domingo, 27 de abril de 2008

Senegal, exemplo da abrangência cultural do Evangelho


Introdução

“Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar”. (Habacuque 2.14). Pensando neste tema começo a imaginar como Cristo viveria nos extremos da terra ou como poderia ir aos extremos da terra. Talvez, para os irmãos que estão no Brasil, os extremos da terra signifiquem olocal onde nós estamos, aqui no Oeste da África, mais especificamente no Senegal. Desta forma imagino Cristo entre os tucouleres, ou entre os uólofes (maior etnia do país) ou ainda entre os mourides (ala islâmica mais radical do Senegal). Como poderia ser?
Sem dúvida, Jesus estaria bem contextualizado aos extremos culturais da terra. E no Senegal, sob um forte calor, ele pararia num local com teto de palha sustentado por estacas, cujas paredes são feitas com tecidos, que aqui chamamos de “restaurante”; sentaria numa esteira para comer num bol (prato grande onde todos comem juntos e, às vezes, com as mãos) um delicioso djebou jem (comida típica feita com arroz, peixe e alguns legumes) feito com o tradicional yaboy (o peixe mais barato, parecendo nossa sardinha, com muitas espinhas). Sim, ele estaria bem contextualizado. E ele está bem contextualizado através daqueles que são enviados para anunciá-lo às nações e aos povos de todas as tribos e línguas.
Quando falamos em ir aos extremos da terra não podemos ignorar os obstáculos existentes, e muito menos as oportunidades (pontes) para a pregação do Evangelho. Isso é o que chamamos de diversidade cultural.

Diversidade cultural
São muitas as variedades culturais, por isso o missionário precisa conhecer a cultura com a qual trabalha, pois na cultura existem obstáculos que tentam impedir a propagação do Evangelho, embora também haja pontes que nos ajudam na evangelização.
Quando chegou a Atenas, Paulo viu uma variedade de altares, cada um com o seu respectivo deus, e num deles estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO (Atos 17.16-31). “...Este que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio”, declarou o apóstolo. Mas, o que Paulo encontrou – uma ponte ou uma barreira? Se uma barreira, ele o transformou numa ponte e a usou para declarar a mensagem do Evangelho. Ele não criticou a cultura ou a vida religiosa do povo. Pelo contrário, disse: “Vejo que em todas as coisas vocês são muito religiosos” (v.22. BLH).

1. Obstáculos culturais á evangelização
A realidade africana mostra alguns obstáculos culturais para a pregação do Evangelho. Vejamos duas delas bem presentes no Senegal.

Crianças que nascem com deficiência mental
Muitas vezes é difícil pregar o Evangelho em algumas culturas porque os traços culturais e a vida religiosa estão de tal maneira enraizados que se constituem transformação das pessoas. Citando um exemplo dessa realidade veja o diálogo de uma missionária com uma jovem senegalesa sobre crianças que nascem com deficiência mental entre uma etnia ao sul do seu país:
- O que acontece com uma criança que nasce com problemas mentais? – pergunta a
missionária.
- A mãe a mata – responde a jovem, sem hesitar.
- Por quê? – quer saber a missionária.
- Se a mãe a deixar viver, quando crescer a criança irá matá-la, porque não tem entendimento – afirma a jovem.
- Como a mãe mata a criança? – insiste a missionária.
- Ela a deixa sozinha em casa e sai para visitar os amigos e parentes, passando todo o dia fora, sem alimentá-la, para que morra logo.
- Mas ela vai deixá-la chorando com fome, sozinha?! – indaga a missionária. – Então ela vai chorar até cansar e dormir – tenta argumentar a missionária para ver o que a jovem responde.
- A mãe regressará somente à noite e seguirá sem dar-lhe comida. No outro dia voltará a sair, até o dia em que regressará e a encontrará morta.
E a jovem continuou explicando à missionária:
- O que estas mães fazem não é bom; o certo seria levá-la de uma vez ao médico para que lhe dê algo para beber e morrer logo. E se viver no campo, onde não há hospitais, algum marabu (chefe religioso) poderá lhe fornecer o veneno.
Para nós isto é diabólico, mas para esse povo é um costume aceito, faz parte da sua cultura. Cristo precisa ser urgentemente anunciado neste contexto!

Festa de iniciação
Todo bassari (etnia do sul do Senegal) do sexo masculino tem obrigação de participar dessa festa. Se ele não participa não é considerado um homem, não é aceito na sociedade, nem consultado para as decisões da família ou do vilarejo e é perseguido. Alguns fazem o ritual sendo já velhos, quando seus filhos desejam fazer a iniciação. Como ele não a fizera, os filhos, se fizerem, se tornarão mais respeitados. Uma semana de festa. Os parentes dançam, comem o enap (comida típica) e bebem o bandi (vinho da região). Enquanto isso os candidatos ficam presos na floresta onde são consagrados nas árvores consideradas sagradas, vindo nos finais das tardes para lutarem com os já iniciados ou dançarem. Na verdade, o que acontece nesse período é um segredo e é tão forte para eles que nem mesmo os que se convertem não revelam os acontecimentos desses dias. Dizem que os espíritos matam os que ousam revelar.
Durante a festa os feiticeiros fazem sacrifícios em plena rua, tudo que se come é sacrificado, buscam-se soluções para os problemas nas árvores sagradas. A festa tem um poder tão grande que nesse período muitos crentes se desviam; para poderem participar da festa quase todos os adolescentes deixam a igreja e só voltam após a iniciação.
Depois dessa semana de festa, acontece algo terrível: eles dizem que agora é hora de mudar de espírito. Então os iniciados são proibidos de falar durante um ano; os parentes e conhecidos são proibidos de lhes contar o que se passou em sua vida até aquela data. Eles ficam completamente hipnotizados e vivem segundo a direção dos outros. Se disserem a um iniciado “sente-se”, ele senta; se ordenarem “não coma”, ele não come.
Um bassari iniciado estava sentado na frente da casa com toda a família quando começou uma forte chuva. Todos correram para dentro. Algum tempo depois sua mãe se lembrou e perguntou por ele. Estava no mesmo lugar, todo molhado, porque ninguém tinha lhe dito para correr e se abrigar. Durante um ano esses jovens ficam com as suas mentes totalmente controladas pelo diabo. Todo pacto e consagração que seus parentes quiserem poderão lhe induzir a fazer. No fim do ano, é feita uma outra festa, para (acreditam eles) colocar o espírito no menino. Então toda a família se reúne e lhe é apresentado a mãe, o pai e os familiares. Esse pacto deve ser renovado a cada três anos e outras cerimônias são feitas ao longo da vida para confirmar a iniciação.
Como ser um cristão entre essa etnia? Podem perceber como um bassari novo convertido luta para servir e seguir a Jesus? Existe um grande trabalho pela frente, um processo de libertação e quebras de pactos. O nosso maior desafio não é somente a quebra desses pactos, mas também desfazer os vínculos, pois a cada cerimônia que eles participam, os pactos são renovados. Nesta luta a consagração a Deus é fundamental e Ele é poderoso para desfazer as amarras do inimigo. Só a oração e o estudo da Palavra (mas aí também há mais uma dificuldade: a maioria é analfabeta) podem transformar essas vidas.

