sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Missionário: Como economizar em suas viagens ao exterior



Confira as dicas do site de VEJA para multiplicar seu dinheiro quando estiver em férias ou a trabalho no estrangeiro

Beatriz Ferrari e Derick Almeida

As convidativas cotações do dólar e euro – em 1,81 real e 2,40 reais no câmbio turismo, respectivamente – e o aumento da renda têm levado os brasileiros a gastar no exterior. Números do Banco Central comprovam esta realidade: em novembro de 2010, viajantes deixaram no exterior 1,69 bilhão de dólares. Trata-se do novo recorde para o setor. Economistas ouvidos pelo site de VEJA, contudo, alertam que condições tão favoráveis podem trazer riscos para quem planeja uma viagem. Com o real valorizado e as facilidades do cartão de crédito, o viajante pode voltar para o país com a mala cheia de produtos, lembranças – e dívidas. De  oferta em oferta “imperdível”, as pessoas podem gastar em excesso e acabar seendividando além das suas condições de pagamento.
“As pessoas têm de ter plena consciência dos sacrifícios que terão de fazer para cobrir as despesas quando retornarem ao país. É sempre bom lembrar que o começo de ano é permeado por gastos pesados ”, alerta Fábio Gallo, professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
A recomendação do especialista é lutar contra o consumo impulsivo. Para isso, porém, não é necessário transformar o prazer de uma viagem em preocupação constante com o endividamento. Alguns cuidados simples podem fazer com que a volta ao Brasil também seja tranqüila.
Confira as dicas no infográfico:
bagagem
Principais cuidados – Pechinchas podem trazer surpresas desagradáveis. Ao contratar companhia aéreas, hotéis ou agências de viagens a preços muito baixos, o cliente pode se surpreender com uma qualidade de serviço inferior às suas expectativas. Informe-se previamente sobre os detalhes do bem ou serviço adquirido, além de pesquisar o histórico de mercado da empresa e sua idoneidade. Valéria Cunha, assistente de direção da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) de São Paulo, alerta: “O consumidor deve fazer acordos com prestadoras de serviços estrangeiras apenas se tiver confiança na empresa. Do contrário, nada poderá ser feito caso o serviço solicitado seja de má qualidade”.
Alguns problemas não podem ser evitados. Exemplo disso são os atrasos em aeroportos – tanto no país quanto no exterior. A especialista do PROCON-SP ressalta que o consumidor tem direitos claros. “Passada uma hora de atraso, o viajante no Brasil tem o direito de contatar amigos e parentes às expensas da companhia aérea, além de obter esclarecimento sobre o problema. Passadas duas horas, ele pode fazer refeições. Depois de quatro horas, pode requerer acomodação e local adequado para hospedagem”, diz ela. Caso o turista tenha contratado os serviços por meio de uma agência de viagens, deve cobrar da empresa os seus direitos.
Quando há cancelamento do voo, o viajante poderá reivindicar o reembolso do valor integral pago pela passagem ou a alocação em outro voo para o mesmo destino pela mesma companhia aérea ou por outra que ofereça o mesmo serviço. Caso se sinta lesado no plano pessoal – como a perda de um compromisso inadiável –, ele poderá recorrer à Justiça contra a prestadora do serviço.
A especialista esclareceu também que o consumidor deve procurar o balcão da empresa ou o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) para efetuar sua reclamação e, assim, obter um número de protocolo. Esse código é essencial para ter suas exigências atendidas. Caso a companhia aérea ou a agência de viagem se neguem a cumprir seus deveres, o viajante deve procurar os balcões da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nos aeroportos de Guarulhos (SP) ou Brasília (DF), a central de atendimento pelo número 0800 725 4445, ou efetuar sua reclamação no site da agência.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Da universidade para a floresta: a necessidade do apoio técnico na missão entre indígenas do Brasil


