quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Conheça melhor o Tifo


O tifo epidêmico, coloquialmente referido simplesmente como Tifo, é uma doença epidémica transmitida por piolhos, parasitas comuns no corpo humano, e causado pela bactéria Rickettsia prowazekii.
tifo é uma doença causada pela R. prowasekii, distinta e não relacionada à Febre tifóide que é causada pelas Salmonella. Há outras formas semelhantes ao Tifo, como Tifo endémicocausado pela R. typhi e Tifo do mato causado pela Orientia tsutsugamushi (antigamente R. tsutsugamushi).

Rickettsia prowazekii

Rickettsia prowasekii é um pequeno (menos de meio micrómetro) bacilo cocóide parasita intracelular que é incapaz de se reproduzir fora das suas células hóspedes.
Infecta os piolhos do corpo humano Pediculus humanus corporis. Permanece viva muitos dias nas fezes e/ou cadáveres dos piolhos.


Epidemiologia

O tifo epidémico foi durante muito tempo uma causa importante de epidemias mortíferas na Europa (especialmente Europa de Leste e Rússia) e Ásia. Hoje em dia está erradicada na Europa, e em outras regiões quando surge as medidas de saúde pública geralmente previnem o aparecimento de epidemias. Existem casos esporádicos na América do Sul, Ásia e África.
Infecta os piolhos do corpo humano Pediculus humanus corporis, mas é rapidamente mortal para eles também, logo as epidemias que surgem têm de ser de transmissão rápida, exigindo grande número de pessoas e piolhos susceptíveis, como em exércitos e outras aglomerações. É por essa razão que as epidemias são facilmente evitáveis por medidas simples de higiene das roupas, e banho regular.


Progressão e sintomas

Exantema no peito de homem com tifo epidémico, no Burundi
É transmitido pelo piolho humano do corpo Pediculus humanus corporis, (mais raramente pelo piolho dos cabelos), que os excretam nas suas fezes, invadindo o ser humano através de pequenas feridas invisíveis. A incubação é de 10 a 14 dias, enquanto as bactérias se reproduzem no interior de células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos, libertando a descendência para o sangue de forma continua, cominflamação dos vasos (causa do eritema).
A febre alta surge após essas duas semanas, seguida do exantema (eritema) em manchas após mais quatro a sete dias.
A mortalidade é de 20% se não tratado convenientemente, mas em algumas epidemias em desnutridos pode chegar a 66%.

[editar]Doença de Brill-Zinsser

A doença de Brill-Zinsser é uma infecção secundária que pode surgir anos mais tarde num periodo de fraqueza devido às rickettsias que se esconderam do sistema imunitário dentro das células em estado quiescente. Caracteriza-se por sintomas mais moderados.


Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico é feito através da detecção de anticorpos específicos contra a R.prowasekii no soro sanguíneo do doente. Também é possível a observação microscópica após cultura de amostras em meios com células vivas (recolhidas de ovos fecundados de galinha). Podem-se confirmar os achados por detecção de DNA através da técnica de PCR.
O tratamento é com antibióticos, sendo a primeira escolha as tetraciclinas. Existe uma vacina que não é muito eficaz.


