Assembléia da APMB, Campinas, 07 de abril de 2000
Barbara Helen Burns
De acordo com David Barrett, especialista em estatísticas do Cristianismo mundial, nos últimos 30 anos o Cristianismo cresceu com velocidade tal que o mundo inteiro está rapidamente chegando ao ponto de ser evangelizado. O número de testemunhos cresceu de 300 mil a 760mil entre 1970e 1997, horas evangelismo subiu de 99 bi a 432 bi, o número dos não evangelizados caiu de 37,6% em 1970 para menos que 19% em 1997, fazendo com que 80% do mundo seja evangelizado! E estamos perto de alcançar o resto não evangelizado! MAS, realmente 80% do mundo já é alcançado? Vamos olhar para uns país exemplar —Kabuli, um dos maiores sucessos de missões na história, com 80% cristão. Evangélicos e pentecostais compõem 25% da população. Tem havido avivamentos grandes. Não é preciso mandar mais nenhum missionário para lá.
POREM — Kabuli é outro nome para RUANDA! Um africano especialista diz que Ruanda é um exemplo de um pais com a igreja evangélica que tem 30 km. de extensão e um centímetro de profundidade! As igrejas evangélicas cresceram ao ponto de ter estatus e poder político no pais. Mas, onde está o senhorio de Jesus Cristo?? Porque a tanta tragédia, tortura e matança? Muitos estão perguntando: Como poderia ter acontecido tal massacre num pais assim? Chegaram a concluir que era por duas razões principais:
1. Cristianismo era apenas um verniz, uma cobertura superficial em cima de um estilo de vida secular em que os antigos valores eram em quase nada mudados.
2. A igreja tinha uma liderança hierárquica, dominadora, sem discipulado dos crentes como verdadeiros sacerdotes. Era uma liderança elitista.
Na opinião de Engel esta situação reflete a realidade na maior parte do mundo: materialismo, corrupção política, inclusive entre evangélicos, poucos ricos ficando cada vez mais ricos, destituição de pobres, cidades perigosas, moralidade que próxima a de Sodoma e Gomorra. Ele pergunta: Porque com tantos crentes tudo está piorando? Porque fica em silêncio a igrejafrente este desastre que está acontecendo?
Em Ruanda a superficialidade cristã levou os líderes e crentes optar pela luta racial em vez de ser fiel ao Senhor. COMO FAZER? Como fazer para preparar e enviar missionários criados num ambiente semelhante, que vão ser e fazer discípulos perseverantes em situações terríveis, como Ruanda?
Há algumas reflexões sobre isto, na luz de tudo que temos ouvido estes dias.
Nós não podemos prepara ou treinar ninguém!
A. Preparo depende do aluno, se ele quer aprender, ou sabe aprender. Isto implica:
1. Na seleção dos alunos
2. Na sensibilidade do professor em conhecer as capacidades de cada aluno e tentar começar o preparo a partir do seu nível.
B. Preparo depende de Deus—é Ele que prepara. Ele põe pessoas, experiências, tira, põe outras. Podemos fazer parte do currículo de Deus na vida de uma pessoa, mas reconhecendo que a final de contas é Ele que trabalha com Seus servos em fazê-los aptos para o trabalho específico que tem para cada um.
O preparo nunca pára, e nunca chegamos a sermos “preparados”. Sempre estamos no processo de aprendizado, professor e aluno (todos somos “alunos”). Temos que ter, e desenvolver nos alunos, atitudes de aprendiz — de como aprender, do gosto de aprender, do desejo de continuar aprendendo. Colossenses 1:9-12 mostra o ciclo de aprendizado e crescimento no conhecer e obedecer.
Assim nós, como professores, podemos ser modelos de como ser aprendiz e servo de Deus.
A. 1 Pe 5:3 diz que o pastor deve ser “modelo do rebanho”.
B. Paulo diz para os gálatas que devem segui-lo, pois ele se tornou como eles (Gl 4:12). Ele deu tudo para eles, o Evangelho, e se necessário teria arrancado os próprios olhos para eles (vs 19). Paulo se investiu neles com o mais alto amor e preocupação pelo bem estar deles.
