segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Contribuições Financeiras em Diversas Religiões

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Contribuição no judaísmo (CC)

1 – Fundamento teológico
A principal finalidade da contribuição no Velho Testamento era o sustento dos levitas.
Quando Israel ocupou a “Terra prometida”, cerca do ano 1200 AC, todo o território conquistado foi distribuído pelas suas tribos, excepto a tribo de Levi que não poderia possuir terra para se dedicar ao serviço do Tabernáculo e mais tarde do Templo de Jerusalém.
Todo o israelita deveria contribuir com 10% dos produtos das suas terras para o Tabernáculo e mais tarde para o Templo de Jerusalém segundo vemos em:
Levítico 27:30/32 – Todos os dízimos da terra, tanto dos produtos da terra como dos frutos das árvores, pertencem a Iahweh, é coisa consagrada a Iahweh. Se alguém quiser resgatar uma parte do seu dízimo, acrescentará um quinto do seu valor. 
Números 18:26 – Falarás aos levitas e lhes dirás: Quando tiverdes dos filhos de Israel os dízimos que vos dou como herança da parte deles, separareis a parte de Iahweh, o dízimo dos dízimos.
Deuteronómio 14:22/23 – Todos os anos separarás o dízimo de todo o produto da tua semeadura que o campo produzir, e diante de Iahwehteu Deus, no lugar que ele houver escolhido para aí fazer habitar o seu nome, comerás o dízimo do teu trigo, do teu vinho novo e do teu óleo, como também os primogénitos das tua vacas e das tuas ovelhas, para que aprendas continuamente a temer a Iahweh teu Deus.
Claro que sendo os sacerdotes levitas os funcionários do Templo, eram eles que recebiam as ofertas de todos os israelitas.
Era esta a principal contribuição dos israelitas.
Tratava-se no entanto, duma sociedade cívico-religiosa em que os sacerdotes levitas eram ao mesmo tempo autoridades civis e religiosas, pelo que esse dízimo correspondia ao que nos nossos dias os fiéis entregam às igrejas e aos seus governos.

2 – Contribuição no judaísmo dos nossos dias
Não tenho informação como os judeus dos nossos dias contribuem para as suas sinagogas, uma vez que já não há sacerdotes levitas.
Assim, deixo aqui o convite a algum israelita dos nossos dias, para nos esclarecer sobre este assunto.
Marinha Grande, Portugal
Dezembro de 2010


Contribuição no cristianismo (CC)

1 – Fundamento teológico
Ao contrário do que acontecia no Velho Testamento, não há no Novo Testamento muita informação sobre a contribuição dos crentes do primitivo cristianismo.
Pelo menos, não há passagens didácticas e normativas sobre o assunto, mas temos algumas passagens históricas ou descritivas que são suficientes para vermos que:
1) Em lugar do dízimo do VT surgiu uma contribuição espontânea, voluntária, entusiasta e alegre, como vemos em II Coríntios 9:7 Cada um dê como dispôs em seu coração, sem pena nem constrangimento, pois Deus ama a quem dá com alegria.
2) As receitas da igreja primitiva eram distribuídas por todos segundo as necessidades de cada um. Actos 2:44/45. Todos os que tinham abraçado a fé reuniam-se e punham tudo em comum; vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um.  
3) As prioridades eram as viúvas e os órfãos (num contexto histórico em que estes ficavam sem possibilidades de sobreviver), como vemos em:
Actos 6:1, Naqueles dias, aumentando o número dos discípulos, surgiram murmurações entre os helenistas contra os hebreus. Isto porque, diziam aqueles, suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária.
I Timóteo 5:16, Se um fiel tem viúvas em sua família, socorra-as; não se onere a Igreja, a fim de que ela possa ajudar aquelas que são verdadeiramente viúvas.
Tiago 1:27, Com efeito, a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.
4) Não houve a preocupação de construir edifícios religiosos. Os cristãos da Igreja Primitiva reuniam-se em suas casas.
5) Paulo trabalhava para não ser pesado à igreja, como vemos em Actos 18:3 Como exercesse a mesma actividade artesanal, ficou ali hospedado e trabalhando; eram de profissão, fabricantes de tendas.