Rev. Norval, missionário tradutor, da ALEM/APMT, contando história bíblica

André Filipe, Aefe!
conheça também: http://www.alumi.org.br

Recentemente, o Departamento de Assuntos Indígenas (DAI) da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) publicou um relatório1 sobre as etnias indígenas brasileiras, revelando dados importantes para a missão da igreja nacional, lançando necessidades e desafios. Dentre os 7 desafios lançados pela equipe, o sétimo deve tocar fundo no coração do estudante universitário cristão, capacitado para servir a Deus com sua profissão; este desafio aponta para um modelo diferenciado de necessidade missionária, com uma direção diferente das encontradas normalmente em institutos bíblicos e seminários:
“Em diversas atividades missionárias há necessidade de apoio técnico especializado, essencial para a qualidade da produção. Podemos citar áreas como a linguística, antropologia, missiologia, pesquisa, desenvolvimento comunitário, ações sociais, consultoria jurírica, transporte, comunicação e logística. Sem um adequado fortalecimento no apoio especializado as ações missionárias entre os povos indígenas perderão força, qualidade e oportunidade (...) Tais iniciativas especializadas multiplicam as ações missionárias e são fundamentais para boa parte do trabalho realizado”2.

A pesquisa reconhece 616.000 indígenas vivendo em terrítório nacional (52% ainda vivem em aldeamentos), divididos em 340 etnias, e 181 línguas diferentes. O relatório ainda nos apresenta dados animadores a respeito da presença evangélica entre eles, mostrando que a igreja tem caminhando e feito a diferença: “a Igreja Indígena está em franco crescimento, o que se dá a partir das relações intertribais locais, atuação missionária com ênfase no discipulado e treinamento indígena e três fortes movimentos indígenas nacionais. A presença missionária coordena mais de duas centenas de programas e projetos sociais de relevância que minimizam o sofrimento em áreas críticas, sobretudo em educação e saúde, e valorizam a sociedade indígena local. O registro linguístico, associado à produção de material para letramento, é outro vigoroso fruto das iniciativas missionárias, que se envolvem especialmente com grupos à margem do cuidado e interesse da sociedade3”.
Atualmente, 182 destas etnias possuem presença missionária, sendo que 150 possuem Igreja Indígena, e apenas 17 não possuem pelo menos um programa social ativo. Os programas sociais coordenados por missionários evangélicos somam 257 programas sobretudo nas áreas de educação (análise linguística, registro, letramento, publicações locais e tradução), saúde (assistência básica, primeiros socorros e clínicas médicas), subsistência e sociocultural (valorização cultural, promoção da cidadania, mercado justo e inclusão social), em sua maioria “subsidiados por igrejas, empresas e representantes evangélicos no Brasil4”. A conclusão é animadora: “a presença missionária está, histórica e tradicionalmente, sempre associada a iniciativas sociais e culturais, especialmente àquelas com forte valor para o povo local4”, isso porque acreditamos que “o evangelho não apenas responde aos questionamentos da alma humana, como também contribui para a sobrevivência individual, social, cultural e linguística dos povos indígenas no Brasil5”.