C. C. O modelo fala muito mais alto do que palavras. Então, como eu SOU
-Tenho paciência?
-Tenho zelo pelos alunos e pelas almas/povos?
-Tenho humildade, ou sou elitista também?
-Tenho perseverança nas dificuldades? Ou reclamo, desisto, rejeito?
-Tenho vida de oração e dependência no Senhor?
-Procuro conhecer e obedecer a Bíblia?
-Invisto minha vida para os outros?
Podemos passar informações (e o aluno vai aprender, dependendo da receptividade e capacidade, e da didática do professor)
A. O que não devemos ensinar? Engel disse:
1. Há uma omissão crítica no ensino da Grande Comissão - “. . . fazei discípulos de todas as nações, batizando-os e ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”. A ênfase tem sido na evangelização, mais que a formação espiritual e a transformação social, que são os resultados do Reino de Deus! “Tudo que Jesus ordenou” (Mt 28:19) inclui o que Ele falava e fazia para ensinar. Devemos tomar mais a sério o modelo que Ele deixou. Devemos zelar para que nossos alunos têm profundo conhecimento da vida e do ensino de Jesus Cristo.
2. Não deve fazer com que a evangelização mundial se torne um empreendimento controlável, baseado em ciências sociais e de empresas, como marketing, com alvos mensuráveis (só). O surgimento de lemas atraentes e ênfase apenas em crescimento numérico tem criado muito entusiasmo momentâneo. Muitos querem fazer tudo rápido, sem levar em consideração o preparo necessário.
3. Não deve enfatizar uma obsessão com sucesso em termos de números, sem levar em conta a necessidade de levar a pessoa a compreender o Evangelho suficiente para ver as implicações para sua vida. Jesus Cristo tem que se tornar o Senhor da vida inteira – inclusive em relações econômicas, justiças social e integridade e santidade de vida cristã. Chegou a hora de largar o triunfalismo do sucesso estatístico, e voltar para a simplicidade e profundidade das diretrizes bíblicas.
4. Não deve ensinar uma contextualização relativista, facilitando a entrada de sincretismo. Adaptação sem limites. Adaptamos o evangelho a agenda do consumidor, para ser aceitável, mesmo sacrificando princípios bíblicos. Enfatizamos os benefícios do evangelho, sem falar do custo. Vamos nos submeter ao relativismo do pós-modernismo, onde a Bíblia é relativa às culturas, ou vamos nos manter firmes seguindo uma hermenêutica que a própria Bíblia nos proporciona?
5. Há o perigo de uma eclesiologia defeituosa. Que tipo de igrejas estamos plantando? A igreja leva a mensagem ao mundo, mas no mesmo tempo é a mensagem ao mundo. Precisamos de líderes-servos, e igrejas onde todos são ministros. Ensino sobre modelos de igreja do missionário - a igreja leva a mensagem e É a mensagem.
B. O que devemos ensinar?
1. Devemos ensinar o arroz e feijão de Cristianismo e missiologia. Muitas vezes esquecemos dos assuntos básicos e substituímos novidades por ter novidades, ou conceitos exóticos apenas para ganhar a admiração dos alunos. A missiologia deve incluir conceitos de vida, comunicação e estratégias evangelísticas e de discipulado transculturais. Antropologia, Contextualização, Linguística, Religião, História de Missões, Teologia Contemporânea de Missões, Estratégia Missionária, Missões Urbanas, Implantação da Igreja, Discipulado e Didática Transcultural são algumas matérias básicas para o futuro missionário. Ele deve aprender se despojar do seu etnocentrismo e aprender viver e comunicar de forma relevante e transformadora no meio do novo povo.
