segunda-feira, 6 de outubro de 2008

SOBRE O ISLAMISMO

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A ordem do dia


Se para alguns o islamismo resulta em uma religião pouco conhecida e até remota, depois do dia 11 de setembro de 2001 deixou de ser assim. Hoje os seguidores de Maomé estão na ordem do dia em todos os meios. A cada dia o islamismo está na capa de revistas e jornais, ou em noticias repetidas na televisão e nas rádios. Os atentados contra as torres gêmeas e contra o Pentágono, e o resultante conflito em um dos países mais pobres do mundo, o Afeganistão, tiveram então a atenção mundial.

Mas, O que é o islamismo, para a maioria que o havia confinado mentalmente a categoria de uma religião oriental, que pouco ou nada tinha a ver conosco? Será que, como mostram os meios de comunicação, todos os muçulmanos são pessoas que devemos temer, que respiram continuamente ameaças e ódio contra o ocidente? Como entender aqueles 19 fundamentalistas que imolaram suas vidas para conseguir os ataques em Nova York e Washington, com ações suicidas com tão poucos minutos de duração - e que conseguiram alterar a ordem mundial a ponto de comprometer a paz do planeta, como em algum momento se pensou?

• Seu nascimento e extensão
• Suas crenças
• Sua relação com o Ocidente
• Porque alguns são fundamentalistas
• As perseguições
• Até uma gratidão evangélica

Seu nascimento e extensão

Não podemos entender o islamismo com claridade se desconhecemos como nasceu, como se estendeu e quais são suas crenças. Sua origem remonta a uns 1400 anos na história da Península Arábica. Maomé (570-632 d.C) - um descende de Ismael, o primeiro filho do patriarca Abraão (Gênesis 16), não recebeu bom testemunho dos judeus, cristãos e pagãos de seu tempo. Decepcionado, alegou receber visões, que em princípios atribuiu a demônios, mais logo decidiu que era o próprio anjo Gabriel. Ao compartilhar essas "revelações", seus concidadãos de Meca não as aceitaram, por isso teve que fugir (esta fuga, A Hegira, marcaria posteriormente o começo do calendário muçulmano). Ao fim de alguns anos ele retorna novamente a sua cidade natal, acompanhado de um exército, por meio do qual impõe nova religião monoteísta: nasce o islamismo!

Em pouco tempo, diante de um cristianismo fragmentado e debilitado, que não dispunha da Bíblia em seu idioma vernáculo, esta nova religião conseguiu se impor com relativa facilidade onde antes havia a bandeira da cruz. Em apenas um século o Islamismo conquistou a Península Arábica, o Oriente Médio e o Norte da África, avançou pela Europa Ocidental levantando seu estandarte na Península Ibérica e na região dos Balcãs. Mais adiante conquistaria a Ásia Central e o Oriente distante.

Hoje, em pleno século XXI, e além dos assentamentos logrados ao longo dos séculos, nos encontramos com o que nos últimos cinqüenta anos se há estendido ostensivamente na Europa "cristã", a ponto de que o número de imigrantes - ou filhos de imigrantes - de países islâmicos, supere em muito a quantidade de evangélicos dispersos no Velho Continente. Semelhantemente não se pode conter o avanço também nas Américas, onde ano após ano o número aumenta e novas mesquitas são construídas nas grandes cidades.


Suas crenças

Junto ao Judaísmo e ao Cristianismo, integra as três únicas religiões monoteístas. Alá é seu Deus. Maomé é seu grande profeta (o selo dos profetas) que Alá enviou à humanidade; seu livro sagrado é o Alcorão, é aproximadamente do tamanho do Novo Testamento. Seus seguidores reconhecem a Torah (o Pentateuco), o Zabur (os profetas) e o Injil (os Evangelhos), que segundo eles foi adulterado pelos cristãos.

Jesus (Issa) é um grande profeta, é tido em alta estima, mais não é o Filho de Deus (Como poderia Deus ter um filho se não teve mulher?), nem morreu na cruz (apenas desmaiou, Como Deus deixaria que matassem seu enviado?). Por tanto, não há sacrifício vicário nem ressurreição. Ademais, os cristãos são infiéis porque adoram três deuses: Deus, Jesus e Maria. E os que rendem culto a imagens são "associados", pois relacionam o Deus invisível com objetos feitos por mãos humanas, caindo no terrível pecado da idolatria, que merece o mais severo castigo.

Assim que: um só Deus (nada de Trindade), um grande profeta (nenhum Mediador), um só livro sagrado (o Alcorão), nenhuma imagem, e uma férrea moral que preserva os valores dos ancestrais; premissas essas que foram ganhando espaço em um ocidente cada vez mais descristianizado.


Sua relação com o Ocidente

As relações entre um Ocidente "cristão" e um Oriente "Muçulmano" não foram sempre as melhores. Ao largo dos séculos de história estiveram carregados de hostilidades e rivalidades. Existem três situações que marcaram a fogo esse enfrentamento.