História

Os exércitos de Napoleão Bonaparteforam atingidos pelo Tifo durante a Campanha na Rússia. Quadro de Antoine-Jean Gros.
Campanhanazi-antijudaicadizendo que os judeus são contaminadores de tifo na Polônia.
O Tifo foi uma importante causa de epidemias antes da Segunda Guerra Mundial. Atingia particularmente os exércitos em campanha e as populações prisionais.
Alguns historiadores acreditam que foi o tifo a doença misteriosa que atingiu Atenas no século de Péricles (430 a.C), um evento associado ao declínio dessa grande cidade-estado.
Uma das epidemias mais importantes foi aquela que atingiu Napoleão Bonaparte e a sua Grande Armée na sua campanha de invasão daRússia, em 1812. Durante a retirada dos suas tropas após a destruição de Moscovo pelos russos, as tropas de Napoleão foram reduzidas de 600.000 a 40.000 mais devido ao Tifo e ao frio que às tropas inimigas.
Outra epidemia mortífera surgiu na Irlanda entre 1846 e 1849 durante a fome da batata nesse país, onde o Tifo se uniu à destruição de um fungo parasita dessa cultura para reduzir, pela morte e emigração, a população da ilha para menos de um terço.
As medidas higiênicas militares, hoje parte importante da disciplina de todos os exércitos, foram introduzidas pelos franceses em reação à mortalidade pelo Tifo. A obrigatoriedade de raspar a barba e cortar o cabelo rente foram medidas inicialmente introduzidas nos soldados de forma a erradicar os piolhos transportadores da infecção. Antes de se descobrir que a higiene e a limpeza das roupas reduziam as mortes por tifo, a higiene não era grande preocupação para os oficiais. Devido a estas medidas, durante a primeira guerra mundial na frente ocidental quase não houve mortes de Tifo, enquanto na frente oriental, após a quebra de autoridade que se seguiu à Revolução de Outubro na Rússia Czarista, três milhões de pessoas morreram da doença.
Apesar de medidas baratas e fáceis de prevenção já serem conhecidas, os Nazis deixaram centenas de milhares de presos nos seus campos de concentração, incluindo a maioria de Judeus, morrer da doença durante a Segunda Guerra.


História da Medicina

A primeira descrição reconhecível de Tifo foi dada em 1083 em Itália. Só em 1546 é que o famoso médico de FlorençaGirolamo Fracastoro (o primeiro médico a defender os germes como causa das doenças), descreveu a doença em termos científicos.
Em 1909Charles Nicolle identificou o piolho como vetor da doença. Ganhou em 1928 o Prêmio Nobel pela sua descoberta.
Foi Henrique da Rocha Lima em 1916 quem identificou a bactéria Rickettsia prowazekii como responsável pela doença. O nome homenageia H. T. Ricketts eStanislaus von Prowazek, dois zoólogos que perderam as suas vidas vítimas da doença ao investigá-la em 1915 numa prisão.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Planiglobe - obtenha mapas personalizados

O Planiglobe é um site no qual você produz mapas em formato de vetores [Post Script (PS) ou Adobe Illustrator (AI)]. Além de salvar a imagem para uso posterior, também há possibilidade de imprimir o que é visto na tela.

Planiglobe


Você pode escolher vários níveis de zoom, fazer buscas por nome de cidades e adicionar lugares a um mapa antes de baixá-lo (fornecendo latitude e longitude do local). Pode configurar a exibição (ou não) de detalhes como, por exemplo, fronteiras das províncias/estados, dados topográficos (ruas, rios, lagos) e inserir linhas entre pontos. No link Country Maps você pode escolher direto um país para ver seu mapa, sem ter de fazer buscas no site.
As imagens produzidas no site são licenciadas segundo uma licença Creative Commons 2.5. Para saber mais detalhes com relação a esse assunto veja os links Copyright/Licence e Terms os Use.
Você também pode achar mapas e informações de continentes, países e cidades em One World - Nations Online, em sua seção Maps. Não sei, no entanto, se esses mapas podem ser utilizados livremente.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Superfly – Buscador de vôos que leva em conta nossas milhas, cupões e informações pessoais

Buscadores de vôos existem muitos, capazes de encontrar as melhores ofertas para viajar entre dois pontos. Superfly lança outro com uma diferença fundamental: leva em conta nossa experiência em cada companhia, rastreando as milhas, cartões e outras informações que possam reduzir o preço de cada trajeto.
Depois de associar os cartões de cada companhia em nossa conta, veremos os resultados personalizados, obtendo descontos especialmente desenhados para nós. Desta forma, se formos clientes habituais de uma companhia específica, veremos como o preço se reduz de forma proporcional aos pontos acumulados com ela.
Infelizmente, no momento só está disponível nos Estados unidos e alguns países da Europa, porém apresenta uma proposta diferente que, seguramente, começaremos a ver em muitos outros buscadores de vôos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Um alerta sobre a coqueluche