Isto pode suscitar algumas questões:
1) Estamos perante passagens normativas, que deverão ser o padrão de comportamento dos cristãos em todos os tempos, todas as culturas, todos os países?
2) O que foi feito pelo primitivo cristianismo e dito pelos apóstolos, serve também para nós no Século XXI?
3) Trata-se somente de passagens históricas?
4) Eles tomaram essa atitude de vender as suas propriedades, porque julgaram que estava iminente a segunda vinda de Cristo?
5) Nos nossos dias, em Portugal e em muitos outros países, as viúvas idosas ou inválidas (as que são verdadeiramente viúvas, como disse Paulo em I Timóteo 5:16), ou têm direito a uma aposentação para a qual descontaram durante a sua vida activa, ou têm pelo menos uma pensão de sobrevivência, situação bem diferente do que era na época do primitivo cristianismo.
6) O caso de Paulo que exercia uma profissão secular, era caso excepcional, ou seria caso vulgar entre os apóstolos?
7) Nota-se uma certa contradição entre a afirmação que encontramos em Actos 2:44 de que no primitivo cristianismo “… punham tudo em comum…” e o conselho de Paulo a Timóteo para que fossem os próprios familiares das viúvas a cuidar delas, para não sobrecarregar a Igreja, permitindo que esta possa ajudar outras viúvas mais necessitadas.
Julgo que houve uma certa evolução no procedimento dos crentes. Inicialmente o número dos crentes permitia que tivessem tudo em comum, mais ou menos como uma continuação da situação quando caminhavam com Jesus. Esta era a situação pouco tempo depois da ascensão de Jesus, pouco depois do ano 33. Mas na carta a Timóteo, escrita cerca do ano 66, já o número de cristãos era de alguns milhares espalhados pelas várias Províncias do Império Romano. Já não era possível ter tudo em comum.    

Mas seja qual for a interpretação ou os argumentos apresentados, podemos concluir que:
1) Já não há referência às contribuições para os sacerdotes levitas nem aos dízimos no que respeita à contribuição dos cristãos. Em Mateus 23:23 e Lucas 11:42 Jesus falava aos fariseus e estas passagens nada têm a ver com a contribuição neotestamentária
2) Toda a contribuição era dada alegre e voluntariamente.
3) Não encontramos referências aos salários dos apóstolos ou outros cargos eclesiásticos no primitivo cristianismo.
4) Em Lucas 10:7 encontramos – Permanecei nessa casa, comei e bebei do que tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Este versículo tem sido utilizado por muitos pastores para justificar o seu salário. Mas este versículo não fala em pastor, mas em operário ou obreiro, como está noutras traduções. Não vejo fundamento para diferenciar o trabalho do diácono, ou do pastor, ou do presbítero, ou pregador leigo ou qualquer outro crente ao serviço da Igreja. Se relacionarmos este versículo com I Pedro 2:5 e 2:9 onde estão as bases do sacerdócio universal, será possível todos terem salário? Penso Lucas 10:7 se referia a esta situação particular, em que estavam em viagem de evangelização, longe de suas casas, como vemos no contexto deste versículo e refere-se à alimentação e alojamento.
Em I Timóteo 5:18 podemos ler – Com efeito, diz a Escritura: Não amordaçareis o boi que debulha. E ainda: O operário é digno do seu salário. Vemos pelo contexto que Paulo se referia aos presbíteros, em especial aos que se dedicavam à pregação.
Esta é a única passagem que encontrei que de maneira inequívoca se refere ao salário do pregador. Embora, para Paulo dizer isto, dá a entender que já havia quem questionasse esse salário.
Penso que é justo que o pregador que se dedica integralmente ao trabalho pastoral receba uma remuneração, mas maior certamente é o Pastor ou pregador leigo não remunerado, como foi o caso de Paulo. Nesse aspecto há ainda muitos “Paulos” dos nossos dias, que têm o seu trabalho secular e exercem o pastorado, ou até mulheres idosas que são bem úteis às igrejas, pois para o evangelismo pessoal são muito mais eficientes que qualquer pastor.