2. Pontes para a pregação do Evangelho
Se existem barreiras à pregação do Evangelho é necessário que se façam pontes para transpô-las. No Senegal temos usado as próprias manifestações culturais como falar do amor de Deus. Veja estes exemplos.

Festa do Tabaski
Esta é a festa mais importante do calendário muçulmano, pois celebra o sacrifício de Abraão e seu filho Ismael. Ela consiste em comprar um carneiro macho e sacrificá-lo por toda a familia, acreditando que isto encobrirá os pecados de todos. Esta é uma grande ponte para a pregação do Evangelho, pois anunciamos “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29).
Eu e minha família fomos convidados para irmos à casa de uma familia muçulmana por ocasião dessa festa. É um momento onde as famílias muçulmanas convidam outras pessoas que eles consideram amigos para estarem juntos. A festa é comemorada geralmente no mês de fevereiro. Por ocasião do Natal convidamos a família para estar conosco e pudemos então, de uma forma clara, anunciar o Evangelho do Reino.

Comportamento nas mesquitas
Os muçulmanos entram nas mesquitas de pés descalços e sentam no chão sobre uma esteira ou tapete para orarem e no momento da oração colocam as palmas das mãos para o alto desejando bênção sobre si. Contextualizamos esses gestos no momento de culto em nossa igreja. Nas primeiras reuniões foram utilizados tapetes e as pessoas entravam descalças. Entretanto, com o crescimento da igreja e a conseqüente falta de espaço, fomos obrigados a abandonar essa prática. Mas temos irmãos evangélicos em países islâmicos que oram com as palmas das mãos para cima, semelhante aos muçulmanos. Precisamos da sabedoria, do discernimento do Senhor para utilizarmos aspectos da cultura para a propagação do Evangelho. A mensagem do Evangelho pode ser muito bem contextualizada sem perder sua essência e sua eficácia na vida daqueles que a ouvem.

Aprendizado através de histórias
Pelo fato da maioria não ser alfabetizada e de ser um povo de tradição oral, no Senegal são comuns as histórias e contos tradicionais que são passados de pais para filhos. E o povo absorve bem, ao ponto de darem continuidade às suas práticas culturais e religiosas. Este aspecto é importantíssimo, pois o africano é um povo de histórias e isso constitui-se numa grande ponte para pregarmos o Evangelho. Assim, utilizamos também histórias da Bíblia contadas oralmente e/ou através de fitas cassetes. Este método segue a apresentação cronológica da Bíblia (da Criação até Jesus) e tem sido bem utilizado por muitos aqui na África. Por conta disso temos muitos frutos em nossa igreja.
Observaram quantas pontes? Para quê elas servem? Para atravessar, nao é mesmo? Então, vamos a todos os povos!

3 – Transformados dentro da própria cultura
Deus pode transformar o indivíduo onde ele vive utilizando a vida daqueles que decidiram ir ao encontro do povo perdido – os missionários. Antes de nossa vinda para o campo, Deus nos direcionou para o Senegal de uma forma clara. Não víamos outro país nem outra possibilidade e tínhamos realmente esta convicção do Senhor. Agora, depois de cinco anos no campo, continuamos pensando da mesma maneira: Deus nos guiou a este povo e é gratificante ouvirmos africanos ex-animistas e ex-muçulmanos de várias etnias cantando: “Em Jesus eu encontrei tudo o que nunca esperei, Ele me deu o amor, Ele me deu a paz, alegria...”.
Sim, o povo pode ser transformado pelo poder do Evangelho dentro de sua própria cultura. Uma transformação genuína, profunda, como a de uma senhora exmuçulmana, que fora casada com um chefe religioso como sua primeira esposa (o muçulmano tem direito de se casar com até quatro mulheres). Um amigo da família lhe procurou propondo uma reforma em sua casa, que estava literalmente caindo, mas com essa ajuda ele estava não somente interessado em que ela desistisse de Jesus, como em tê-la como esposa. Diante da proposta que ele fez, ela disse: “O meu Deus vai me ajudar em tudo que preciso, é Ele quem supre minhas necessidades”. Ela não tinha um franco (menor moeda senegalesa) para investir em sua casa, mas rejeitou a proposta, pois sabia que não vinha de Deus. Posso imaginar como foi difícil para ela diante da sua necessidade. Mas ela considerou como esterco a proposta e seguiu firme com Jesus. Depois de quase um ano, Deus levantou irmãos da Espanha para ajudá-la. Ele é fiel!

