Crença na ressurreição
O Dia de Finados tem origem no cristianismo e é celebrado oficialmente pela Igreja Católica desde o século 10.
A data marca a assimilação da fé católica pelos brasileiros, uma das matrizes da cultura nacional. "É uma especificidade da liturgia católica, que tem a crença na ressurreição", explica a antropóloga Lara Amorim, professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
"O hinduísmo e o budismo, por exemplo, sempre fazem culto aos antepassados, mas não há uma data específica como Finados para isso", lembra.
Cosmologia da cultura
Segundo a antropóloga, todas as religiões têm ritos fúnebres para o fim da vida. "Não é necessariamente um culto, mas um ritual que dá significado a alguma coisa diferente do cotidiano. A morte é um momento de quebra e os ritos dão significado a isso."
A visão de ruptura varia com a "cosmologia" de cada cultura, diz ao se referir às diferentes percepções que fundamentam as explicações sobre a vida. "Essas ideias de purgatório e paraíso, por exemplo, não existem para a umbanda e o candomblé."
Lara Amorim ainda assinala as diferenças entre o catolicismo e a cultura indígena. "Para os índios, quem morre não vai para o céu. As sociedades tribais acreditam que o espírito continua existindo, e está na natureza", lembra a antropóloga.
Segundo ela, as pessoas que morreram são vistas nos sonhos pelos indígenas e, como não existe naquelas culturas a separação entre consciente e inconsciente, há um sentimento da permanência dos espíritos entre eles.
Palavra sagrada
A antropóloga aponta que entre os fiéis das religiões cristãs são observadas variações de comportamento.
"Há diferenças na interpretação da palavra sagrada", diz ao comentar as cenas de filmes norte-americanos em que personagens, supostamente protestantes, reúnem-se como se estivessem em festa.
As diferenças podem ser vistas dentro do próprio catolicismo. "No México, por causa do sincretismo [mistura] da religião católica com as religiões pré-colombianas, a passagem de Finados é celebrada por mais tempo."
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