presença intensificou a empolgação. Quando os moçambicanos olham nos olhos, transmitem alegria de viver. Não há tragédia sem júbilo. A alegria é a vitamina da celebração da vida contra a adversidade.


Médicos Sem Fronteiras no Brasil - http://www.msf.org.br/

domingo, 15 de janeiro de 2012

Uma tragédia indígena

http://revistaepoca.globo.com


Pistolagem, homicídio, suicídio, desnutrição, alcoolismo, racismo, narcotráfico, desmatamento e falta de terra. A expectativa de vida do maior grupo indígena do país é de 45 anos, só comparável à do Afeganistão

RICARDO MENDONÇA, DE DOURADOS (MS), E MARIANA SANCHES

Na margem da BR-463, entre Dourados e Ponta Porã, no sul do Mato Grosso do Sul, a indiazinha Sandriele, de 2 anos de idade, passa o dia inteiro deitada num colchão velho e apodrecido sob a lona de uma barraca escaldante. O acampamento chama Apikay. Com uma dúzia de barracos parecidos, fica na estreita faixa que separa a cerca de um canavial do acostamento da rodovia. A família inteira de Sandriele vive há oito anos ali, sustentada pelas cestas básicas doadas pelo governo. A líder religiosa do grupo, a índia Damiana, reivindica a mata que fica exatamente do outro lado da rodovia, a poucos passos do acampamento. Ela, filhos, netos e agregados passam os 365 dias do ano totalmente desocupados, apenas olhando para o local que julgam sagrado. E ouvindo o barulho irritante dos carros, ônibus e caminhões que passam a mais de 100 quilômetros por hora. “Meus pais e meus avós estão enterrados ali”, repete, cercada de crianças, olhando para o outro lado da pista. Nas três visitas que ÉPOCA fez ao acampamento, sempre durante o dia, índios adultos da família de Damiana e Sandriele pareciam alcoolizados. Em setembro de 2009, as barracas foram incendiadas por gente estranha ao grupo e um índio foi baleado. O procurador Marco Antonio Delfino, do Ministério Público Federal (MPF), trata o ataque como “tentativa de genocídio”.
Índios mensagem (Foto: reprodução)
Ameaças, tiros, espancamentos e assassinatos são apenas uma das manifestações do estado precário em que vivem os índios da etnia guarani-caiová. Espalhada por Dourados e pouco mais de 20 municípios ao redor, trata-se da maior população indígena do país, entre as 220 etnias conhecidas. São 45 mil pessoas instaladas na periferia das cidades médias, em alguns fundões de fazendas produtoras de soja ou cana, em barracas de lona improvisadas em beiras de rodovia e em várias pequenas áreas demarcadas como ilhas que, somadas, totalizam 42.000 hectares. Se todos os guaranis-caiovás estivessem concentrados num mesmo local, essa cidade indígena teria uma população maior que 89% dos municípios brasileiros. Os indicadores sociais e de violência dessa população, reunidos pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica, são os seguintes:
· com a segunda maior população indígena do país, Mato Grosso do Sul é o Estado líder em assassinato de índios. Ganha da soma de todos os outros juntos. Nos últimos oito anos, ocorreram 250 homicídios de indígenas no Estado, ante 202 no resto do Brasil. Quase todas as vítimas eram guaranis-caiovás;

· entre os guaranis-caiovás há um absurdo índice de suicídios. Entre 2003 e 2010, 83% dos suicídios de indígenas foram cometidos por indivíduos desse grupo (176 casos, ante os 30 no resto do Brasil). Na história recente da etnia também há registros de suicídios de crianças, algo raríssimo em qualquer lugar;

· a fome ainda assombra os guaranis-caiovás. Em 2005, houve um surto de mortes de crianças por desnutrição. Agora, a carência é mascarada pela distribuição de cestas básicas pelo governo. A Funai estima que 80% dos guaranis-caiovás dependem delas para sobreviver. A mortalidade infantil é de 38 óbitos para cada 1.000 nascimentos, ante a média de 25 no resto do Brasil;