Apesar de todo o esforço de igrejas, ministérios e missionários, ainda há pelo menos 190 etnias sem qualquer presença missionária: “chama a nossa atenção o alto número de etnias sem conhecimento do Evangelho em áreas relativamente abertas e sem iniciativas evangélicas e missionárias6”.  Além do mais, 69 línguas não possuem a Bíblia traduzida,  10 com clara necessidade de tradução e 28 com necessidade de projetos especiais de oralidade. Sem contar que o esforço de diminuir a pobreza bíblica envolve trabalhos não só de descrição linguística e tradução, mas também, concomitantemente, projetos de educação em língua materna, valorização cultural etc.
O desafio é enorme, um grande passo a ser dado por cada um de nós: “levando em consideração as ações especializadas bem como o trabalho administrativo, logístico e pastoral que tanto precedem quanto acompanham tais iniciativas, asseguradamente seriam necessárias no mínimo 500 novas unidades missionárias para fazer frente ao presente desafio total6”.
Toda esta necessidade tem como alvo não o enriquecimento de qualquer empresa, nem pode ser mensurada apenas por seus resultados sociais e de diminuição do sofrimento humano, mas a frota missionária tem cooperado para a promoção do conhecimento da Glória de Deus entre os indígenas no Brasil. Desafio você que está fazendo uma universidade ou curso técnico, ou que ainda está prestando vestibular, a considerar seriamente fazer parte de uma das 500 novas unidades missionárias que hoje rogamos a Deus. É possível que sua área não tenha sido citada aqui, justamente porque talvez só você possa saber como sua especialidade pode ser importante no campo missionário: desafio você a descobrir isso.
Se você caminha para o fim de seu curso, e Deus tem falado fortemente com você a respeito da vocação missionária, procure mais informações, entre em contato com uma agência missionária e converse com o pastor de sua igreja. O desafio lançado pode ser um avanço decisivo para alcançar o que falta da tarefa de evangelização nacional entre os indígenas, talvez porque pessoas como eu e você resolveram responder ao chamado de Deus.
__________
1Você pode baixar o relatório completo no site: http://www.indigena.org.br
2LIDÓRIO, Ronaldo (org). Indígenas do Brasil: etnias indígenas brasileiras, relatório 2010. (DAI-AMTB), 2010, pág. 16.
3Idem, pág. 03.
4Idem, pág. 08.
5Idem, pág. 12.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Malária está se tornando resistente aos medicamentos