4 – Indo aos extremos da terra e anunciando Cristo em todas as culturas
O texto de Apocalipse 7.14 nos dá a visão para onde devemos direcionar a mensagem do Evangelho. Temos de ser instrumentos nas mãos de Deus para apresentar diante do Seu trono representantes salvos de todas as tribos, línguas e nações. Isso significa que para tê-los diante do trono de Deus é necessário irmos em direção a cada povo levando a mensagem do Evangelho.
Estava em uma aldeia cuja população é 100% muçulmana e conversava com o seu chefe. Ele disse: “Aqui no Senegal existem vários estados e vocês escolheram o nosso, e em nosso estado há várias aldeias e escolheram a nossa. Deus os guiou para escolher nossa aldeia. Obrigado por ter vindo de tão longe para nos abençoar”. É desta forma que vejo Cristo indo aos extremos da terra.
Para irmos aos povos precisamos sair. Não somente um sair geográfico, mas um sair emocional, sentimental, financeiro... Afirmo que jamais conseguiremos sair, mesmo que tenhamos a visão e os recursos, se não formos capazes de “cortar” as cordas que nos amarram.

Conclusão
O conhecimento cultural não é adquirido no primeiro dia que chegamos ao campo missionário. Existem casos onde passamos anos para conhecer determinado aspecto da cultura. Sabemos que a mensagem do Evangelho é universal, mas devemos levar em consideração a questão cultural e saber como introduzir o Evangelho através das pontes existentes.
Os obstáculos nunca devem nos fazer voltar, desistir, mas eles existem para serem ultrapassados. Devemos, portanto, fazer com que o Evangelho seja introduzido nesses corações. Sim, é possível pregar Cristo aos extremos da terra; é possível viver entre eles, comer o que eles comem, beber o que eles bebem, vestir o que eles vestem.
Conta-se que durante a guerra pela independência da Itália, Garibaldi, o grande patriota italiano, desafiou os seus soldados com palavras que se tornaram conhecidas: “Vou sair de Roma, não ofereço salário, comida, água, mas uma marcha pesada e muita luta. Aquele que me ama de todo o coração e não somente de lábios, siga-me”. Seria a causa desse grande líder italiano mais digna de abnegação por parte de seus soldados do que a causa dAquele que transformou nosso coração?

Autor:
Pr. Jailson Serpa Pereira, missionário das igrejas da CBB através da JMM no Senegal (temporariamente no Brasil)

Sugestão Didática para Apresentação do Estudo

OBJETIVO
· Apresentar a possibilidade de pregar Cristo em todos os contextos culturais, a partir do exemplo da obra missionária no Senegal.
· Ao final todos deverão perceber que a mensagem do Evangelho é capaz de alcançar mo homem e transformá-lo dentro de sua realidade cultural.

RECURSOS DIDÁTICOS
- Quadro e giz;
- Cartaz com a definição de cultura;
- Mapa da África;
- Cartaz ou transparência com a tabela: “Senegal – Obstáculos ou Pontes?”.

DESPERTANDO A ATENÇÃO
- Dirigir uma “explosão de idéias” sobre: “O que é Cultura?”;
- Anotar no quadro de giz as definições construídas;
- Apresentar para o grupo um cartaz com a definição: “Cultura é todo o complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer aptidões adquiridas pelo homem como membro da sociedade” (Taylor, 1871);
- Explicar que Cultura resume o modo de vida de uma sociedade.

APRESENTAÇÃO DO ESTUDO
- Mostrar o Senegal no mapa da África e informar que o missionário Jaílson Serpa Pereira trabalha no Oeste do país;
- Apresentar as peculiaridades da região explicando “restaurante”, “bol”, “djebou jem” e “yaboy”;
- Explicar que a diversidade cultural pode ser traduzida como obstáculo ou como ponte para a obra missionária. Tudo depende de como se vê;
- Contar a seguinte história: “Uma grande fábrica de calçados enviou dois vendedores para um lugar na África. Um deles, ao perceber toda a população descalça, entrou em contato com a fábrica e pediu que a remessa de calçados fosse suspensa, pois ninguém usava calçados. O outro vendedor, ao ver aquela multidão descalça, ficou entusiasmado e solicitou que dobrassem sua primeira remessa de calçados porque o povo não conhecia sapatos. A mesma situação e duas visões diferentes!”;
- Pedir a alguém que leia Atos 17.16-31. Perguntar como Paulo viu aquela situação;
- Ler o v.22 na Bíblia na Linguagem de Hoje. Explicar que Paulo aproveitou toda a religiosidade e apresentou o Deus Desconhecido;
- Utilizar o cartaz ou transparência (retroprojetor) conforme abaixo:
SENEGAL
Obstáculos Pontes
Deficiência Mental Festa do Tabaski
Festa de Iniciação Comportamento nas mesquitas
Aprendizado através de histórias
- Dividir o grupo em dois: um ficará com a parte “Obstáculos” e o outro com “Pontes”; entregar a cada grupo o conteúdo do estudo para que durante alguns minutos conheçam os aspectos culturais do Senegal;
- Dar oportunidade para que os dois grupos apresentem os obstáculos e as pontes para todos.
- Informar sobre as transformações que Deus tem operado no Senegal (testemunho da ex-muçulmana);
- Fazer um período de oração de gratidão pelos resultados no Senegal e pelas pontes usadas através da própria cultura senegalesa;
- Ler em uníssono Apocalipse 7.14.

Colaboração:
Deusirene Santos da Silva Moreira, Igreja Batista Central em São João de Meriti, RJ

www.jmm.org.br



FOTOS do SENEGAL


segunda-feira, 21 de abril de 2008

MALDIVAS



Dados gerais






• Capital
Male

• População
287 mil (27% urbana)

• Área
298 km2

• Localização
Arquipélago no Oceano Índico

• Idioma
Maldivense

• Religião
Islamismo 99,8%, cristianismo 0,12%

• População Cristã
350, fatia da população em declínio

• Perseguição
Severa e estável

• Restrições
A evangelização e a conversão de muçulmanos são proibidas.

