Violência marca encontro de tribo amazônica no Peru com civilização.
[O Globo, 31 jan 12] Uma tribo de índios até há pouco totalmente isolada na Amazônia peruana começou a fazer aparições esporádicas nas margens dos rios da região e chegou mesmo a lançar flechas contra turistas que costumam fazer um roteiro ambiental na área e contra um funcionário do Parque Nacional Manu, onde ficam suas terras. Um nativo de um outro grupo, que ajudava um arqueólogo a fazer estudos na área e já teria travado algum contato com a tribo, teria sido flechado no coração e morrido.
Autoridades peruanas afirmaram ontem que estão lutando para manter eventuais visitantes longe da tribo e evitar novos problemas. O comportamento do pequeno grupo de índios mashco-piro intriga os cientistas. Aparentemente, o grupo passou a se aproximar mais da margem do rio e se mostrar mais agressivo devido a pressões impostas pelo desmatamento ilegal e a exploração de óleo e gás. Pequenos aviões da companhia de petróleo têm sobrevoado a área, no sudeste do Peru. Além disso, segundo especialistas, eles estariam se sentindo acossados por turistas que, em algumas ocasiões, teriam deixado roupas junto aos rios, como forma de atraí-los para as margens.
De acordo com ribeirinhos do estado de Madre de Dios, os índios foram vistos pela primeira vez em maio do ano passado. Em novembro, um arqueólogo espanhol que trabalha na região fez as fotos que ilustram a matéria — divulgadas ontem pela ONG Survival International e consideradas as mais detalhadas já feitas de um grupo indígena isolado, que nunca manteve contato direto com outros grupos.
— Tem havido um aumento dos conflitos e da violência contra pessoas de fora que apareçam em sua terra ancestral — afirmou, em entrevista à BBC, a pesquisadora da ONG Rebecca Spooner, lembrando que eles estariam se sentindo acossados com o comportamento dos forasteiros.
No ano passado, eles teriam disparado uma flecha sem ponta contra um guarda florestal do parque e turistas, como forma de avisar que não queriam visitas.
Para conseguir as fotos, o arqueólogo espanhol Diego Cortijo se manteve a uma distância de 120 metros e contou com a ajuda de um telescópio acoplado a uma câmara. Ele estava acompanhado do nativo de um outro grupo, Nicolas Shaco Flores, que, há 20 anos vinha tentando manter contato com a tribo, para quem costumava deixar alguns utensílios. Ele teria, inclusive, chegado a conversar com alguns deles. Cinco dias depois de as fotos serem tiradas, no entanto, Flores foi morto com uma flecha no coração. Muitos acreditam que os mashco-piro seriam os responsáveis, embora isso não esteja totalmente comprovado.
— O fato de eles se aproximaram ocasionalmente das margens para conseguir machetes e outros utensílios não significa que queiram contato e uma prova disso são os recentes atos violentos — sustenta Rebecca, que não sabe dizer quem teria matado Flores. — Já protestamos agora e no Parque Nacional de Manu não há mais turistas. Mas vamos enviar um abaixo-assinado com 150 mil assinaturas ao governo para que tome medidas também contra os madeireiros, que subornam autoridades locais para entrar.
— Ele estava com sua filha e seu genro cultivando o solo quando tudo aconteceu e só os dois conseguiram escapar — afirmou o arqueólogo, em entrevista ao jornal espanhol “El Mundo”. — Não se sabe quem o matou, mas duvido que tenham sido os indígenas do grupo que conhecia, com os quais nunca havia tido problemas.
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