quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Animismo na Cultura Africana

“ENTRE OS BAKONGOS”

Pr. André Nguina Quiala


Tenho lido muitos artigos de estudos missiológicos e de religiões sobre animismo. Falando mais no campo missiológico, o animismo é classificado como a sexta religião presente e crescente (2,88% da população), o que leva os missiólogos a classificá-la como religião menor.

Os mesmos estudos indicam que essa religião, aparentemente menor no contexto mundial, acaba sendo a terceira religião da África, praticada por 20% da população do continente.
Não quero afirmar categoricamente que estas estatísticas estão corretas, devido até às dificuldades de se fazer um senso exato das religiões hoje, em razão do crescimento e dificuldades geopolíticas mundiais, em particular, da África.
Meu artigo não visa a abranger a África toda. Se esta fosse a idéia, faria mais no contexto da cultura bauto, que eu conheço e estudo.
Vou limitar-me a falar do animismo na cultura dos bakongos, isto é, os povos do norte de Angola, Brazavile, e República do Congo (ex-Zaire).
Apesar de ser angolano de naturalidade e nacionalidade, sou Kikongo, no contexto de tribo e língua.
Tenho considerado grosseria missionários que ficam 3, 4, 5, ou até 15 anos em uma região da África, escreverem uma matéria baseada naquele contexto e a reputa como realidade africana. Peço perdão a esses missionários e que respeitem mais a África. A África é um continente de 47 países e milênios de história.
Vamos ao assunto e deixemos estas polêmicas para outro momento.
I – O animismo entre os Bakongos se confunde com a pessoa de Deus
Existe uma característica comum entre os Bakongos, que os leva a uma prática animista. É o conflito da alma e do divino. Acredita-se que a alma é pecadora até a morte. Depois da morte toda alma é pura e se torna intercessora dos parentes em vida, ganhando então o conceito divino.
Há crença tradicional que tenta apontar para o seguinte: que a alma de quem morre se ajunta aos ancestrais no céu, atuando ao mesmo tempo na região da origem da tribo. Ao mesmo tempo, tais ancestrais se tornam objetos de preces e invocações para ajudarem na saúde, economia, governo. São-lhes atribuídos poderes de promover a vida ou a morte.
A partir daí surge o conceito religioso que me leva a acreditar na existência do animismo e fazer a afirmação do primeiro subtítulo.
II – As fontes da divulgação do animismo entre os bakongos
1 A fonte oral e religiosa
São contos orais recheados de testemunhos passados de geração a geração, sobre acontecimentos bons ou ruins, que se deram na tribo, clã, ou certa região, com a intervenção de espíritos. Tal conto vira crença religiosa, ganha símbolos, gestos e ocupa espaço no tempo para sacríficio.
2 A fonte mística
Sabemos que em toda a cultura semítica, até mesmo no Ocidente, os sonhos têm um peso psicológico e religioso muito forte.
Entre os bakongos, sonhos de idoso ou “ancião” e de juvenis têm uma consideração profética, como meio pelo qual Deus e os Espíritos se comunicam com os vivos. O ancião não é só respeitado, mas também em certas situações, reverenciado, principalmente quando é chefe de clã ou um orador pacifista. Juvenis são considerados puros, sem malícia.
Para além dos sonhos, são considerados também fenômenos de aparições espirituais, que na maioria se dão com mulheres e lavradores.
3 – A fonte psicológica “medo”
Por nascer numa família cristã, ofereceu-me o conhecimento da cultura e a base do argumento de atribuir ao medo outra fonte de difusão do ANIMISMO na cultura Africana “BAKONGOS”. É o medo que leva a apontar lugares com assombrações ou com manifestações de fantasmas. Quando isso acontece, os animistas vão oferecer sacrifícios orientados por seus líderes, ou invocam tal espírito para se manifestar através de médium, para informação do que querem. Assim surgem preceitos animistas que suscitam grandes oposições entre cristãos, animistas e muitas vezes intelectuais que não acreditam nestas coisas, e essa situação gera confrontos espirituais terríveis.
III – Lugares e objetos venerados
Esta fonte tem três vertentes na cultura dos KIKONGOS, por ser uma cultura oral e conseqüentemente cheia de segredos.
PRIMEIRO: Existem (lugares como) árvores, por exemplo: os anciãos não deixam contar, não por crença espiritual. Às vezes são lugares onde eles se encontram para conversar assim como as praças e clubes do Ocidente.
SEGUNDO: Pode ser aquela árvore uma divisão territorial de fazenda, ou aldeias de clãs, que fizeram aliança e começaram morar juntos. Tem mais uma conotação de “documento”.
TERCEIRO: Pode representar um túmulo de um personagem, ou ali se esconderam coisas de um partido político, armamento, farda, bijuterias, por falta de Banco em determinados lugares.
Acontece que o jovem, africano para ter acesso a essas informações, precisa idade; a posição da tribo etc.
Logo, o que é difundido para a juventude ou o estrangeiro é : aquele lugar ou tal objeto é sagrado. Com o passar de alguns anos, cria-se aquele enigma que ninguém desvenda, e aquilo vira santuário.
Posso concluir parcialmente este artigo afirmando que ética e o catecismo animista consistem na força do obscurantismo espiritual que forma um sistema de terror psicológico espiritual, que abre portas para uma atuação de Satanás na vida dos homens em todas as esferas. Tenho-me apercebido de muitas crenças brasileiras no espiritismo ou baixo- espiritismo. Para mim tudo é do diabo. No Brasil nada mais é senão fruto de lendas animistas já desvendadas na África, que deixaram de ser objetos de holocausto e adoração. Com isso concluímos: O medo é a fé do diabo; o obscurantismo é o seu catecismo, e a mentira é a sua cruz.
A saída é: E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. (Jo 8,32).

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