• No século XXI…
Devido à grande quantidade de ilhas e ao diminuto número de cristãos, a evangelização e o crescimento da igreja serão difíceis e onerosos।
_______________________________________________________

A República das Maldivas é um grande arquipélago de 1.200 ilhas, localizado 1.600 km a sudoeste da Índia. As ilhas são o lar de quase 290 mil pessoas, cuja etnia é uma mistura de indianos, cingaleses, árabes e africanos. Embora quase a metade dos habitantes maldívios tenha idade inferior a 15 anos, estima-se que o elevado crescimento demográfico faça com que a população dobre antes de 2025. Com apenas 63 mil habitantes, Male, a capital, é a principal cidade, pois apenas um quarto da população é urbana. Praticamente não há analfabetismo no país.

A pesca e o turismo são as principais atividades econômicas e milhares de turistas visitam as Maldivas anualmente. Apesar disso, as condições de vida dos ilhéus são muito precárias se comparadas com as do resto do mundo. O trabalhador maldívio ganha, em média, menos de US$ 1.000 por ano.

As Maldivas foram colonizadas por budistas no século XII. Em 1314, o líder e governante das ilhas, um budista chamado Dharumasantha Rasgefanu, converteu-se ao islamismo e ainda mudou seu nome para Muhammed bin Abdullah. Em seguida, transformou o arquipélago em um sultanato islâmico que perdurou até o século XX. Em 1968, a república foi proclamada, três anos depois de o país conseguir sua independência.

Com raríssimas exceções, os habitantes das ilhas são muçulmanos de tradição sunita. Há uma pequena minoria de budistas entre os habitantes de etnia cingalesa.

A Igreja

Estimativas indicam que há cerca de 350 cristãos nas Maldivas. Os cristãos maldívios têm ligações históricas com as igrejas localizadas no Sri Lanka, especialmente os católicos. Basicamente, os cultos são realizados por pequenos grupos que se reúnem em casas para leituras bíblicas informais.

A Perseguição

Como o islamismo é a religião oficial das Maldivas, seu sistema legal baseia-se nas leis muçulmanas. Os direitos individuais são reconhecidos, mas não podem contrariar o Islã. Conseqüentemente, a evangelização é totalmente proibida. Até 1985, não havia cristãos conhecidos entre o povo maldívio, porém, nos últimos anos, pequenos grupos de novos convertidos têm se reunido para cultuar a Deus e estudar a Bíblia.

De acordo com a Christian Solidarity Worldwide,* cerca de 50 cristãos maldívios foram presos recentemente devido à sua fé. As autoridades muçulmanas decidiram buscá-los e prendê-los após a transmissão de um programa de rádio cristão na língua local. Na cadeia, o grupo foi pressionado a renunciar à sua recém-descoberta fé cristã e a retornar ao islamismo. Segundo informações, estes cristãos ainda foram forçados a participar de orações islâmicas e a ler o Alcorão.

*N. do E.: A Christian Solidarity Worldwide é uma organização inglesa de atuação mundial que luta pela liberdade religiosa de cristãos perseguidos e presta auxílio a pessoas oprimidas, crianças carentes e vítimas de desastres.

A última prisioneira do grupo a ser libertada foi uma mulher de 32 anos, Aneesa Hussein. Antes de se converter, ela havia discutido e debatido a fé cristã por vários meses. A princípio, ela não via muita diferença entre o cristianismo e o islamismo, mas reconsiderou a questão quando seu marido divorciou-se dela. Aneesa orou por aquela situação e, segundo o relato de uma amiga, ao longo de algumas semanas Deus tocou o coração de seu marido para que ele não a abandonasse. Essa mesma amiga diz que Aneesa encarou a mudança como uma resposta de Deus e passou a querer saber mais sobre Jesus. Aos poucos, ela cresceu na fé e aprendeu a perdoar, e as relações com o ex-marido melhoraram.

Quando estava na prisão, um oficial ameaçou matá-la alegando que ela era infiel. Ainda assim, Aneesa relatou que sentia a presença real de Deus no cárcere e que estava consciente de que seus irmãos cristãos no mundo todo a estavam apoiando por meio de orações.

Informações fornecidas por adolescentes à polícia também foram responsáveis pelo início da onda de prisões nas ilhas. Um dos informantes era o próprio filho de Aneesa. Ela foi confinada em isolamento e advertida de que permaneceria na solitária até que retornasse ao islamismo. Ainda assim, ela disse ao seu marido: "Eles podem me manter na prisão por dez anos, mas jamais retornarei ao islamismo. Não há nada no Islã para mim."

Os cristãos maldívios não ficaram surpresos com as prisões. Eles haviam lido sobre a perseguição na Bíblia, mas sabiam que o poder, o amor e a presença de Deus estariam com eles auxiliando-os a superar aquela situação. A fé daquele grupo provocou um forte impacto sobre os demais maldívios. Pela primeira vez, eles viram seus compatriotas persistirem voluntariamente na fé cristã apesar dos sacrifícios, sofrimentos e hostilidades. Além da perseguição oficial, os cristãos também costumam ser marginalizados por suas famílias e muitos perdem seus empregos.

As Maldivas podem ser um paraíso turístico, mas, como a própria amiga de Aneesa diz, há padrões culturais muito sombrios debaixo da aparência idílica e o perdão é algo muito raro. Além disso, as pessoas acreditam e se desesperam com o inferno, pois no islamismo há pouca esperança de se alcançar o céu. Na fé muçulmana, não há cruz, ressurreição ou salvação, e são poucos os sinais que indicam interesse ou amor de Deus pelo indivíduo.

Nesse momento, os maldívios estão começando a reconhecer que o poder de decidir qual é a suprema verdade para todos os cidadãos não deveria estar nas mãos de alguns poucos indivíduos.

O Futuro

Atualmente, a pequena igreja maldívia não cresce a uma taxa significativa. Com as restrições em vigor, instituídas por fundamentalistas islâmicos, é pouco provável que a curto prazo o cristianismo apresente grandes avanços nas Maldivas.

