sábado, 2 de março de 2013

Guia universal de pronúncia tenta melhorar comunicação entre os povos



Fonética universal
Você está no Vietnã e quer um prato de sopa. Pergunta a um local onde pode conseguir uma "pho". Após uma confusão momentânea, em vez de receber a sopa que queria, você recebe um livro.
É a maldição da fonética.
"Pho" é a palavra certa para designar sopa em vietnamita. Mas, como faltou você enfatizar a vogal - falar o "o" mais intensamente -, acabou dizendo "cópia" (de livro).
O inglês tem mais armadilhas ainda. Há palavras de grafia igual - "desert", por exemplo - que com diferentes pronúncias tem diferentes significados (desertar ou deserto).
A ideia de buscar um entendimento fonético existe há mais de um século, sendo advogada por escritores como Charles Dickens e George Bernard Shaw (este último deixou muito de sua herança para um projeto de criação de um novo alfabético fonético).
SaypU
Agora, a causa foi encampada pelo sírio Jaber George Jabbour, um banqueiro que mora no Reino Unido.
Ele criou o SaypU (Projeto Universal Soletre como Você Pronuncia), um guia colaborativo de pronúncia de palavras estrangeiras - chicken - frango, em inglês -, por exemplo, vira tshikɘn.
O SaypU contém 23 letras do alfabeto romano, bem como um "e" invertido (ɘ), que equivale a um "a" mais suave. Não há c, q ou x.
Algumas traduções fonéticas do SaypU
Agree (concordar)ɘgrii
Exit (saída ou sair)egzit
Like (gostar)layk
Same (mesmo)seym
Father (pai)faathɘr
New (novo)nyuu
Vision (visão)vijɘn
Trata-se de uma variação quixotesca do Esperanto, a língua internacional que nunca conseguiu se popularizar.
Jabbour é um viajante frustrado, por nunca poder pronunciar as palavras que via em cartazes, cardápios ou sinais de rua nos países que visitava. Para ele, esse tipo de mal-entendido cria uma barreira. Em países como Índia e China, o alfabeto diferente cria uma barreira entre locais e visitantes.
Hoje, com programas de tradução cada vez mais precisos, a barreira fica sendo a fonética, defende Jabbour.
"Se as pessoas falam e pronunciam da mesma forma, se aproximam entre si. Acho que um mundo com um único alfabeto seria mais pacífico," diz.
Ceticismo
O site do SaypU tem atualmente 10 mil palavras que podem ser traduzidas ao novo alfabeto. Assim como a Wikipédia, usuários podem sugerir pronúncias e novas palavras.
Mas como lidar, por exemplo, com as diferentes pronúncias do inglês entre americanos e britânicos?
Sotaques diferentes não devem ser padronizados, defende Nicholas Ostler, presidente da Fundação de Línguas Ameaçadas, que se diz cético com novas empreitadas fonéticas, que já foram tentadas antes.
Ele explica que o SaypU terá dificuldades com idiomas do Cáucaso, que têm cinco ou seis formas de pronunciar o "k", ou com línguas sul-africanas em que sons guturais têm um papel importante.
Há também quem cite dificuldades práticas. "A ideia de começar algo (que abranja) todas as línguas parece exagerada", opina Masha Bell, autora deUnderstanding English Spelling, para quem seria mais apropriado concentrar as forças em reformar a pronúncia do inglês.
Jabbour, por sua vez, diz que não está tentando reformar o fluxo dos idiomas, apenas "redirecioná-lo". Quer que seu alfabeto complemente as línguas, como se fosse legendas, tornando-se talvez daqui a alguns séculos, uma espécie de alfabeto internacional.
Mas Henry Hitchings, autor de Language Wars, vê "utopia" na ideia.
"Projetos linguísticos utópicos, em que um sistema artificial é apresentado como uma alternativa ao que é desenvolvido naturalmente (pelos falantes) tende a falhar. As pessoas estão fortemente ligadas às distinções e às idiossincrasias das línguas que usam."
Para quem quiser testar, o endereço da ferramenta é www.saypu.com

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