2 – Realidade nos nossos dias
Mas qual a realidade nas igrejas cristãs dos nossos dias quanto à contribuição dos crentes?
2.1 - No catolicismo o dízimo já foi praticado, mas passou à história e já nem se fala no assunto. Os fiéis contribuem livremente, sem nenhum controle da instituição, guiados somente pela sua consciência.
Pessoalmente, penso que esta atitude está correcta. Só que a rigidez do cumprimento do leccionário, na prática acabou por formar um “novo cânon” do cânon, com as passagens do leccionário, que impede o sacerdote de abordar outros temas mais de acordo com as necessidades das igrejas e nunca se fala em contribuição nos cultos dominicais. Tenho reparado que ao tirarem a contribuição, muito poucas são as notas. A grande maioria dos fiéis deita pequenas moedas. Sou a favor da contribuição livre, mas responsável e consciente, o que julgo não estar acontecendo.
2.2 -Nas igrejas evangélicas, principalmente de origem ou influência norte-americana, o dízimo é a principal doutrina, pregada em quase todos os cultos. Embora afirmando que o cristão não está sujeito à Lei veterotestamentária, abrem uma excepção ao dízimo por motivos económicos.
2.3 - Nas igrejas do protestantismo histórico, a contribuição está de acordo com os ensinos do primitivo cristianismo. É voluntária e de acordo com a consciência individual.
Mas, semelhantemente ao que acontece no catolicismo, seguem o leccionário, que tem certamente suas vantagens, mas também o inconveniente de alguns temas importantes nunca serem abordados nos cultos principais dos domingos, como é o caso da contribuição.
Esta é uma falha que por vezes tem dado origem a que a tentem colmatar com outra falta bem mais grave ao adoptar a lei veterotestamentária do dízimo, como aconteceu na maior parte das igrejas do Brasil. Até igrejas sérias e respeitáveis se desviaram da doutrina reformada inicial, ao aceitar a Lei de Moisés sobre o dízimo, por motivos económicos.
Devemos também citar o caso de igrejas que, embora afirmando que a Lei do dízimo não está em vigor, têm todo o culto baseado em passagens veterotestamentárias, sobre o dízimo como as referência às pragas dos gafanhotos e promessas de prosperidade para quem for dizimista, bem como testemunhos de prosperidade para quem der as maiores ofertas. Tal tipo de pregações têm em vista incentivar a contribuição pelo terror ou desejo da prometida prosperidade. As verbas arrecadadas são geralmente encaminhadas para os vencimentos dos pastores e construção de igrejas (edifícios).
Sobre este assunto do dízimo, temos mais informação na secção de Temas Polémicos http://www.estudos-biblicos.net/polemicos.html
Camilo – Marinha Grande, Portugal
Dezembro de 2010


Contribuição no islamismo (YA)

Zakat
Ó povo meu, não vos exijo recompensa alguma por isto (mensagem), porque a minha recompensa só procede de Quem me criou: Não raciocinais?” – Alcorão 11:51.
Um dos mais importantes princípios do Islão é que todas as coisas pertencem a Deus e que a riqueza é apenas pertença dos seres humanos em confiança.
A palavra Zakat significa “purificação” e “crescimento”. As nossas posses são purificadas apenas se pusermos de parte uma porção para os mais necessitados e, à semelhança do que acontece quando podamos as plantas, esta contenção balança e encoraja um novo crescimento.
Zakat é a quantia de dinheiro que qualquer muçulmano adulto, com sanidade mental, livre e com capacidade financeira, seja homem ou melhor, deverá pagar para apoiar pessoas com necessidades específicas.
Esta categoria de pessoas está definida na surata at-Tawba. Alcorão 9.60 As esmolas são tão-somente para os pobres, para os necessitados, para os funcionários empregados na sua administração, para aqueles cujos corações têm de ser conquistados, para a redenção dos escravos, para os endividados, para a causa de Deus e para o viajante; isso é um preceito emanado de Deus. E Deus é Sábio, Prudente.
A natureza obrigatória da Zakat está perfeitamente estabelecida no Alcorão, na Sunnah (ou hadith) e no consenso dos fiéis e dos estudiosos muçulmanos. Deus declara na surata at-Tawba: Alcorão 9:34/35 Ó fiéis, na verdade, muitos rabinos e monges fraudam os bens dos demais e os desencaminham da senda de Deus. Quanto àqueles que entesouram o ouro e a prata, e não os empregam na causa de Deus, anuncia-lhes (ó Muhammad) um doloroso castigo. - No dia em que tudo for fundido no fogo infernal e com isso forem estigmatizadas as suas frontes, os seus flancos e as suas espáduas, ser-lhes-á dito: eis o que entesourastes! Experimentai-o, pois!
A natureza obrigatória do pagamento da Zakat pelo ouro e pela prata, bem como para outros tipos de moeda, tem sido motivo de concórdia entre os muçulmanos ao longo dos séculos.
Zakat é obrigatória quando uma quantia de dinheiro (chamada nissab) é atingida ou excedida. A Zakat não é obrigatória se a quantia tida for inferior à nissab. A nissab (ou quantia mínima) de ouro ou moeda de ouro é 20 mithqal, aproximadamente 85 gramas de ouro puro. Um mithqual equivale aproximadamente a 4.25 gramas. A nissab para a prata e para moedas de prata é 200 dirhams, aproximadamente 595 gramas de prata pura. A nissab para outros tipos de dinheiro será determinada de acordo com a escala do ouro, 85 gramas de ouro puro. Isto significa que a nissab do dinheiro é o preço de 85 gramas de ouro puro no dia em que a Zakat deverá ser paga.