Por Gabriella Lima

A coqueluche é doença contagiosa causada por uma bactéria - Bordetella pertussis - de rápida proliferação no sistema respiratório. Sua transmissão ocorre especialmente pelo contato direto com indivíduos que já foram contaminados pela bactéria e não se trataram.
No Brasil, o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), ligado ao Ministério da Saúde, contabilizou 593 casos de coqueluche em 2011. Desses, 451 ocorreram em crianças menores de um ano, as mais vulneráveis às complicações decorrentes dessa doença que pode, inclusive, levar à morte.
Quais são os sintomas?
  • Inicialmente, os sintomas são semelhantes aos da gripe (tosse, coriza, febre, olhos irritados e, em alguns casos, vômito), por isso, muitas vezes os médicos não coseguem diagnosticar a doença.
  • No segundo estágio, aparecem tosses mais fortes e, em alguns casos, as costelas podem até se quebrar por causa da intensidade delas.
  • Pneumonia e infecções de ouvido também são frequentes neste período.
Como prevenir?
A principal forma de prevenção contra a coqueluche é a vacina. Anticorpos contra a doença são criados quando os bebês recebem a vacina Tríplice Bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche.
O programa de imunização básico no Brasil prevê as três doses da Tríplice, aplicada aos dois, quatro e seis meses de idade. Doses extras de reforço ao calendário infantil são recomendadas aos 15 meses de idade e também no período escolar, entre 4 e 6 anos.
Quer mais informações sobre a doença e seu tratamento? Acesse o site do Ministério da Saúde e se informe.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Brasil corre para registrar línguas indígenas que estão desaparecendo



(Estadão) Em 2012 o governo federal vai destinar R$ 2,1 milhões para projetos de documentação de línguas indígenas ameaçadas de extinção. Será a primeira vez que esse tipo de ação terá uma destinação específica de verbas no Orçamento da União.

A decisão do governo está ligada a pressões internacionais. O Brasil figura em terceiro lugar na lista dos dez países do mundo com maior número de idiomas ameaçados.

De acordo com o Atlas das Línguas do Mundo em Perigo, no território brasileiro o total de línguas condenadas ao desaparecimento chega a 190. No topo da lista daquela publicação aparecem a Índia, com 198 línguas, e os Estados Unidos, com 191.

O Atlas é uma publicação da Unesco, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para as áreas de educação, ciência e a cultura. No início deste mês, durante um congresso internacional realizado em Quito, no Equador, a instituição apresentou publicamente a sua quarta reedição, com dados atualizados.

De acordo com a públicação, qualquer língua falada por menos de um milhão de pessoas corre algum risco. Por esse critério, do total de quase 6 mil línguas existentes no mundo, cerca de 2.500 estão em perigo.

No Brasil estima-se que cerca de 40 línguas são faladas por menos de 300 habitantes. Na avaliação do diretor do Museu do Índio, o antropólogo José Carlos Levinho, elas devem desaparecer nas próximas duas décadas.

O museu coordena há três anos um esforço nacional de registro e documentação das línguas que irão desaparecer. O dinheiro da União será destinado a essa empreitada, que também conta com o apoio do Instituto Max Planck, da Alemanha, e de várias universidades e centros de pesquisa do País. Além dos recursos da União, o projeto tem recursos da Fundação Banco do Brasil e da Unesco.

Na entrevista abaixo, concedida ao estadão.com.br, Leivinho fala sobre o desafio de documentar as línguas indígenas antes que desapareçam.

O número apontado pela Unesco, de 190 línguas ameaçadas de extinção, está correto?
Não existe um número exato. As estimativa variam de 160 a 190 línguas. Nesse conjunto, o que mais nos preocupa é que quase 40 são faladas por menos de 300 habitantes. Isso significa que é praticamente impossível que continuem existindo. Esse patrimônio cultural vai desaparecer, provavelmente, nas próximas duas décadas.

Por que o assunto preocupa tanto a Unesco? É possível salvar essas línguas?
A Unesco se preocupa porque se trata de um patrimônio cultural que demorou milhares de anos para ser construído e está desaparecendo num curto espaço de tempo. Não propõe salvar as línguas, mas documentá-las antes que desapareçam. Trata-se do registro das línguas, das culturas, dos acervos indígenas.