· tudo somado, a expectativa de vida de um guarani-caiová é de 45 anos, ante 73 dos brasileiros em geral. É um padrão igual ao do Afeganistão, país que, no último relatório das Nações Unidas, apareceu na 8ª pior posição numa lista de 195. Apesar de viver situação de guerra, um iraquiano nascido hoje deverá viver 14 anos a mais que um guarani-caiová. Um bebê haitiano viverá 16 anos mais.
Além do Cimi, do MPF e de antropólogos, a tragédia dessa população já foi denunciada por diversos organismos internacionais, como a ONU e a organização Anistia Internacional. Não se trata de um problema desconhecido das autoridades brasileiras. Pouco depois de deixar o Ministério do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (PV-AC) enviou uma carta ao então presidente Lula alertando sobre o “grau extremo da crise humanitária” na região. Igualmente enfática tem sido a vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat. Ela já classificou a situação como “a maior tragédia conhecida na questão indígena em todo o mundo”.
A causa essencial da violência na região é produto de um conjunto de erros históricos cometidos pelo Estado brasileiro. Entre 1915 e 1928, ignorando o modo de vida dos guaranis-caiovás, o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), depois substituído pela Funai, demarcou oito pequenas reservas no sul do Estado. Dizia que esses espaços seriam suficientes para abrigar índios de diferentes etnias e grupos familiares que viviam espalhados pela região. As oito áreas somam 18.000 hectares. “Misturaram grupos diferentes, afastaram outros de seus locais sagrados, os tekohás (lugar de nascer e morrer na cultura guarani). Isso gerou e continua gerando muitos conflitos entre os próprios índios”, diz a antropóloga Lucia Helena Rangel, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
EM ALERTA Um índio faz guarda do acampamento Guaiviry, no município de Aral Moreira. Ele segura uma peça que era usada pelo cacique Nizio Gomes, desaparecido há 15 dias (Foto: Filipe Redondo )
Dentro das oito áreas, o SPI impôs regras de conduta militar, criou milícias indígenas, apoiou o ingresso de missões evangélicas e favoreceu índios da etnia terena, em detrimento dos guaranis-caiovás, na distribuição de lotes e na hierarquia das instituições.
Ao mesmo tempo que procurava aculturar os índios, o governo decidiu colonizar a região, incentivando a migração de fazendeiros de outros Estados com a farta distribuição de títulos de propriedade. Essa política começou logo após a Guerra do Paraguai, no fim do século XIX, e ganhou força no primeiro governo Getúlio Vargas (1930-1945), quando lotes de 30 hectares foram largamente distribuídos. Grande parte dessa reforma agrária foi feita em terrenos tradicionalmente ocupados por índios.
E é aí que reside a grande particularidade do litígio indígena no Mato Grosso do Sul. Ao contrário do que ocorre no norte do país, onde muitas terras foram griladas, os fazendeiros da região de Dourados têm títulos legítimos de propriedade. Esse fato, alicerce da defesa dos produtores rurais, não é questionado nem pelos mais aguerridos militantes da causa indígena. “Os proprietários aqui têm títulos, alguns centenários”, diz Eduardo Riedel, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul).