Motivos de Oração

1. A igreja está perdendo convertidos ao Islã. Ore pedindo um vigor renovado para os cristãos a fim de que possam descobrir novos meios de evangelizar e implantar igrejas.

2. A igreja sofre com a falta de interesse mundial. Ore para que cristãos em todo o mundo desenvolvam uma visão pelas Maldivas, até mesmo para servir como missionários no país. Ore para que os cristãos do Sri Lanka desenvolvam ministérios evangelísticos que alcancem bons resultados nas ilhas.

3। A economia é baseada na atividade turística। Ore para que cristãos estrangeiros façam viagens de oração e de reconhecimento para as Maldivas, desenvolvendo e alimentando a visão da Igreja mundial sobre o país.

Fonte: www.portasabertas.org.br
____________________________________________________________

FOTOS






Vista de algumas das ilhas do arquipélago









A capital do país, Male








Crianças das Maldivas





Paraíso turístico

terça-feira, 15 de abril de 2008

Compartilhando a Alegria – Ronaldo Lidório

A conversão de Makanda, filho de Mebá, do clã Sanbol dos Konkomba de Gana é um daqueles fatos que marcam nossas vidas.

Revisando o livro Konkombas para uma reedição em breve, tive o privilégio de consultar alguns dos primeiros convertidos entre os Konkomba-Bimonkeln a fim de preparar um capítulo dedicado especificamente a testemunhos pessoais. Fiquei admirado e alegre ao receber relatos tão intensos de pessoas como Mebá, Labuer, Kidiik e Makanda. É a história contada pela ótica de quem a experimentou.

Makanda é um rapaz brilhante e sincero. Após sua conversão foi rapidamente apontado como presbítero pela igreja ainda germinante e pouco a pouco passou a cooperar com o trabalho de saúde que Rossana iniciava. Hoje é um dos mais respeitados líderes Konkombas da região e está a frente da clínica em Koni. A época de sua conversão é setembro de 1995, que ele aqui aponta como "a época do inhame puná, um ano após a grande chuva". A "luz" a que ele se refere no seu testemunho são os primeiros raios da manhã que, na cultura Konkomba, significa esperança, ou seja, um novo dia em que algo bom pode acontecer.

Vale a pena ler seu relato que transmite alegria e aquece a alma.

Ronaldo e Rossana

“Antes de sermos cristãos nós adorávamos um fetiche chamado babasu que se localiza na aldeia de Sibru. Meu pai era feiticeiro grumadii mas eu estava a procura de algo novo.

Nós críamos que ele poderia curar ou ajudar aqueles que se devotavam a ele. Apesar de grumadii ser o fetiche invocado em Koni, em minha mente babasu era merecedor de devoção pois havia ouvido inúmeras histórias sobre seu poder.

Certo dia viajei até Sibru para trabalhar nos campos de inhame do feiticeiro local, e ali permaneci até o dia do sacrifício. Há vários tipos de sacrifícios, mas naquela manhã ele sacrificaria galinhas. Elas eram mortas com uma pancada na cabeça e todos observavam atentamente a forma como cairiam no chão, finalmente imóveis. Se elas caíssem com as pernas para cima significa que o espírito havia rejeitado o sacrifício. Com as pernas para baixo havia sido aceito.

Neste dia o sacrifício foi aceito e o sangue foi derramado, cuidadosa e lentamente, sobre um altar de pedra, uma espécie de mesa de pedra negra. A cor escura, eu cria, era devido ao sangue que ali era derramado constantemente. Após a cerimônia o feiticeiro local deu-me uma castanha como sinal de que o sacrifício havia sido aceito, e conseqüentemente o espírito levaria em consideração meu pedido, que era de proteção da morte e prosperidade.

Quando retornei a Koni continuei a servir babasu participando de sacrifícios e cerimônias e fiz o nome de babasu bem conhecido em nossa aldeia. De certa forma eu seguia os passos de meu pai, que trouxe a adoração a grumadii para aquela região. Também comecei a beber bastante. Lembro-me, inclusive, que estava um pouco bêbado quando o homem branco chegou pela primeira vez em nossa aldeia. Crianças corriam e choravam e todos estávamos curiosos para ver a ‘banana descascada’, como o chamávamos.

Nos meses que se passaram, porém, o homem branco não nos deixou. Víamos que ele sofria por não saber nossa língua e parecia sempre muito cansado. Ele, entretanto, aprendeu nossa língua em alguns meses e certo dia, sentados embaixo de uma castanheira, ele começou a nos falar sobre Uwumbor, um deus antigo e criador, mas que críamos estivesse perdido. Lembro-me de meus questionamentos: se Uwumbor é Deus mais poderoso que os espíritos, porquê não se manifesta como fazem os espíritos ? Por outro lado eu pensava: se Uwumbor for Deus, criador e mais poderoso, talvez seja quem nós procuramos. Era sabido por cada um de nós que grumadii e babasu, entre outros espíritos, não nos amavam. Algo, porém, nos fazia vacilar: como um estrangeiro nos ensinaria sobre o nosso próprio Deus ? Não parecia ser algo para nós.

Os feiticeiros começaram a acusá-lo de ser mentiroso e enganador. Também de perigoso ao utilizar de forma errada nossas histórias antigas. Curiosamente o vice-chefe da aldeia, do clã Binaliib, guardadores de fetiches, protegia o homem branco. O vice-chefe era homem conhecido por sua paciência e sabedoria, enquanto o chefe e seus filhos eram afoitos e guerreiros. A simpatia do vice-chefe nos fez pensar que talvez houvesse alguma verdade em suas palavras.