O que o Museu tem feito?
Nos últimos três anos trabalhamos com a documentação de um grupo de 13 línguas e 22 culturas, escolhidas no meio daquele conjunto ao qual já me referi, das 40 mais ameaçadas.

Como é feito o trabalho?
Trata-se do registro da língua, em arquivos digitais, com o objetivo de conhecê-la, o que não é fácil. A compreensão de uma língua é extremamente complexa. O trabalho também inclui a produção de uma gramática básica, dicionário, material didático e diagnóstico sociolinguístico. No momento já temo s 493 horas de filmes gravados em vídeos, com informações necessárias para o entendimento da língua. Também temos 321 horas de gravação de áudio e um conjunto de 50.017 fotografias documentando a vida desses povos.

O que será feito com esse material?
Nós vamos por tudo na internet, à disposição dos interessados. Os conteúdos também serão postos à disposição das escolas. Após o término da digitalização, todo o material coletado será devolvido aos povos indígenas.

No meio da população brasileira, que gira em torno de 400 mil pessoas, qual a língua mais falada? E qual tem menos falantes?A mais falada é o guarani. Quanto à segunda parte da pergunta, não é possível dar uma resposta exata. Já encontramos casos em que sobraram só dois falantes. Em Rondônia foi localizado um idioma falado por cinco sobreviventes de um povo. Desde que iniciamos o trabalho, três anos atrás, já vimos duas línguas desaparecerem, por falta de falantes, no Mato Grosso.

via http://www.ultimato.com.br

Leia tambémQuando morre uma língua
A Questão Indígena -- Uma luta desigual
História da Evangelização do Brasil 


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A Tradução da Bíblia como Missão Holística

Introdução

Este documento tenta desenvolver uma conexão natural entre a tradução da Bíblia e a missão holística. A tradução bíblica é uma tarefa desalentadora porque mais de 2.700 línguas ainda não contam com uma tradução das Escrituras. Isto justifica a construção de uma conexão com a missão holística devido à importância tanto da tradução bíblica como de um ministério holístico em missiología. Este documento, portanto, examina as conexões bíblica, histórica e contemporânea que existem entre a tradução da Bíblia e um ministério holístico.