No início, com baixa densidade populacional, matas extensas e propriedades rurais ainda pequenas, os conflitos entre índios e fazendeiros eram pontuais. Nem todos os guaranis-caiovás foram removidos para as oito reservas. Muitos continuaram na mata, conviviam e recebiam pequenos favores dos fazendeiros. “Entre as décadas de 1950 e 1980, na implantação das fazendas, vários guaranis-caiovás trabalharam na derrubada do mato da região que habitavam”, escreveu o antropólogo Tonico Benites, caso raro de guarani-caiová com formação superior – hoje ele faz doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Nas últimas duas décadas, tudo mudou. Com o desmatamento geral, o agigantamento das propriedades e a mecanização, índios que ainda estavam na mata foram espremidos nos fundões das fazendas ou obrigados a mudar para uma das oito reservas que, àquela altura, já estavam superpovoadas. Um levantamento citado por antropólogos dá ideia da brutal transformação ocorrida na região nas últimas décadas. Nos anos 1970, na cidade de Ponta Porã, divisa com o Paraguai, havia cerca de 450 madeireiras em operação. Hoje, há duas. A atividade praticamente deixou de existir, porque não há mais mato para cortar. Quem percorre as rodovias da região vê quilômetros e quilômetros planos de soja, cana e pasto, interrompidos só por tufos de mata, a reserva legal de 20% que toda fazenda precisa ter.
A partir daí, a situação dos guaranis-caiovás começou a se deteriorar de forma acelerada. Diversas famílias que temiam ir para as reservas, ou não queriam se afastar muito de suas áreas tradicionais, passaram a montar acampamentos em beiras de rodovia – é o caso da família de Damiana. São os locais onde a miséria se torna mais evidente.
Outras decidiram retornar à área tradicional. “Quem não suporta ficar na beira de rodovia ou confinado na reserva superpovoada tenta reocupar seu tekohá”, diz o cientista político Egon Heck, do Cimi. Tratados como invasores pelos fazendeiros, esses índios procuram ir para o que restou de mata na fazenda. É o caso do grupo Laranjeira Nhanderu, até pouco tempo atrás acampado na calha da BR-163. Depois de duas mortes de criança por desnutrição, duas por atropelamento e dois suicídios, o grupo de uns 100 índios atravessou cerca de 1 quilômetro de soja até atingir a mata onde tentam se organizar. Há alguns dias, finalizaram a estrutura de sua casa de reza. O próximo passo é fazer a cobertura de sapê. O caso está na Justiça.
Dos anos 1980 para cá, o governo demarcou, de forma fragmentada, outros 24.000 hectares para os guaranis-caiovás, somando os atuais 42.000 hectares da etnia. É pouco quando se compara esse total à área reservada para outros povos, mesmo dentro do Mato Grosso do Sul. Na região centro-oeste do Estado, cerca de 3 mil índios cadivéus estão numa reserva de 538.000 hectares. Enquanto cada guarani-caiová possui, em média, 0,9 hectare; cada cadivéu dispõe de 179 hectares. A própria história dos cadivéus é prova de que o atual problema dos guaranis-caiovás tem origem em erros do passado. Conhecidos como índios cavaleiros, os cadivéus garantiram os limites de sua terra num ato assinado por D. Pedro II em agradecimento ao apoio que deram às tropas brasileiras na Guerra do Paraguai. Hoje, vivem bem melhor que os guaranis-caiovás.
POR DENTRO DA RESERVA DE DOURADOS 1. Criança em córrego sujo da reserva 2. O pastor Teodoro  da Silva, da etnia terena 3. Pedreira que faz explosões ao lado da reserva. 4. Igreja Jesus é o Caminho, uma das 38 do local 5. Vila olímpica abandonada  6. A índ (Foto: Filipe Redondo )