Quando pagar a Zakat?
1.     Passagem de Um Ano Lunar
Zakat é obrigatória quando um ano lunar passa com o dinheiro controlado pelo proprietário. Nessa altura, o proprietário precisa de pagar 2,5%(ou 1/40) do dinheiro na forma de Zakat (o ano lunar é aproximadamente 355 dias).
2.     Dedução de Dívidas
O proprietário deverá deduzir qualquer quantia de dinheiro que tenha emprestado a terceiros; depois, deverá verificar se o resto atinge a nissabnecessária e pagar Zakat por esse valor.
Se o proprietário tiver dinheiro suficiente no início do ano mas depois vir que o dinheiro aumentou (em lucros, salários, heranças, subsídios, etc.), o proprietário precisa de acrescentar esse crescimento à quantia devida no início do ano e depois pagar a Zakat do total no final do ano lunar.
Cada muçulmano deverá calcular o seu Zakat de forma individual. Na maioria dos casos, isto implica pagar, todos os anos, dois e meio por cento do seu capital pessoal.
Uma pessoa pia poderá dar as quantias que bem entender na forma de sadaqa e fá-lo-á, de preferência, em segredo. Embora esta palavra possa ser traduzida como “caridade voluntária”, tem um significado mais amplo. O Profeta Muhammad (p.e.c.e) disse: “até cumprimentar o teu irmão com uma cara alegre é caridade.”
O Profeta (p.e.c.e.) disse: “A caridade é uma necessidade para cada muçulmano”. Alguém perguntou: “E se uma pessoa não tiver nada?”, ao que o ele retorquiu: “A pessoa deverá trabalhar com as suas próprias mãos e depois dar um pouco desses lucros à caridade”. Os Sahaba (Companheiros) perguntaram ainda: “E se a pessoa não puder trabalhar?” O Profeta (p.e.c.e.) respondeu: “Deverá ajudar as pessoas pobres e necessitadas”. Os Sahabaperguntaram novamente: “E se não puder fazer sequer isso?”, ao que ele respondeu: “Deverá apelar a que outros pratiquem o bem.” A última pergunta dosSahaba foi: “E se não puder fazer isso?”. O Profeta (p.e.c.e.) disse: “Deverá evitar fazer o mal. Isso também é caridade.”

Destino da Zakat
Zakat é só para os pobres, para os necessitados, para os funcionários empregados na sua administração (da zakat, exclusivamente, quando não há voluntários), para aqueles cujos corações têm de ser conquistados, para a redenção dos escravos (no tempo em que havia escravos), para os endividados, para a causa de Deus e para o viajante.

Para construção de Mesquitas não serve o dinheiro da Zakattem de ser dinheiro proveniente exclusivamente de donativos voluntários. Os empregados das mesquitas, em princípio, são pagos pelo dinheiro proveniente de quotas mensais de sócios, de donativos voluntários (lillah), e de outros rendimentos que tenham. Os membros sociais ou administrativos da Comunidade são, na maioria, voluntários.

Lisboa - Dezembro de 2010 

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