Certo dia o homem branco viajou e disse que voltaria. Pensávamos que ele não regressaria pois nossa região era muito distante, cortada por muitos riachos e planícies até chegar à terra dos Dabomgas, de onde ele poderia ir para algum outro lugar. Mas ele regressou e trouxe sua esposa, que sorria muito. Pareciam estar gostando do lugar e de nosso povo. Porquê estariam ali ? Pensávamos assim: será que foram expulsos de seu povo e precisam de um lugar para ficar ? Alguns sentiam pena deles, especialmente quando chegava a noite e víamos que não conseguiam dormir muito bem. Sempre diziam que estava quente, mesmo no inverno! Dormiam no pátio da casa do vice-chefe. Lá havia muita gente e não tinha muito espaço mas ninguém mais os queria receber. O vice-chefe, porém, parecia gostar deles. Quando eles falavam nossa língua todos queriam correr para escutá-los. Falavam engraçado e nós ríamos muito.

Um dia eles compraram um cabrito e prepararam alimento para várias pessoas. Convidaram os feiticeiros para o banquete. Todos na aldeia estavam curiosos para saber o que aconteceria. Treze feiticeiros compareceram, inclusive meu pai. A comida parecia boa e todos gostavam da forma como os brancos os alimentavam e lhes serviam água nas cabaças, se aproximando dos anciãos de cócoras e com respeito. Mas ao fim eles pediram permissão para lhes falar que tinham em mãos algo que lhes explicavam exatamente quem era Deus. Um livro que era a história de Deus. Todos ficaram muito encantados e prestamos atenção como este livro nos ensinava como as coisas haviam sido criadas. Algumas coisas eram parecidas com nossas histórias, outras meio diferentes, mas com muitos detalhes.

Ao fim, porém, houve um grande tumulto quando eles falaram que este Deus (Uwumbor), que criou a todos, não estava distante. Estava ali conosco, em Koni, nos observando, e triste porque adorávamos aos espíritos como se fossem Deus. Vários feiticeiros gritaram desafiando-os se Uwumbor era maior que seus espíritos. Alguns foram embora e outros permaneceram ouvindo. Gostávamos dos brancos, mas o que falavam era difícil de ouvir. No fundo acho que todos sabíamos que os espíritos que adorávamos eram maus e maliciosos. Na verdade sabíamos. Talvez nossa reação fosse por temor. E alguns pensaram assim: como estes brancos nos falam sobre nossos espíritos? Temíamos que nossos espíritos estivessem nos observando e que seríamos punidos se não os defendêssemos. Assim alguns gritaram com raiva dos brancos, mas de fato não estavam com raiva. Era apenas para que os espíritos não os punissem. Uwumbor, por outro lado, segundo os brancos, não precisava de defesa. Era algo curioso que me deixou muito pensativo. Fui para a roça sozinho no dia seguinte.

Certo dia alguma coisa em minha mente passou a me dizer que suas palavras eram verdadeiras, e isto me levou a desejar ouvi-lo ainda mais. Alguns falavam em matá-los, especialmente através de algum veneno conhecido. Seria fácil matá-lo pois eles comiam nossa comida e tomavam da nossa água. Moravam, porém, com a família do vice-chefe, que era conhecido como um homem bom e possivelmente não apoiaria o envenenamento. Mas acho que ninguém jamais conversou com o vice-chfe sobre isto. Mas eu não conseguia parar de pensar no que ele falava e fiquei pensando que, se Uwumbor realmente nos criou talvez não esteja tão longe.

Certo dia eu o ouvi pregar no meio da aldeia, enquanto as pessoas passavam, sobre o poder de Deus, o tema favorito do homem branco nos primeiros meses. Já que ele estava vivo mesmo falando tão mal dos espíritos talvez os espíritos não fossem tão fortes assim como pensávamos. Mas naquele dia ele nos falou sobre a salvação em Jesus Cristo e nos explicou a cruz. Foi diferente imaginar este Jesus, filho de Deus, e Deus feito gente, naquela cruz. Porque não fugiu ? Eu ficava pensando. Era a época do inhame puná, um ano após a grande chuva.

Não posso explicar muito bem o que aconteceu nem o momento exato que passei a crer em Deus mas em um certo momento eu vi a luz de Jesus perto de mim, e um sentimento de liberdade tomou conta de mim. Daquele dia em diante eu passei a contar minha experiência com Cristo com uma música.

‘Antes eu não sabia onde estava Jesus,

e eu procurava por caminhos de salvação.

Quando eu vi Jesus eu vi a luz’.

Muitas coisas aconteceram comigo depois, mas algo que ficou marcado era que, de alguma forma, Jesus parecia ser parte do nosso povo. Algo escondido que sempre procurávamos. Quando fui a procura de babasu, no fundo quem eu procurava era Jesus. Quando outros vão atrás de babasu, na verdade procuram é a Jesus.

Daquele dia em diante quando alguém me perguntava sobre Jesus eu alegremente respondia: quando eu vi Jesus, vi a luz.”


E.mail: ronaldo.lidorio@terra.com.br
www.ronaldo.lidorio.com.br

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O QUE É LINGÜÍSTCA

Lingüística (Brasil) ou linguística (Portugal) é o estudo científico da linguagem verbal humana. Um lingüista é alguém que se dedica a esse estudo. A pesquisa lingüística é feita por muitos especialistas que, geralmente, não concordam harmoniosamente sobre o seu conteúdo. Russ Rymer disse, ironicamente, que

"A lingüística é a parte do conhecimento mais fortemente debatida no mundo acadêmico. Ela está encharcada com o sangue de poetas, teólogos, filósofos, filólogos, psicólogos, biólogos e neurologistas além de também ter um pouco de sangue proveniente de gramáticos." (Rymer, p. 48, citado em Fauconnier & Turner, p. 353.)

Alternativamente, alguns chamam informalmente de lingüista a uma pessoa versada ou conhecedora de muitas línguas, embora um termo mais adequado para este fim seja poliglota.

