Tatiana Mendonça
Bandeira, língua, costumes, às vezes até presidente. A única coisa que eles não têm é um país para chamar de seu. Curdistão, Somalialândia, Chechênia e Palestina são alguns dos lugares que não estão nos atlas, por não serem reconhecidos internacionalmente. 'Eles vivem em um Estado, mas não têm o pertencimento', explica o professor de geografia na Ufba Clímaco Dias.
Bandeira, língua, costumes, às vezes até presidente. A única coisa que eles não têm é um país para chamar de seu. Curdistão, Somalialândia, Chechênia e Palestina são alguns dos lugares que não estão nos atlas, por não serem reconhecidos internacionalmente. 'Eles vivem em um Estado, mas não têm o pertencimento', explica o professor de geografia na Ufba Clímaco Dias.
Ele diz que não há dados exatos sobre o número de pessoas nesta situação. As reivindicações são diferenciadas. Os bascos [Espanha] não querem o mesmo que os chechenos [Rússia], que por sua vez estão em um estado de reivindicação diferente dos curdos [Turquia e Iraque].”
Como não há mais continentes desconhecidos para habitar, o jeito é dividir. "O interessante é que se pensava que a globalização teria um efeito homogeneizador. O que estamos vendo é uma reafirmação de identidades.”
No final de agosto, atentados na Turquia atribuídos a grupos curdos [maior etnia sem Estado no mundo, presente na fronteira entre Turquia, Iraque, Irã e Síria] mataram três pessoas e feriram 47. O grupo Falções da Liberdade do Curdistão [TAK], formado por nacionalistas curdos, assumiu a autoria de alguns dos ataques. O TAK seria uma dissidência do Partido dos Trabalhadores do Curdistão [PKK], que luta desde 1984 pelo reconhecimento.
Outra ação em busca da independência foi o atentado checheno à Beslan, que matou 374 pessoas e este mês completou dois anos. Os separatistas chechenos invadiram uma escola em Beslan [Ossétia do Norte] e fizeram mais de 1.200 reféns. Eles queriam que a Rússia desse fim à presença militares na região.
Muitos consideram estas ações terroristas. Mas o professor de antropologia da Universidade de Brasília José Jorge de Carvalho diz que, em geral, a maioria da população destes países apóia as causas separatistas. Esses movimentos de resistência são resultado do processo de colonialismo, que cortou ao meio diversas nações, separando famílias e juntando etnias distintas.
Razões - O que determina que um povo queira se separar de outro e ter o seu próprio país? Acredito que o mais importante é a luta do coletivo para não desaparecer. O checheno não quer desaparecer na onda russa, e o curdo não quer desaparecer na onda turca. São reafirmações identitárias e territoriais. Religião é uma dessas ferramentas, assim como a cultura”, fala Dias. Os motivos que levam os países a não ceder parte de seu território para essas populações são mais visíveis. A Turquia, por exemplo, é chave na questão do gás para a Europa.
Apesar de as forças serem desiguais [exército versus guerrilha], alguns povos saem vitoriosos. Hoje, no coração da Europa, temos Montenegro [reconhecido em 28 de junho deste ano pela ONU], que tem um terço da população de Salvador: apenas 700 mil habitantes”, explica Dias.
Limbo - No documentário Lugares que não Existem [Places That Don´t Exist], exibido pela BBC, o jornalista Simon Reeve percorreu cinco lugares que não estão no mapa, mas que nem por isso deixam de existir. "Me pareceu extraordinário que não haja um governo real na Somália, mas que o mundo o reconheça como um país, enquanto na Somalialândia existem eleições e uma democracia funcional, mas o mundo não a reconhece", disse Reeve em entrevista à BBC.
Fonte: http://blogdodez.atarde.com.br
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