sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Curandeiros em Moçambique

Moçambique tem 1,5 milhão de pessoas contaminadas pelo vírus HIV. A cada ano, a Aids mata 100 mil moçambicanos. Essa nação extremamente pobre, do tamanho dos estados de Goiás, Maranhão e Ceará juntos, tem 72 mil curandeiros e apenas 500 médicos para cuidar de seus 20 milhões de habitantes. Uma legião de agências financiadoras e milhões de dólares prometidos por programas internacionais ainda não foram capazes de reverter a tendência de crescimento da epidemia. País de língua portuguesa, Moçambique é um dos parceiros do Brasil em um programa de cooperação que, sem custos exorbitantes e com muita dedicação dos seus participantes, vem conseguindo atenuar o impacto da Aids no país, que registra 218 mil novas infecções pelo HIV por ano.

A epidemia da Aids se transformou em uma fonte de lucro para os curandeiros de Moçambique, que prometem recuperar a saúde dos doentes desesperados.

Em todos os jornais há anúncios dos curandeiros – também chamados de “nyanga”, ou médicos tradicionais, que afirmam conseguir o que os médicos convencionais não conseguem.

Não só garantem curar a Aids, mas também se oferecem para obter aumentos salariais para seus clientes, resolver problemas espirituais ou mentais e solucionar questões amorosas.

O “nyanga” Kennet Mudine, que vive em um bairro periférico de Maputo, cerca de trinta minutos de automóvel do centro da capital, é um dos curandeiros mais conhecidos, devido ao grande volume de publicidade que coloca na imprensa.

Mudine recebe seus clientes, que devem tirar seus sapatos, em seu “consultório”, repleto de plantas, raízes e peles de cobras e outros animais.

Perguntado pela EFE sobre como consegue curar uma doença como a Aids, que a medicina moderna considera incurável, Mudine apontou para algumas raízes especiais, que segundo ele garantiu, acabam com a doença.

“Tratei muitas pessoas aqui, incluindo índios e sul-africanos, e tive muito êxito”, disse o curandeiro. Mudine comentou o caso de uma mulher, Lucia, a quem chamou para dar seu testemunho. “Eu estava muito debilitada e nem podia andar, mas depois do tratamento posso comer, andar e trabalhar”, disse por telefone. Kennet Mudine pediu que as autoridades competentes testassem seus tratamentos. No entanto, alegando “segredo profissional”, negou-se a identificar as raízes ou outros remédios utilizados para curar os doentes de Aids, para não estragar seu negócio.

Apesar de insistir que pode curar a Aids, o “nyanga” reconheceu que essa é “uma doença perigosa” e recomendou que sejam tomadas precauções para evitar a infecção.

O curandeiro lamentou que muitos dos doentes que trata sejam jovens, aos quais muitas vezes não cobra, já que não têm dinheiro para pagar, embora normalmente peça um milhão de “meticais” (cerca de 22 dólares / 18 euros).

Outro curandeiro de outro bairro periférico de Maputo, que se chama “o doutor Soba”, com menos de 30 anos, também garante que tem conhecimentos que superam os dos médicos convencionais, o que lhe permite curar doenças como a Aids.

Mas adverte que para combater a Aids é preciso começar o tratamento em menos de um mês depois do contágio, porque se for mais tarde, sua “intervenção não surte nenhum efeito”. “Recebo aqui muitas pessoas que querem tratamento, mas primeiro as mando fazer um teste para ver há quanto tempo estão infectadas”, acrescentou.

“Quando os pacientes estão muito mal, aconselho que eles recorram a um médico convencional”, disse. O tema destes “charlatões” de Moçambique que dizem poder curar a Aids é cada vez mais controverso. São muitos os que ficam indignados pelo fato dos jornais publicarem seus anúncios, quando sabe-se que a Aids não tem cura. O Diretor Nacional de Saúde de Moçambique, João Fumane, disse à EFE que esse é “um assunto extremamente complexo, e é complicado dizer que os curandeiros não podem fazer publicidade nos jornais”.

Pessoalmente, Fumane prefere que as pessoas que desconfiam ter Aids façam testes em hospitais convencionais, em vez de procurar os curandeiros, porque estes “podem extorquir dinheiro da pessoa desesperada”.

A diretora do Departamento de Medicina Tradicional do Ministério da Saúde, Adelaide Bela Agostinho, declarou: “Eu não tenho argumentos para dizer que os médicos tradicionais tratem ou não esta doença. Como vou dizer que seus tratamentos funcionam se não fizemos análise daquelas raízes e outros produtos que utilizam?”, pergunta.

“Cientificamente, ou seja, através da medicina moderna, não há cura (da Aids), mas eles dizem que curam, e eu não posso dizer que é mentira sem analisar aquelas raízes”, acrescenta Agostinho. “É preciso levar em conta que muitos remédios são fabricados à base de raízes. Por exemplo, há um remédio contra a malária que foi descoberto há milhares de anos e ninguém queria acreditar que aquelas raízes podiam curar a malária”, disse.

Moçambique tem uma das taxas mais elevadas na África subsaariana de infecção do HIV, que causa a Aids, já que dos 18 milhões de habitantes, 2 milhões são soro positivo. Calcula-se que há 700 novos casos por dia. Apenas 8 mil pessoas têm acesso aos remédios anti-retrovirais, enquanto cerca de 120 mil pessoas deveriam tomá-los.

Fumane garante que o governo de Moçambique, com a ajuda da Fundação Clinton e do Fundo Global contra a Aids, a Tuberculose e a Malária, poderá atender 400 mil doentes dentro de quatro anos.

Fonte: http://www.evangelizabrasil.com

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