Esforços de descrição e de regulamentação: concepções estritas de lingüística

Provavelmente, a maior parte do trabalho feito atualmente sob o nome de língüistica é puramente descritivo. Os seus autores estão procurando clarificar a natureza da linguagem sem usar juízos de valor ou tentar influenciar o seu desenvolvimento futuro. Há,também, alguns profissionais (e mesmo amadores) que procuram estabelecer regras para a linguagem, sustentando um padrão particular que todos devem seguir. As pessoas atuantes nesses esforços de "descrição" e "regulamentação" têm sérias desavenças sobre como e por quê razão a linguagem deve ser estudada. Esses dois grupos podem descrever o mesmo fenômeno de modos diferentes, em "linguagens" diferentes. Aquilo que, para um grupo, é "uso incorreto" para o outro é "uso idiossincrático" ou apenas simplesmente o uso de um subgrupo particular (geralmente menos poderoso socialmente do que o subgrupo social principal, que usa a mesma linguagem).

Em alguns contextos, as melhores definições de "lingüística" e "lingüista" podem ser: "aquilo estudado em um típico departamento de lingüística de uma universidade" e "a pessoa que ensina em tal departamento." A lingüística, nesse sentido estrito, geralmente não se refere à apredizagem de outras linguas que não a nativa do estudioso (exceto quando ajuda a criar modelos formais de linguagem). Especialistas em lingüística não realizam análise literária e não se aplicam a esforços para regulamentar como aqueles encontrados em livros como The Elements of Style (Os Elementos de Estilo, em tradução livre), de Strunk e White. Os lingüistas procuram estudar o que as pessoas fazem nos seus esforços para comunicar usando a linguagem e não o que elas deveriam fazer.

Divisões da lingüística

Os lingüistas dividem o estudo da linguagem em certo número de áreas que são estudadas mais ou menos independentemente. Estas são as divisões mais comuns:

  • fonética, o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
  • fonologia, o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
  • morfologia, o estudo da estrutura interna das palavras;
  • sintaxe, o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases gramaticais.
  • semântica, podendo ser, por exemplo, formal ou lexical, o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a integram;
  • lexicologia, o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que contribui para a lexicografia, área de atuação dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras que descrevem o uso ou o sentido do léxico;
  • estilística, o estudo do estilo na linguagem;
  • pragmática, o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente, figurativamente ou de quaisquer outras maneiras) nos atos comunicativos;
  • filologia é o estudo dos textos e das linguagens antigas.

Nem todos os lingüistas concordam que todas essas divisões tenham grande significado. A maior parte dos lingüistas cognitivos, por exemplo, acha, provavelmente, que as categorias "semântica" e "pragmática" são arbitrárias e quase todos os lingüistas concordariam que essas divisões se sobrepõem consideravelmente. Por exemplo, a divisão gramática usualmente cobre fonologia, morfologia e sintaxe.

Ainda existem campos como os da lingüística teórica e da lingüística histórica. A lingüística teórica procura estudar questões tão diferentes sobre como as pessoas usando suas particulares linguagens conseguem realizar comunicação, quais propriedades todas as linguagens têm em comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade lingüística é adquirida pelas crianças.

A linguagem no tempo

Os lingüistas podem ser divididos entre os que estudam a linguagem em um dado ponto do tempo (geralmente o presente, lingüística sincrônica) e aqueles que estudam sua evolução através do tempo (lingüística diacrônica); séculos, por vezes.

Geralmente, os lingüistas de um campo acham que o outro campo é menos interessante e fornece menos possibilidade de compreensão dos problemas da linguagem.

A lingüística histórica, dominante no século XIX, tem por objetivo classificar as línguas do mundo de acordo com suas afiliações e descrever o seu desenvolvimento histórico. Na Europa do século XIX, a lingüística privilegiava o estudo comparativo histórico das línguas indo-européias, preocupando-se especialmente em encontrar suas raízes comuns e em traçar seu desenvolvimento. Nos Estados Unidos, onde começou a se desenvolver, no final do século XIX, houve uma concentração sobre a documentação de centenas de línguas nativas que foram encontradas na América do Norte.

A preocupação com a descrição das línguas espalhou-se pelo mundo e milhares dessas foram analisadas em vários graus de profundidade. Quando esse trabalho esteve em desenvolvimento no início do século XX na América do Norte, os lingüistas se confrontaram com línguas cujas estruturas diferiam fortemente do paradigma europeu, mais familiar, de forma que começaram a aperceber-se de que necessitavam desenvolver uma teoria da estrutura das línguas e métodos de análise.

Fora de tais preocupações, desenvolveu-se o campo conhecido como lingüística estrutural, cujos pioneiros são Franz Boas, Edward Sapir e Leonard Bloomfield.

Para a lingüística histórico-comparativa ser aplicada a línguas desconhecidas, o trabalho inicial do lingüista era fazer sua descrição completa. A linguagem verbal era, geralmente, vista como consistindo de vários níveis, ou camadas, e, supostamente, todas as línguas naturais humanas tinham o mesmo número desses níveis.

O primeiro nível é a fonética, que se preocupa com os sons da língua sem considerar o sentido. Na descrição de uma língua desconhecida esse era o primeiro aspecto estrutural a ser estudado. A fonética divide-se em três: articulatória (que estuda as posições e os movimentos dos lábios, da língua e dos outros órgãos relacionados com a produção da fala (como as cordas vocais); acústica, que lida com as propriedades das ondas de som; e auditiva, que lida com a percepção da fala.

O segundo nível é a fonologia, que identifica e estuda os menores elementos distintos (chamados de fonemas) que podem diferenciar o significado das palavras. A fonologia também inclui o estudo de unidades maiores como sílabas, palavras e frases fonológicas e de sua acentuação e entoação.