Tradução da Bíblia e Missão Holística

Podemos começar a construir uma conexão através do enfoque do Evangelho em transformar a pessoa completa. “A missão holística é “a integração intencional de edificar a igreja e transformar a sociedade” (McConnell, 2000: 448). É o “processo de facilitar a mudança em uma comunidade ou região” (Voorhies: 1999: 558). Esta mudança tem como foco que a pessoa completa seja como Cristo em todas as dimensões, “material, social e espiritual - bem como na comunidade - econômica, social e política” (Voorhies: 1999, 588).
Em geral, o desenvolvimento transformador e a missão holística enfocam as pessoas e comunidades marginalizadas do mundo. Estas são as mesmas pessoas a quem a Tradução Bíblica serve como missão. O que está em jogo para estas pessoas são as “estratégias de sobrevivência em uma cultura particular, as quais implicam em uma combinação de atividades agrícolas, médicas, religiosas, educacionais, comerciais, de construção e domésticas que contribuam ao bem-estar humano” (Bradshaw, 2000: 966).
A Missão holística “não vê como prioridades separadas, mas sim como partes de um todo” (Steward: 2000, 448). A conexão com a tradução da Bíblia, portanto, não deve ser vista como o que precisa ser feito (por exemplo as numerosas línguas que ainda precisam de tradução), mas sim como uma parte do plano transformador e holístico de Deus para que as nações o glorifiquem.
A tradução bíblica como missão contém muitas disciplinas que podem ser expressadas de uma perspectiva holística. São elas: alfabetização (dirigida a temas de alfabetização), sociolingüística (aprender como as pessoas usam o idioma em seu contexto social), etnomusicología (entender e apreciar a música das pessoas), antropologia (apreciar os fatores culturais dos povos), lingüística (em especial “conceitos básicos concernentes à prática, como os métodos e procedimentos de ensino-aprendizagem de uma língua” [Dickenson, 2000: 580]) e tradução (a “transmissão de uma mensagem de uma língua para outra seja em forma escrita ou oral” [Scout, 2000: 967]).
O conceito de “tradutibilidade” da Palavra de Deus se encontra no coração da tradução da Bíblia. Isto assegura que a Palavra de Deus esteja disponível para todos os povos no idioma de seu coração. Este compromisso assegura que a mensagem de Deus às pessoas seja “expressa em seu próprio idioma e cultura” (Shaw, 2000: 125) de tal maneira que “o poder e a autoridade de Deus chegam a eles diretamente em sua cultura” (Shaw, 2000: 125).
A tradução da Bíblia ao contexto dos grupos minoritários do mundo assegura que “a Bíblia dê poder aos fracos e leve os poderosos a reconhecerem sua própria fraqueza diante de Deus” (Shaw, 2000: 125). O entendimento espiritual obtido das Escrituras vernáculas infunde harmonia dentro das comunidades cristãs emergentes. Por meio do entendimento e tradução das Escrituras as pessoas “desenvolvem uma consciência de Deus e entendem sua relação com Ele” (Shaw, 2000: 125). Do mesmo modo, não depositam sua confiança no mundo externo e são equipados para fazer teologia em seu contexto e aplicar isto a sua vida diária (Shaw, 2000: 125.
Por último, é necessário enfatizar que muitos cristãos assumem que a Bíblia trata somente de assuntos espirituais e, portanto, só é aplicável à devoção pessoal e ao crescimento espiritual. Entretanto, a Bíblia precisa falar por si mesma. Portanto, precisa ser liberada “de seu cativeiro espiritual e ter permissão para se conectar e falar com todos os âmbitos da vida humana” (Myers, 1999: 227). Somente então será usada em um sentido holístico –a tradução da Bíblia e a missão holística unidas por uma mesma causa.

Perspectivas Bíblicas da Tradução da Bíblia como Missão Holística

Jesus anuncia sua vinda em Lucas 4.18-19 e 7.22 como uma “nova era de salvação… o momento da história em que Deus em sua graça soberana trará liberdade da culpa e dos efeitos do pecado” (Barker e Kohlenberg, n.d.: n.p.). As boas novas de Jesus Cristo se dirigem aos pobres, prisioneiros, cegos e oprimidos, mas incluem quem reconhece sua necessidade de confiar e depender de Deus. Portanto, nesse contexto, as necessidades holísticas dos grupos marginalizados são ressaltadas.
Além disso, a mensagem salvadora de Jesus enfoca a integralidade das pessoas. Ele “promete a restauração de todas as coisas que o pecado danificou ou destruiu” (Barker e Kohelenberg, n.d.: n.p.). A oferta de Cristo é única: justificação dada por Deus. A salvação “seja concebida como libertação física (Ex. 14.13) ou espiritual (Salmos 51.12)” (Barker and Kohelenberg, n.d.: n.p.) é do Senhor.
A base para a autoridade de Cristo sobre a criação, expressa em Colossenses 1.15-20, é que Ele é Senhor sobre toda a criação porque esteve envolvido em sua formação. “A criação deve a Ele sua unidade, seu significado, verdadeiramente sua existência… Ele é tanto o princípio unificador como o sustentador pessoal de toda a criação (Barker e Kohlenberger, n.d.: n.p). Além disso, Deus removeu toda a hostilidade que existia entre Ele e a humanidade. Quando as pessoas aceitam isto, o resultado é “submissão e harmonia com Deus” (Barker e Kohlenberger, n.d.: n.p).
Discorrendo sobre o tema da integralidade, Tiago (1.22) desafia os cristãos a porem em prática a Palavra de Deus. A Palavra não deve ser somente ouvida ou lida, mas ser aplicada na vida individual e coletiva. A fé cristã deve ser mais que atos superficiais e atividades religiosas. “A pessoa cuja experiência religiosa é genuína porá a verdade espiritual em prática, e sua vida será marcada pelo amor aos outros e pela santidade diante de Deus” (Barker e Kohlenberger, n.d.: n.p.).
Paulo fala sobre o poder de Deus para transformar a vida das pessoas (Romanos 1.16 e Colossenses 3.16) acrescentando que devemos “nos submeter às demandas da mensagem cristã, permitindo-lhe arraigar-se profundamente em nós para que assim controle nossa maneira de pensar” (Barker e Kohlenberger, n.d.: n.p.).
Quando tais conceitos bíblicos se unem, a tradução da Bíblia como missão holística ganha sentido porque, sem a tradução da Bíblia, a Palavra não estaria disponível para as pessoas que mais a necessitam. Se lhes é negado o acesso à Palavra de Deus em seu idioma do coração, então haverá muito pouca probabilidade de que ocorra uma transformação holística crescente.