Em primeiro lugar, durante a Idade Média os católicos da Europa organizaram as tristemente celebres Cruzadas, para recuperar o Santo Sepulcro (em Jerusalém) da mão dos infiéis muçulmanos. Por terra e por mar se lançaram a guerra santa, movidos pela promessa de obter indulgências se morressem na batalha. A Primeira Cruzada foi seguida pela Segunda, e esta pela Terceira e pela Quarta... Os europeus derramaram sangue, muito sangue. Documentos daquela época atestam que "o sangue chegava até o joelho dos cavalos". Passaram-se nove séculos e os muçulmanos não se esqueceram à selvageria e crueldade dos chamados "cristãos".

Em segundo lugar, ou posteriormente, os europeus os colonizaram. Praticamente toda a África e Ásia estiveram debaixo do poder de potências imperiais. Foi imposto novas línguas (inglês, francês, espanhol, russo), controlaram sua economia e os dominaram durante décadas. Mais a diferença do que ocorreu na América, onde o processo de emancipação dos poderes europeus se deu no principio do século XIX, as nações africanas e asiáticas só se tornaram independentes no século passado, isto é, aproximadamente uns 50 anos atrás. A ferida infligida pelos cristãos do ocidente ainda não foram cicatrizadas.

E em terceiro lugar, vendo o presente, quando eles olham filmes do ocidente ou aceitam a televisão por satélite O que eles vêm? A imoralidade dos filmes de Hollywood, a desintegração da família, o vício, a violência, as drogas. E isso o cristianismo? - se perguntam - Não o queremos! Não venham contaminar-nos com sua imoralidade!

A força de sermos sinceros reflexionamos: Eles estão errados? O cristianismo ocidental tem dado motivos mais que suficientes para escandalizá-los e endurecê-los. E se a isso acrescentarmos o apoio dado a Israel - contra seus irmãos árabes palestinos -, e o financiamento de ditaduras como as do Iraque, Arábia Saudita e até o próprio Bin Laden! Para salvaguardar os interesses políticos e econômicos da região, não é de surpreender que os muçulmanos não tenham boa opinião sobre o ocidente!


Porque alguns são fundamentalistas

Alguns de seus ricos Sheiks e Sultãos foram estudar na Inglaterra, França e nos Estados Unidos, e regressaram com um título debaixo do braço. Colocaram-se em postos de eminência, aferrando-se ao poder de suas empobrecidas economias. A riqueza do petróleo ficou nas mãos de poucos da classe dominante - vivendo em luxos e dissipando os bens, atitude própria de ocidentais corrompidos - e fazendo acordos com os governos ateus ou liberais da Europa e dos Estados Unidos. Frente a semelhante gasto supérfluo e perda de seus valores religiosos, os fundamentalistas, sentindo-se traídos por seus compatriotas, optam por pronunciar-se contra aquilo que consideravam apostasia. "É hora de voltar aos fundamentos - ou seja: ao Alcorão - e se necessário, mediante o uso de armas" raciocinam.

Movidos por um forte zelo religioso lutarão, dando até suas próprias vidas, contra o grande inimigo da verdadeira fé: O ocidente cristão e infiel. Abraçando esta causa em defesa da religião, é razão suficiente para serem honrados como mártires, na esperança de que Alá os recompense com a entrada no Paraíso, tal como promete o Alcorão. Nem todos os muçulmanos pensam igual - nem sequer a maioria. Mais sim alguns com o objetivo de que através de seus atos suicidas consigam comover a opinião pública. Sem embargo, a grande multidão que não aprova tais ações sangrentas, são pessoas pacíficas, que procuram levar suas vidas normalmente, como bons pais e cidadãos, que amam seus lares, trabalhos e tradições, e cálidos em expressar hospitalidade.

As perseguições

Esta questão gera confusão, particularmente quando consideramos a liberdade individual, impossível de exercer tal como o fazemos no Ocidente. Seus governos são em sua maioria totalitários, e por mais que possam apresentar vestígios de democracia, em geral não dão nenhum espaço para o descenso. Qualquer tentativa de mudança de religião é considerada uma ameaça à ordem pública e a tradição, e por isso merece ser reprimida. Em alguns casos a Sharia (lei corânica) é interpretada fanaticamente e o "infrator" pode ser, desde expulso de seu lar, até perder o trabalho, ser preso, ter que fugir do país ou sofrer a pena capital.

Quarenta e sete nações ostentam o islamismo como religião oficial. Quando alguma diz admitir a liberdade de culto, se interpreta que é para os estrangeiros e não para os nacionais. As igrejas cristãs, quando existe, são em sua maioria pequenas e subterrâneas, e estão expostas a constantes pressões do governo e da sociedade. E raríssimo encontrar um templo ou uma capela, saber de um seminário ou livraria evangélica... Muito menos uma emissora de rádio ou televisão cristã! A evangelização pública e em massa, com honrosas exceções, não são permitidas. E existem lugares onde se sucedem sangrentas mortes de cristãos há muito tempo, sem que as autoridades locais ou as organizações internacionais mostrem interesse em querer intervir para detê-las.