No nível seguinte, são analisadas as unidades com as quais as palavras são montadas, os "morfemas." Esses são as menores unidades da gramática: raízes, prefixos e sufixos. Os falantes nativos reconhecem os morfemas como gramaticalmente significantes ou significativos. Eles podem freqüentemente serem determinados por uma série de substituições. Um falante de inglês reconhece que "make" é uma palavra diferente de "makes", pois o sufixo "-s" é um morfema distinto. Em inglês, a palavra "morfeme" consiste de dois morfemas, a raiz "morph-" e o sufixo "-eme"; nenhum dos quais tinha ocorrência isolada na língua inglesa por séculos, até "morph" ser adotado em lingüística para a realização fonológica de um morfema e o verbo "to morph" ter sido cunhado para descrever um tipo de efeito visual feito em computadores. Um morfema pode ter diferentes realizações (morphs) em diferentes contextos. Por exemplo, o morfema verbal "do" do inglês tem três pronúncias bem distintas nas palavras "do", "does" (com o sufixo "-es")e "don't" (com a aposição do advérbio "not" em forma contracta "-n't"). Tais diferentes formas de um morfema são chamados de alomorfos.

Os padrões de combinações de palavras de uma linguagem são conhecidos como sintaxe. O termo gramática usualmente cobre sintaxe e morfologia, o estudo da formação da palavra. Semântica é o estudo dos significados das palavras e das construções sintáticas.

Escolas importantes de pensamento em linguística

Na Europa houve um desenvolvimento paralelo da linguística estrutural, influenciada muito fortemente por Ferdinand de Saussure, (1857 -1913), um estudioso suíço de indo-europeu cujas aulas de lingüística geral, publicadas postumamente por seus alunos, deram a direção da análise lingüística européia da década de 1920 em diante; esse enfoque foi amplamente adotado em outros campos sob o termo "estruturalismo" ou análise estruturalista. Ferdinand de Saussure também é considerado o fundador da semiologia.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Leonard Bloomfield e vários de seus alunos e colegas desenvolveram material de ensino para uma variedade de línguas cujo conhecimento era necessário para o esforço de guerra. Este trabalho levou ao aumento da proeminência do campo da lingüística, que se tornou uma disciplina reconhecida na maioria das universidades americanas somente após a guerra.

Noam Chomsky desenvolveu seu modelo formal de linguagem, conhecida como gramática transformacional, sob a influência de seu professor Zellig Harris, que por sua vez foi fortemente influenciado por Bloomfield. O modelo de Chomsky foi reconhecidamente dominante desde a década de 1960 até a de 1980 e desfruta ainda de elevada consideração em alguns círculos de lingüistas. Steven Pinker tem se ocupado em clarificar e simplificar as idéias de Chomsky com muito mais significância para o estudo da linguagem em geral.

Da década de 1980 em diante, os enfoques pragmáticos, funcionais e cognitivos vêm ganhando terreno nos Estados Unidos e na Europa. Umas poucas figuras importantes nesse movimento são Michael Halliday, cuja gramática sistêmica-funcional é muito estudada no Reino Unido, Canadá, Austrália, China e Japão; Dell Hymes, que desenvolveu o enfoque pragmático "A Etnografia do Falar"; George Lakoff, Len Talmy, e Ronald Langacker, que foram os pioneiros da lingüística cognitiva; Charles Fillmore e Adele Goldberg, que estão associados com a gramática da construção; e entre os lingüistas que desenvolvem vários tipos da chamada gramática funcional estão Simon Dik, Talmy Givon e Robert Van Valin, Jr.

Outros importantes ou notáveis lingüistas e semióticos são:

Falantes, comunidades lingüísticas e os universais da lingüística

Os lingüistas também diferem em quão grande é o grupo de usuários das linguagens que eles estudam. Alguns analisam detalhadamente a linguagem ou o desenvolvimento da linguagem de um dado indivíduo. Outros estudam a linguagem de toda uma comunidade, como por exemplo a linguagem de todos os que falam o Black English Vernacular. Outros ainda tentam encontrar conceitos lingüísticos universais que se apliquem, em algum nível abstrato, a todos os usuários de qualquer linguagem humana. Esse último projeto tem sido defendido por Noam Chomsky e interessa a muitas pessoas que trabalham nas áreas de psicolingüística e de Ciência da Cognição. A pressuposição é que existem conceitos universais na linguagem humana que permitiriam a obtenção de importantes e profundos entendimentos sobre a mente humana.

Fala versus escrita

Alguns lingüistas contemporâneos acham que a fala é um objeto de estudo mais importante do que a escrita. Talvez porque ela seja uma característica universal dos seres humanos, e a escrita não (pois existem muitas culturas que não possuem a escrita). O fato de as pessoas aprenderem a falar e a processar a linguagem oral mais facilmente e mais precocemente do que a linguagem escrita também é outro fator. Alguns (veja cientistas da cognição) acham que o cérebro tem um "módulo de linguagem" inato e que podemos obter conhecimento sobre ele estudando mais a fala que a escrita.

A escrita também é muito estudada e novos meios de estudá-la são constantemente criados. Por exemplo, na intersecção do corpus lingüístico e da lingüística computacional, os modelos computadorizados são usados para estudar milhares de exemplos da língua escrita do Wall Street Journal, por exemplo. Bases de dados semelhantes sobre a fala já existem, um dos destaques é o Child Language Data Exchange System ou, em tradução livre, "Sistema de Intercâmbio de Dados da Linguagem Infantil".

Estudos inspirados no cérebro

Psicolingüística e neurociência fazem pesquisa lingüística centrada no cérebro.


Fonte:

www.tiosam.com/enciclopedia

sábado, 5 de abril de 2008

A influência da língua árabe no português do Brasil – um artigo de Antônio Houaiss

Amados irmãos e leitores, disponibilizamos aqui, para download, o artigo "As Projeções da Língua Árabe na Língua Portuguesa", escrito pelo erudito Antônio Houaiss.
Embora não tenha conotação religiosa, o texto é interessante por apresentar um estudo lingüistico aprofundado, sendo proveitoso tanto para o interessado no estudo das línguas e da lingüística em si, quanto para o leitor comum.

Para baixar o arquivo, Clique Aqui.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...