Índios3 (Foto: reprodução)

A maior concentração de guaranis-caiovás está na reserva de Dourados, a mais problemática das oito demarcações iniciais. A dez minutos do centro da cidade, o local virou numa espécie de favela indígena, com abundante histórico de degradação social. São 3.500 hectares para 14 mil índios, de 40 grupos familiares das etnias guarani-caiová e terena. Estima-se que 10% a 15% das famílias tenham problemas com álcool ou outras drogas (o mapa e as imagens acima dão uma ideia da vida na reserva). O local é palco de denúncias de estupro e até de venda de crianças. Antigamente, o policiamento era feito por uma milícia indígena tutelada pela Funai, cuja atuação era manchada por acusações de abusos. “Quando as milícias deixaram de existir, em 1988, ficou um limbo jurídico que deixou a área totalmente desguarnecida”, diz o procurador Delfino. “A polícia do Estado dizia que não poderia entrar na área federal. A PF dizia que sua função não era fazer patrulha.” Esse vácuo, somado à relativa proximidade com o Paraguai, tornou a reserva atraente para o narcotráfico. Somente neste ano o MPF conseguiu firmar um convênio com a PF e a Força Nacional para a realização de patrulhas diárias.
Os moradores mais antigos reclamam que a cultura indígena vem perdendo espaço. Um levantamento da pesquisadora Graciela Chamoro identificou 38 locais de culto evangélico na área. A mais forte, dizem os moradores, é a pentecostal Deus é Amor. Outra reclamação é contra a presença de uma pedreira a cerca de um quilômetro de uma das extremidades da reserva. A índia rezadeira Floriza Silva diz que seu companheiro perdeu parte da audição por causa das explosões. A casa de reza da família desmoronou, incidente que todos atribuem aos abalos do solo. Hoje, só restam os pilares. Um levantamento do MPF mostrou que a licença da pedreira é regular.
À beira da rodovia MS-156, que corta a reserva de Dourados ao meio, é possível encontrar crianças brincando num córrego sujo, que, além do esgoto, pode receber agrotóxicos escoados de plantações de soja. “Não sei se isso faz mal”, diz a tia de uma delas enquanto observa. Uma das maiores mostras da desconexão entre as demandas do local e as iniciativas do poder público foi a construção de um centro olímpico indígena, ao custo de quase R$ 2 milhões. A instalação, com placa do governador André Puccinelli (PMDB), tem quadra coberta, vestiários, campo de futebol, pista de corrida asfaltada e esculturas coloridas de enormes flechas fincadas no chão, representação que guarda pouca relação com a cultura guarani-caiová. Entregue há menos de um ano, a vila permanece abandonada. Os índios dizem que jamais foram consultados sobre sua construção. “Acho que era melhor aplicar esse dinheiro na saúde, na educação ou na agricultura, né?”, diz o índio Estevam Martins, que tem uma casa ao lado. Enquanto a vila era terminada, o MPF acionava judicialmente a prefeitura de Dourados por não ter aplicado R$ 1,8 milhão enviado pela União para programas de saúde na reserva.
Até hoje ninguém sabe mapear os limites das áreas originalmente ocupadas pelos guaranis-caiovás. A Constituição de 1988 diz que todas as áreas indígenas do país deveriam ser identificadas, delimitadas e demarcadas pelo governo em cinco anos. Como apenas uma parte residual disso foi feito no caso dos guaranis-caiovás, o MPF processou o governo pela demora. O resultado, em 2008, foi a criação de seis grupos de trabalho compostos basicamente de antropólogos. Eles deveriam esquadrinhar 26 municípios para identificar e delimitar o território indígena, além de fazer um levantamento fundiário para encontrar os proprietários das áreas.
Os relatórios dos grupos de trabalho, que deveriam ter sido entregues em abril de 2010, não foram integralmente concluídos até hoje. Diversos produtores, temendo perder suas terras, entraram na Justiça para bloquear os trabalhos. De acordo com a Famasul, nos 26 municípios estão 30% dos estabelecimentos agropecuários do Estado, que, juntos, produzem 25% do Produto Interno Bruto sul-matogrossense. Nas cidades, o clima foi de histeria. Espalharam-se boatos de que todas as 26 cidades seriam integralmente desapropriadas. Até uma associação de padeiros se manifestou contra. Fazendeiros no extremo norte do Estado, a centenas de quilômetros da área em disputa, começaram a se armar para expulsar os guaranis-caiovás de suas terras. Com o alvoroço e o aumento da violência, os antropólogos interromperam os estudos alegando falta de segurança. Uma pesquisadora diz que uma espingarda foi apontada para sua cabeça durante uma visita de reconhecimento.