Malária resistente
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma campanha mundial contra a propagação da malária resistente aos tratamentos e alerta que se nada for feito a situação pode se tornar "catastrófica".
A iniciativa, anunciada em Genebra, se baseia em relatos do Sudeste Asiático de primeiros sinais de resistência à artemisinina, o principal componente usado no tratamento da malária em milhões de pacientes no mundo.
Um parasita resistente ao medicamento surgiu na zona da fronteira do Camboja com a Tailândia em meados de 2000 e é suspeito de ter-se espalhado em outras áreas do Camboja, Mianmar, Tailândia e Vietnã.
A OMS já deu início a um plano de contenção "agressivo" nos locais afetados.
A região do Delta do Mekong foi onde a cloroquina começou a falhar em 1950, antes de perder sua eficácia na África. Teme-se que o mesmo venha a acontecer com a artemisinina, a substância mais eficiente disponível contra a malária, especialmente usada na terapia combinada chamada ACT.
Resistência à artemisinina
"A terapia ACT é a referência dos tratamentos. Não é exagero para mim dizer que as consequências da resistência generalizada à artemisinina seriam catastróficas", declarou a diretora geral da OMS, Margaret Chan, em uma reunião na quarta-feira (12).
Especialistas dizem que o tempo é curto para conter ou eliminar os parasitas resistentes. "Enquanto não temos evidência de resistência fora da área do delta do Mekong, a resistência pode surgir em outro lugar e precisamos estar preparados para isso", disse Robert Newman, diretor do Programa Mundial da Malária da OMS.
Nicholas White, que pesquisou a resistência à artemisinina na região do Mekong, fez um apelo por um maior senso de urgência.
"A situação é como um câncer diagnosticado numa fase precoce, mas não sabemos se ele já se espalhou. Se não for o caso, então é possível tomar as medidas radicais para retirá-lo e curá-lo", disse.
Campanha mundial contra a malária
Na nova campanha mundial, a OMS prevê que serão necessários mais de 175 milhões de dólares por ano. Os fundos seriam utilizados para conter a resistência nas áreas de foco, para melhorar o diagnóstico da forma resistente e aumentar o acesso aos testes de diagnóstico da malária. Do total, 65 milhões seriam necessários para a pesquisa em parasitas resistentes e em novos medicamentos de substituição à terapia ACT.
Embora seja feito um grande esforço no desenvolvimento de novas classes de antimaláricos, como o NITD609, uma substância experimental desenvolvida no ano passado por uma equipe internacional liderada pela Suíça, não há previsão de outro medicamento de substituição a curto prazo, dizem os especialistas.
A campanha foi bem recebida por seus integrantes presentes em Genebra, que aproveitaram para exigir uma melhor colaboração da agência.
A OMS está, entretanto, insistindo para que todos os Estados aumentem a vigilância da resistência aos remédios, dizendo que em 2010 menos da metade - 31 dos 75 países - procederam a testes rotineiros da eficácia de medicamentos contra a malária.
Impactos da malária
A malária afeta cerca de 243 milhões de pessoas por ano, causando a morte de 781 mil, sobretudo crianças e mulheres grávidas na África subsaariana. Mas a OMS estima que o número de casos de malária caiu mais de 50% em 43 países na última década.
Um estudo recente de prevenção da malária realizado em 34 países africanos estima que mais de 730 mil vidas foram salvas, entre 2000 e 2010.
"Fizemos um enorme progresso nos últimos dez anos na luta contra a malária", disse Newman. "Ainda assim, 781 mil é um número inaceitavelmente alto para uma doença que é totalmente previsível e tratável. Esse número tem que chegar a zero".
Recursos contra a malária
O investimento anual na luta contra a malária aumentou para 1,8 bilhão de dólares, resultando um aumento rápido da prevenção e do controle da malária através de campanhas de combate aos mosquitos e modestos aumentos no acesso às terapias ACT.
Mas a verba ainda está aquém dos 6 bilhões necessários anualmente para o controle mundial da malária, diz Newman, acrescentando que nos próximos cinco anos os esforços deveriam ser mantidos no controle dos vetores - 350 milhões de mosquiteiros tratadas com inseticida na África - enquanto o progresso é feito nas áreas mais atrasadas, como o teste universal para diagnóstico de todos os casos suspeitos.
"Isso deve preservar as terapias ACT para as pessoas que realmente sofrem de malária e vai melhorar a vigilância da doença", disse Newman.
Ele também pediu mais esforços para melhorar o acesso à terapia ACT com preços acessíveis e encerrar a fabricação das monoterapias orais à base de artemisinina, mais baratas, mas consideradas ineficazes, representando "o maior risco para a propagação da resistência".
Desde 2005 que a OMS ajuda a reduzir o número de produtores, que caiu de 76 para 43, incluindo um na Suíça. Mas eles continuam explorando nichos de mercado, disse a organização.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Deficientes auditivos alcançados no Norte da África


