O aviãozinho fazia um sobre vôo de reconhecimento na pista de grama bem no meio da floresta amazônica para ver se realmente está livre para descer.
Por vezes há pessoas ou animais na pista e para evitar acidentes os pilotos sempre usam deste procedimento.
Lá embaixo podíamos ver dezenas de indígenas nas trilhas correndo em direção a pista.
A chegada de um avião significa para os missionários a presença da civilização, de colegas, o rancho do mês que chega com quitutes apreciados ou a saída de férias da aldeia aproveitando o retorno do vôo; mas para os índios, as novidades maiores estão nas coisas que levamos no vôo.
Um índio em tratamento médico fora da aldeia pode estar retornando, pessoas novas com quem estabelecerão contato.
Coisas como sal, arroz, açúcar e outras bugigangas.
Enquanto abraçávamos os missionários e descarregávamos o avião percebia, que ao me aproximar de um nativo, fosse adulto ou criança imediatamente ele se afastava.
Fiquei intrigado com aquilo.
Em todas as outras aldeias de etnias diferentes eram solícitos e imediatamente estavam misturados entre os brancos (branco para eles são todos os que não são índios, seja branco ou negro), mas naquela aldeia estava acontecendo algo que eu não conseguia identificar.
O missionário me chamou para um canto e me disse que os índios estavam com medo de mim.
Imediatamente perguntei: mas por quê? Não faço medo a uma mosca.
Respondeu o missionário: O problema é sua barriga.
Como assim? Indaguei.
Respondeu o missionário: Para eles que tem barriga grande é matador e me desculpa chefe realmente eles têm razão.
Depois de tudo explicado conseguimos estabelecer um diálogo razoável com índios.
Mas a pergunta que ficava no ar era:
Quantos o chefe branco já matou?
Minha barriga me denunciava...
Geremias Bento - http://www.geremiasbento.net
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