“Com o pânico da população, o racismo contra os índios ficou explícito”, diz o juiz Antônio Braga Júnior, auxiliar da presidência do Conselho Nacional de Justiça, órgão que criou uma comissão para tentar destravar os 126 processos judiciais entre indígenas e fazendeiros na região. “Ele são vistos como párias na sociedade, não recebem a efetiva proteção e são discriminados na busca por empregos, vagas em hospitais e outros serviços.” A geógrafa Juliana Mota, que leciona numa escola indígena enquanto conclui seu mestrado, dá um exemplo de como o preconceito se manifesta. “Sabemos que há restaurantes que compram mandioca dos índios porque é mais barato, mas não divulgam com medo de perder clientes”, diz.“Alguns falam para o índio não entregar o produto no restaurante, pois não querem que os índios sejam vistos por lá. Pedem para entregar em casa.” Nas cidades, muitos se referem aos guaranis-caiovás como “bugrada” ou “índios paraguaios”.
No município de Rio Brilhante (MS), em maio, um grupo guarani-caiová que estava precariamente acampado na beira da BR-163 atravessou a plantação de soja e reocupou a mata que fica a cerca de um quilômetro da rodovia.  (Foto: Filipe Redondo (novembro/2011))
Numa visita a Dourados, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (PMDB) chamou os guaranis-caiovás de “índios nômades” e afirmou que a demarcação de terra indígena na região “põe em risco o direito de propriedade e afrontam a Constituição”. Completou o raciocínio com a seguinte conclusão: “Nunca vi nêgo (sic) que invade propriedade alheia produzir 1 quilo de feijão”.
Há 15 dias, o cacique Nizio Gomes, rezador do acampamento Guaiviry, no município de Aral Moreira, desapareceu. Segundo testemunhas, ele foi assassinado por pistoleiros e levado numa camionete. O crime repercutiu internacionalmente e levou uma comitiva do governo federal para a região. Há uma semana, as autoridades puderam atestar in loco o clima tenso que domina a área. Acompanhado de um grupo de índios, o secretário de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Paulo Maldos, retornava de uma visita a um outro acampamento quando foi surpreendido por duas camionetes. O ocupante de uma delas começou a pedir identificação e a tirar fotos dos integrantes da comitiva, alguns deles sob o regime especial de proteção da Secretaria de Direitos Humanos. Outro filmava a movimentação. Mais camionetes se aproximavam. Visivelmente nervoso, Maldos começou a discutir com os homens. Sem interromper a gravação, eles respondiam com ironias. Não pareciam intimidados nem com a aproximação dos agentes da Força Nacional, que garantia a segurança da comitiva. Um trecho do vídeo, gravado por um dos ocupantes das camionetes, foi enviado à redação três dias após o incidente por Riedel, o presidente da Famasul (assista abaixo).
Muitos temem pela deterioração da situação no instante que forem divulgadas as áreas que devem ser demarcadas. A previsão é que os primeiros relatórios saiam neste mês. Mais otimistas, outras autoridades envolvidas com a questão acham que poderá haver um esfriamento dos ânimos, pois, segundo as estimativas iniciais, a área total identificada (cerca de 600 mil hectares) é muito menor do que as especulações alarmistas.

A aposta para resolver o litígio é que se encontre uma via legal para indenizar os fazendeiros pelas áreas demarcadas. Seria o único jeito de contemplar os donos de títulos autênticos de terra. O problema é a lei. A Constituição só permite indenização em programas de reforma agrária ou demarcação quilombola. Para terras indígenas, presume-se a posse ancestral dos índios e da União. No Congresso, há um Projeto de Emenda Constitucional que tenta abrir a brecha para as indenizações. Na semana passada, a Assembleia Legislativa aprovou um fundo para financiar pagamentos. Parece o embrião de um acordo entre índios e fazendeiros. “Alguns proprietários aceitariam sair desde que recebessem pela terra”, afirma Riedel. “Outros, talvez não. Eles têm o direito de não vender. Mas a comoção é tanta que ninguém tem interesse em manter o conflito.”
Índios (Foto: reprodução)

Índios2 (Foto: reprodução)


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