Walter e Alzira Freire, missionários de Missões Mundiais no Senegal, atuam no apoio a deficientes auditivos, discriminados em sua cultura, por meio do Projeto Surdos do Senegal. De acordo com os obreiros, graças ao trabalho referencial naquela comunidade mais surdos foram matriculados na escola do Projeto, que tem por objetivo ajudar no ensino e desenvolvimento dos deficientes.

O ano letivo começou em setembro de 2010 e mais surdos foram recebidos para a escolarização. Famílias de várias regiões têm trazido seus filhos surdos para a escola, mudando assim a mentalidade sobre a capacidade de aprendizado deles. “Pudemos ver a alegria no rosto da família e dos alunos, o que nos trouxe muita alegria”, disse Walter Freire. 

Em outra localidade, onde o trabalho caminha mais lentamente, os missionários reativaram a associação de pais de deficientes auditivos da região. E estão trabalhando para que os familiares aprendam a linguagem de sinais ensinada na escola. Para isso, um curso será aberto para os familiares.

Os missionários da JMM esperam, para este ano, a construção do Centro de Apoio aos surdos. Entretanto, o valor pedido pelos proprietários de terrenos está dificultando o andamento do projeto. “Mas, ainda que a terra não floresça, como diz o profeta Habacuque, continuamos firmes no Senhor, sonhando seus sonhos, nos preparando melhor para o ministério. Ore conosco para que o Senhor nos dirija nesta compra. Não é simples, porque os terrenos são muito caros e os mais baratos são em lugares ainda inóspitos, e para o Centro precisamos de um lugar estratégico, onde os surdos das diferentes regiões possam vir, com transporte público funcionando. Juntem-se a nós nesse desafio de oração”, convida o missionário Walter Freire.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

IGREJAS EVANGÉLICAS BRASILEIRAS CRESCEM EM MOÇAMBIQUE


Agência Brasil

De bata africana prateada com detalhes em azul, Santiago sai do carro e sobe no palco em meio a seguranças vestidos de preto, gritos e acenos. Quando ele aparece, a multidão – formada em sua maioria por jovens – abre faixas com seu nome, agita bandeiras e manda beijos. Ele agradece e sorri de volta. Luzes e música completam o cenário.

Não se trata de ídolo sertanejo, astro de novela ou vencedor de reality show. Valdemiro Santiago é o líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. Como faz anualmente, ele veio a Moçambique para um culto de Natal e para se reunir com bispos, pastores, obreiros e seguidores da igreja, fundada em 1998 em Sorocaba (SP), depois que ele decidiu deixar a Igreja Universal do Reino de Deus, da qual foi pastor e bispo por quase 20 anos.

“Somos filhos da África e eu já morei aqui”, diz Santiago à reportagem da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), carregando uma grande Bíblia na mão direita e acompanhado da mulher. “Tenho impressão de que, quando nos juntamos, é como se as nossas raízes começassem a se manifestar. Estou muito feliz de estar aqui. Glória a Deus! Obrigado Jesus”, diz, lembrando que também irá passar pela África do Sul e por Angola.

Minutos depois, o mineiro de Palma, de 47 anos, começa o culto: “Deus vai fazer milagres hoje aqui. Você vai ver gente curada agora. Paralítico vai andar, as dores vão sumir”. Gritos são ouvidos pela plateia, que ocupa boa parte do gramado da Praça da Paz, em Maputo. Pastores acodem quem passa mal e muletas são erguidas no ar. Exatamente como na TV, nos cultos transmitidos diariamente em uma emissora moçambicana (KTV) e várias brasileiras.

A Igreja Mundial é só uma das várias denominações evangélicas brasileiras que cresceram muito na África nos últimos anos. Pelas ruas de Maputo - e de outras cidades africanas, como Joanesburgo (África do Sul), Luanda (Angola) e Praia (Cabo Verde) - é possível ver várias construções com o coração vermelho e a pomba branca que identificam a Igreja Universal do Reino de Deus (ou Universal Church of the Kingdom of God, nos países de língua inglesa). Placas nas calçadas mostram onde se reúnem os seguidores da “Deus É Amor” em Maputo, “fundada em 1962 pelo missionário David Miranda”, como indica o letreiro.

O cristianismo chegou à África com os colonizadores europeus. Em Moçambique, a religião foi trazida pelos portugueses católicos. De acordo com o 3º Censo da População (2010), 5,7 milhões dos 20,2 milhões de moçambicanos são cristãos. Cerca de 3,1 milhões são protestantes de igrejas tradicionais e 2,9 milhões são evangélicos pentecostais. O islamismo chegou antes à região, principalmente, na parte Norte do país e, atualmente, cerca de 3,6 milhões de pessoas se declaram muçulmanas. Se declaram seguidores de crenças africanas, 3,7 milhões de moçambicanos. Mas, como no Brasil, vários adeptos de uma religião não deixam de ir ao curandeiro ou de pedir proteção aos espíritos.

Durante os anos de governo socialista, o Natal foi oficialmente substituído no calendário moçambicano pelo Dia da Família. Mas, hoje em dia, árvores coloridas e bonecos de Papai Noel (chamados de Pai Natal, à moda portuguesa) vestidos para o frio voltaram a ocupar as vitrines das lojas, em meio aos 40 graus Celsius comuns nesta época do ano.