Não obstante, quando emigram e se estabelecem no Ocidente, começam a reclamar os direitos para serem tratados com igualdade: autorização para construir Mesquitas, fazer orações públicas, nomear seus representantes, etc. O que negam aos cristãos em seu país, o exigem para o Islamismo quando estão em um país estrangeiro! E ainda, participam em semelhante incongruência, entusiasmados, até nossos próprios governantes. Assim aconteceu em meu país, onde não muito tempo atrás, foi inaugurada na cidade de Buenos Aires a maior mesquita da América do Sul, edificada sobre um caríssimo prédio de três hectares e meio que a Nação doou ao governo da Arábia Saudita. Os ex-presidentes Menen e De la Rua estiveram presentes na inauguração das instalações, junto ao príncipe herdeiro da coroa arábica e seu numeroso séquito. Mas, nenhuma voz se levantou em protesto contra o regime despótico do Rei Fahd! - sem dúvida o mais totalitário pais do planeta - Tampouco nos consta que o tenha feito as Nações Unidas ou os Estados Unidos, nem as potências Européias. É que o petróleo debaixo da areia pode muito mais do que os discursos que proclamam, com os lábios, os defensores da liberdade. Quando cinismo!


Até uma gratidão evangélica

De qualquer forma, nos os latinos não somos identificados, necessariamente, como as potências do primeiro mundo e os maus exemplos já apontados. Eles rejeitam o cristianismo porque até agora têm visto uma grosseira caricatura dele. O autêntico cristianismo, isto é, o de um Cristo manso e humilde, que ainda não tiveram ocasião de conhecê-lo. Em uma hora como esta deveríamos perguntar-nos, como evangélicos ibero-americanos, se não é uma ocasião oportuna para mostrar a verdadeira diferença. Que ao invés de aprofundar os preconceitos que nos distanciam, os amemos com a ternura de Cristo; que ao invés de evitá-los nos acerquemos com empatia; que ao invés de esquecê-los, os recordemos diante do Trono da Graça.

Deveríamos redobrar os esforços de levar-lhes o Evangelho, tanto aos que estão ao nosso redor como os que estão longe. Deveríamos, sim, redobrar o apoio à igreja sofredora onde nossos irmãos são perseguidos pela sua fé; e apoiar financeiramente com mais desprendimento aos obreiros que trabalham silenciosamente entre eles. Se esta não é a ocasião, Quando será? E se nos não o fizermos, Quem o fará? Finalmente, eles também são amados pelo Pai, e como descendente de Ismael - e por parte de Abraão - herdeiros das promessas divinas. Como poderíamos desentendermos?.

Deus prometeu que faria de Ismael "uma grande nação" (Gênesis 16:10, 21:13 y 18) e, efetivamente o fez. Deus esteve com o rapaz quando vagava com sua mãe pelo desertor ( v. 21:20). Chegou a ser pai de 12 filhos, que fundaram as doze tribos que deram origem ao povo árabe. (v.25:12-18). Foi profetizado que um dia iriam conhecer e adorar ao Senhor (Is. 60:6-9). E em Pentecostes, convertidos a Cristo, se integraram à Igreja em sua primeira hora (Atos 2:10-11). Deus estava levando adiante seus planos com a descendência do primeiro filho de Abraão.

Os filhos de Ismael - hoje mais de duzentos e cinqüenta milhões de árabes -, somam muito mais do que os filhos de Isaque - dezesseis milhões de judeus - A promessa de que sua descendência seria tão grande, "impossível de ser contada", foi cumprida verdadeiramente. Além do estritamente genético, há muitos outros muçulmanos que não são árabes e que quadruplicaram seu número. São de pele cobre, negra, amarela ou branca, e em seu conjunto totalizam mais de um bilhão de almas... E todos se consideram "descendentes espirituais" de Ismael.

Mas a Bíblia ressalta que a única maneira de obter verdadeira filiação espiritual com o Pai é através do Filho, rendendo-se a seus pés e reconhecendo-o como Senhor e Salvador. Até que isso ocorra, muitas das bençãos prometidas ficarão em suspenso. Sejamos, pois, instrumento nas mãos de Deus: como Hagar que alcançou oportunamente a água a Ismael para que não perecesse no deserto (Gênesis 21:19), vamos levar-lhes com urgência a Água da Vida que oferece a gratuita salvação.

Federico A. Bertuzzi

© Extraído da Revista Apuntes Pastorales, suplemento "Ellos y Nosotros" (vol. XIX, Nº 3, fevereiro 2002).

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