Perspectiva Histórica da Tradução da Bíblia como Missão Holística

Na igreja primitiva a Bíblia era considerada como o livro de cada cristão. Os pais da igreja enfatizaram a importância da leitura bíblica, a qual produzia pessoas letradas. Para aqueles que não eram alfabetizados a Bíblia era lida publicamente, já que era considerada crucial para “o aprofundamento da vida espiritual de cada cristão e da igreja” (Southwell, n.d.: n.p.).  Mais tarde, William Tyndale quis que o Rei da Inglaterra entendesse a importância dos pobres e sem educação serem capazes de ler a Bíblia em seu próprio idioma.
Em 1600 Bartholomew Ziegenbalg foi ao sudeste da Índia para trabalhar com o povo Tamil. Ziegenbalg acreditava que as Escrituras tinham que estar disponíveis na língua vernácula tão breve quanto possível. Isto implicava uma grande estratégia, pois ele acreditava que a tradução da Bíblia tinha que caminhar junto com a educação cristã. Os novos crentes e seus filhos deviam ter a oportunidade de ler a Bíblia por si mesmos. Além disso, Ziegenbalg acreditava que o estudo diligente da filosofia e da cultura do povo era fundamental para o evangelismo e o crescimento da igreja. Ele realizou atendimentos médicos e se dedicou para a formação de igrejas indianas com seu ministério único. Insistia no uso de letras Tamil no louvor. Estava completamente comprometido com a conversão pessoal do povo Tamil. Zigenbalg foi considerado a frente de seu tempo devido ao seu enfoque holístico (Neill, 1986:196).
William Carey teve, em seu trabalho na Índia, uma estratégia que consistia em cinco pontos: o entendimento do idioma, da cultura e do modo de pensar dos povos não-cristãos; a pregação do Evangelho usando todos os meios possíveis: a tradução da Bíblia onde fosse necessário; a plantação de uma igreja o mais breve possível; e o treinamento de cristãos locais para serem líderes no ministério (Neill,1986:224-5).
Outros missionários notáveis envolvidos na tradução da Bíblia como Adoniram Judson (1788-1850), Henry Martyn (1781-1812) e Hans Egede (1686-1758) também demonstraram ter um enfoque holístico, já que também se envolveram em evangelismo, educação cristã, trabalho médico e educação teológica. Todos eles demonstraram que a tradução bíblica era complementar a cada uma dessas áreas.
Herbert Klem indicou que as primeiras metas de sua missão na África incluíram “boa educação para os pastores africanos e uma Bíblia que os laicos pudessem ler. Os programas de alfabetização e as escolas foram centrais no pensamento e na política missionária” (1982:26). 
Lamin Sanneh, ao comentar sobre o desenvolvimento do movimento da Igreja Africana Independente, nota que durante os séculos de transtornos e expansão da igreja, os missionários “se tornaram pioneiros do desenvolvimento lingüístico... a alfabetização resultante, ainda limitada, produziu uma transformação cultural e social” (2002: 99).
Portanto, historicamente aparecem fortes laços entre a tradução da Bíblia e o ministério holístico.