O Jesus Cristo das igrejas evangélicas chamadas neopentecostais é o mesmo; a Bíblia também. Mas cada pastor tem seu rebanho. Algumas igrejas pedem abertamente a contribuição do dízimo, obrigação de que nem mesmo os habitantes dos países mais pobres do mundo parecem estar isentos. Outras fazem questão de indicar que o foco é outro. “Aqui não se vende milagre”, diz o apóstolo Santiago, durante pregação na última terça-feira (22) em Maputo. “E quem faz milagre é Deus, não é punhado de sal grosso”.

Mesmo tentando marcar diferenças, em pelo menos um aspecto as denominações evangélicas vindas do Brasil parecem estar de acordo: o combate ao que chamam de “feitiçaria, magia negra, coisas do demônio”, que acabam associadas às práticas de curandeiros e médicos tradicionais, tão comuns em toda África.

“Não há choque de culturas”, assegura o bispo da Mundial em Maputo, Leonardo Germano, nascido no Rio de Janeiro. “Para nós, estar aqui é uma grande alegria. Não queremos comparar ou dizer qual é melhor. Só queremos levar a palavra de Deus aos que sofrem”, diz, também de bata africana, branca com elefantes azuis desenhados no tecido.

Para Fernando Mathe, porta-voz da Associação Moçambicana de Médicos Tradicionais (Ametramo), o relacionamento podia ser melhor. “Os médicos tradicionais ficam até revoltados”, afirma. “Eles não gostam de ver suas práticas, cultura de tanto tempo, serem chamadas de lixo”. Ele acredita que é possível melhorar essa situação com mais de diálogo. “Eu quero propor a eles uma grande reunião, uma conversa. Eles [as igrejas evangélicas] fazem bem ao povo, todos veem isso”, afirma, citando o trabalho social que as igrejas realizam no país. “Mas é preciso melhorar essa parte [relacionamento] conosco”.

Fernando conhece bem as diferenças entre evangélicos e médicos tradicionais: o pai dele é pastor há 40 anos. Romão Mathe passou a seguir a Igreja Cristã Zion – surgida nos anos 20 na África do Sul – depois de, segundo ele próprio, ter sido curado de uma inflamação na barriga. Como o filho, o pai de Romão também era médico tradicional. E, segundo Romão, nunca houve problemas na convivência.“Um salva com a imposição da mão; outro salva com o espírito. Mas é a mesma coisa – todos querem fazer o bem”, afirma.

“A igreja cristã tem um 'deus ciumento', mas, até agora, esse cruzamento de culturas tem sido positivo”, acredita Silvério Ronguane, chefe do Departamento de Ciências Aplicadas do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique. “É preciso manter um entendimento.”

Ele acredita que as “igrejas brasileiras” ajudam a reorganizar a vida social de muita gente que saiu do interior do país sem a família (vários empurrados pela Guerra Civil, que acabou em 1994) e perdeu suas referências. “A cultura africana funciona com base na família, clã, tribo. Os expatriados, ao vir de sua aldeia para cidade, já não têm esse conforto. Então acabam por ser as religiões de espírito pentecostal que fazem o papel que a tradição fazia, de cobertura comunitária.”

Estudioso das crenças tradicionais, Ronguane diz que os próprios curandeiros estão sendo influenciados pelas igrejas evangélicas. “Antes não se via anúncio de médico tradicional nas ruas; agora, eles existem”, afirma. “Estão bebendo do marketing agressivo [das igrejas].”

Essa “agressividade” já se reflete até no português falado na África. “Erres” e “esses” puxados, expressões no gerúndio e voz gutural são comuns nas pregações na televisão e no rádio. É preciso prestar atenção para notar se o pastor é brasileiro ou moçambicano. “Não há dúvida que as novelas e a música brasileiras [muito difundidas no país] contribuem, mas já há uma influência linguística indiscutível também por meio da religião”, diz o especialista.

http://www.jornalahoraonline.com.br/igreja/integra.php?id=11938
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