2. Devemos ensinar Bíblia como base em toda a missiologia (2 Tm 3:14-17 e 4:1-5). A importância da integração de teologia e missiologia não pode ser enfatizado suficiente. Não podemos preparar o aluno de ter uma bagagem missiológica bonita, sem ter conteúdo dentro da bagagem—conteúdo sólido das verdades cristãs supra culturais. Este ensino deve incluir (a) a base bíblica da razão da própria missão da igreja e (b) o conteúdo do ensino a ser feito nocampo missionário. Infelizmente muitos missionários quase iletrados quanto a Bíblia têm saído para trabalhar ao redor do mundo. Como vão “fazer discípulos”?
3. Devemos ensinar caráter cristão. Como “viver de modo digno do Senhor” (Ef 4:1) com os colegas e o povo receptor? Como, em humildade, investir com amor e esmera na vida dos outros? Falta de caráter é uma das principais razões do retorno precoce do missionário, e deve ser levado a sério no preparo.
4. Devemos ensinar sobre os povos como são apresentados na Bíblia e na realidade, para conhecer nosso mundo da ótica de Deus—povos amados por Deus e necessitados de perdão e salvação.
C. Como devemos ensinar?
1. Muitas vezes ensino para o professor se resume em estar numa sala de aula, ensinando face a face. Queremos que o aluno aprende o que estamos falando para poder repetí-lo do nosso agrado. Temos que ensinar para que o aluno aprende aprender, e tenha gosto de aprender. Como fazer isto?
2. O melhor ensino acontece na vida, andando junto com o aluno, ombro a ombro no ministério do Senhor, como Jesus fez com Seus discípulos: -aprendendo também no caminho-ministrando juntos -enfrentando a vida juntos em comunidade e comunhão no trabalho, no cotidiano e nas dificuldades.
Tudo isto se chama DISCIPULADO.
As soluções do Engel:
A. Começa com conhecimento íntimo e profundo de Deus, manifesto na comunidade da Igreja. Os Apóstolos, na maioria morreram mortes violentas, com fidelidade e alegria (Aramis C. DeBarro. Doze Homens, Uma Missão, Ed. Luz e Vida, 1999). Porque? Tinham estado com Jesus! O conheciam profundamente e sabiam porque estavam morrendo! Nosso treinamento, muitas vezes secularizado, tem a tendência oposta. Somos formais, preocupados com status, notas, diploma e posição. Esquecemos da alegria em servir o Senhor juntos.
B. Evangelismo não é uma metodologia, mas o resultado de um estilo de vida baseado no profundo amor aos outros, respeito e prontidão de ouvir as suas mais profundos pensamentos e desejos. Um missionário em Portugal falou que a tendência é“evangelismo impessoal” em vez de “evangelismo pessoal”.
C. Não podemos pensar que de repente poderemos completar o evangelismo mundial. Esta urgência artificial faz com que pessoas não sejam preparados, mas apressadamente vão aos campos.
D. Os métodos seculares de empresa, tecnologia, e ciências sociais devem ser utilizados apenas para auxiliar o ensino. Temos que reconhecer que é o Espírito Santo que trás convicção, regeneração e santificação.
E. Renovar a obediência a Grande Comissão na sua totalidade.
F. Depender da intercessão.
G. Enfatizar o ensinamento bíblico sobre líderes que são servos.
H. Deixar claro que a expansão do Reino inclui todas as camadas da sociedade, sem barreiras sociais dentro da própria igreja!
I. Parar de depender, e criar dependência, das nações ricas para nos ajudar, compreendendo que há muitos recursos locais.
Oração é essencial em todo processo. Oração é reconhecer poder do Espírito Santo e nossa total dependência em Deus. Parece que para mim o preparo para campos de risco requer muito poder - milagres, o sobrenatural, fé, e compromisso até o fim. Oração pelos alunos e com os alunos seria a chave para a vida de poder.
Parece que já ouvimos tudo isto muitas vezes. Mas creio que ainda pouco fazemos. As vezes exige coragem para quebrar tradições educacionais e eclesiásticas para realmente cumprir o currículo de Deus nas nossas vidas e a dos alunos.
Fonte: http://www.pioneiros.org.br
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