Perspectivas Contemporâneas na Tradução da Bíblia como Missão Holística

Um tema fundamental relacionado à tradução da Bíblia é o idioma do coração, isto é, “qualquer língua que comunica mais efetivamente aqueles assuntos profundos, tanto pessoais como espirituais, à maioria dos integrantes de um grupo etnolingüistico” (Sheldon, 1999:n.p.). Ray Aldred declara que o idioma do coração também expressa “a espiritualidade das pessoas, sua economia e suas aspirações políticas” (2003:n.p.).
Já que a mensagem da Bíblia é central no desenvolvimento transformador, é necessário que esteja disponível para todas as pessoas em uma língua que possam entender. A tradução bíblica tem duas metas: que as pessoas leiam a Bíblia e tenham fé pessoal em Deus; e assegurar-se de que a tradução seja clara, exata e natural, para que desta forma as pessoas possam ser conduzidas a Deus (Gela,n.d.:n.p.). Holisticamente, existe uma meta de transformação espiritual das pessoas conforme permitem que o poder da Palavra de Deus as mude ao entender e obedecer (Gela,n.d.:n.p.).
Além disso, a tradução da Bíblia põe “o poder nas mãos das pessoas comuns para aplicar a Palavra de Deus tanto em suas vidas como em sua cultura” (Shaw, 2000:125). A Bíblia também revela que “nenhum povo pode ser verdadeiramente independente, mas precisa reconhecer sua
interdependência de outros, sempre que expressarem uma mútua dependência em Deus (Shaw, 2000:125).
A tradução bíblica como missão tem como foco encontrar termos e conceitos próprios de cada cultura e idioma. Isto possibilita “a contextualização cultural de Jesus e seus seguidores para ouvintes da África e da China” (Jenkins, 2002:113). Além disso, a tarefa de tradução bíblica requer o desenvolvimento de alfabetos, gramática, dicionários e outras ferramentas do idioma. Toda esta investigação do idioma com que se trabalha produz “quase em qualquer lugar o despertar de profunda lealdade para com a causa dos nativos” (Sanneh 1993:140).
Em um sentido holístico, a alfabetização é uma importante parceira na tarefa de tradução bíblica. Isto se dá porque as pessoas precisam “desenvolver sua própria literatura, expressando por meio da escrita o que até agora esteve disponível somente em forma oral” (Shaw,1988:238). A literatura dota as línguas minoritárias de valor e de um maior status político-social por meio do desenvolvimento de um ambiente positivo, onde estes grupos têm um lugar de direito dentro da sociedade como um todo. “Um crescimento no nível de alfabetização em uma sociedade levaria a vários benefícios sociais e econômicos para a comunidade, bem como a um contexto para a leitura da Palavra de Deus” (Watters,2003:2-3).
Wayne Dye nota que a alfabetização está associada ao evangelismo (o testemunho de um alfabetizador cristão em uma classe de não-cristãos); à edificação de crentes (quando crentes sabem ler e escrever geralmente são mais fortes espiritualmente, e portanto é menos comum que caiam do que os crentes analfabetos); à assistência prática (as habilidades de ler e escrever diminuem a probabilidade de ser enganado nas transações de negócios); ao avanço econômico (ser capaz de ler e escrever aumenta a habilidade para melhorar em nível pessoal e econômico); à auto-estima (ao usar a língua vernácula aumenta a estima pessoal e coletiva, o respeito e a capacidade de realizações) (1985:221-232).
A tradução bíblica como missão holística pode ser avaliada através dos dez princípios do desenvolvimento transformacional cristão de Samuel Voorhies (1999:590-1).
Primeiro, Voorhies afirma que as pessoas e sua cultura têm um valor intrínseco. Com relação a isto, a tradução bíblica também enfatiza o respeito e enfoca a língua do coração das pessoas, assim como sua identidade dentro de sua própria cultura. A tradução bíblica na África assegurou-se da preservação das comunidades culturais graças à infusão, “devido a um espírito de estímulo e conservação, às investigações lingüísticas e à adoção do vocabulário religioso local para expressar o ensino cristão” (Pitman, Habito and Muck,1996:341).
Segundo, a cultura local precisa ser entendida e respeitada. Aqueles que se envolvem na tradução da Bíblia, estudam e respeitam a cultura local para ajudar a assegurar a realização de uma tradução exata e que será usada pelo povo. Lamin Sanneh afirma que “uma cultura que pela primeira vez possui um dicionário e uma gramática é uma cultura dotada de renovação e poder, quer adote o cristianismo ou não” (2002:99). 
Terceiro, as necessidades e o respeito próprio das pessoas têm que ser considerados para assegurar sentimento de posse e dignidade. Os programas de tradução bíblica bem-sucedidos devem começar identificando e utilizando recursos locais como a base de um processo viável. Parte deste processo consiste em lidar com as áreas técnicas do desenvolvimento de um alfabeto, a escrita, a estruturação do idioma, incluindo sua gramática, e a análise da cultura (Sanneh, 2002: 106).
Quarto, as pessoas, não a tecnologia, devem ser o ponto principal. Na tradução da Bíblia as pessoas têm que ser o ponto central. Entretanto, é possível que pela natureza tecnológica envolvida na tradução da Bíblia, devido ao amplo uso da tecnologia dos computadores, para alguns seja difícil encontrar este equilíbrio.
Quinto, toda a pessoa –mente, corpo e espírito - deve estar envolvida no esforço de desenvolvimento. Em resposta a isto, a tradução bíblica historicamente enfocou a mente, os aspectos teológicos, evangelísticos e de discipulado da vida cristã. As necessidades do corpo e do espírito são resultados do uso que as pessoas fazem das Escrituras.
Sexto, para o crescimento é necessário comunicar a Cristo através da palavra (o evangelho de Cristo), das obras (servindo como Cristo o fez) e de sinais (demonstrar a vida do reino de Cristo). Enquanto a tradução bíblica facilita a comunicação da Palavra de Deus, aqueles que estão envolvidos na tradução serão mais efetivos se, além disso, servirem com obras e sinais.
Sétimo, “toda intervenção em um grupo de pessoas… leva uma mensagem que tem que ser entendida e interpretada sob a visão de mundo de tal grupo” (Voorhies,1999:590). Para os que estão envolvidos na tradução da Bíblia, é importante estudar a visão de mundo da cultura e o idioma. Isto conduz a um processo relevante de tradução.
Oitavo, Deus já está trabalhando na comunidade, e assim sendo isto deve ser entendido e sustentado. Este é um princípio universal e se aplica tanto aos que traduzem a Bíblia como às outras formas de missão.
Nono, “a transformação de uma pessoa se dá através de uma relação pessoal com Cristo” (Voorhies,1999:591). Conforme já mencionado, uma meta da tradução da Bíblia é que as pessoas leiam a Bíblia e tenham fé pessoal em Deus (Gela, n.d.:n.p.). Além disso, Kwame Bediako afirma que o cristianismo africano atual seria inconcebível sem a existência da Bíblia em idiomas nativos… Os africanos têm os meios para responder à mensagem cristã, em termos de suas próprias necessidades e de acordo com suas próprias categorias de pensamento e significado (2001:n.p.).
E, finalmente, décimo: “as igrejas são fundamentais para a transformação sustentada e abundante” (Voorhies,1999:591). A tradução bíblica sempre servirá de apoio às igrejas locais quando estas forem estabelecidas. Elas participarão do processo da tradução bíblica.

Conclusão

O caso da tradução bíblica como uma missão holística foi estabelecido. Entretanto, é possível que não tenha sido considerado desta maneira anteriormente. Parece haver suficientes conexões missiológicas, bíblicas, históricas e contemporâneas. Sem a tradução da Bíblia, a Palavra não estaria disponível para as pessoas que são normalmente marginalizadas, tanto cultural quanto lingüisticamente. Se for negada a estas pessoas a Palavra de Deus em seu idioma do coração, então haverá menos probabilidade de que ocorra um crescimento holístico transformador completo.

Bibliografia

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Kirk Franklin is Executive Director of Wycliffe International.
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