segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Mitos e verdades sobre a seca

Mãe e filha da Comunidade quilombola de Fonseca, Manaíra (PB). Crédito: John Medcraft.
Mãe e filha da Comunidade quilombola de Fonseca, Manaíra (PB). Crédito: John Medcraft.
Portal Ultimato – Qual o nível de gravidade desta seca no Nordeste?
John Medcraft - Esta seca é gravíssima. É a pior que vi em 41 anos de trabalho aqui.
Marcos Sal da Terra - Esta é, sem dúvida, a maior seca que se tem registro no sertão. A fauna e flora são as maiores vítimas desta estiagem.
Ita Porto - A falta de chuvas em períodos prolongados como o dos últimos 3 anos é considerado um desastre ambiental, considerado um dos piores dos últimos 50 anos. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) já são cerca de 1.200 cidades espalhadas em nove Estados que já declararam situação de emergência. São 22% dos municípios do Brasil e quase 10 milhões de pessoas afetadas pelas secas na região. Todos os estados que compõe o semiárido nordestino estão passando por grandes dificuldades. Pernambuco, por exemplo, é o estado com maior número de municípios atingidos. Segundo a Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento), dos 185 municípios do Estado, 151 estão com algum tipo de déficit no abastecimento. Desses, 16 estão em colapso, sendo abastecidos por carros-pipa.
Portal Ultimato – Que tipo de sofrimento as pessoas estão vivendo?
John Medcraft - A falta de água é crítica. Patos (100.000 habitantes) sobrevive, graças a uma adutora do açude de Coremas (60 km ao oeste) que foi uma luta nossa de dez anos atrás. Mesmo assim temos água três dias sim, um dia não. Muitas cidades estão em colapso total de água e dependem de caminhões-pipa do Exército. Imaculada, onde ACEV tem uma igreja, está sem água desde janeiro. Nos sítios, quem não tem poço, precisa andar cada vez mais longe para conseguir água.
Marcos Sal da Terra – A economia quase que entrou em colapso em algumas regiões, principalmente nas bacias leiteiras. As notícias dão conta, por exemplo, que Pernambuco perdeu mais de 600 mil cabeças de gado (mortos, abatidos antes do tempo ou enviados para outros estados da Federação que não estão padecendo com a seca).
Ita Porto - Além da falta de água, algumas regiões também enfrentam a contaminação dos mananciais pelos restos dos animais mortos pela seca, o que provoca doenças diarreicas agudas, com registro de mortes de crianças e idosos. Outro problema é o aumento dos preços dos alimentos, sobretudo aqueles oriundos da agricultura. Com a morte de plantas frutíferas e dos rebanhos de animais, há perda da produção agrícola e diminuição do fornecimento de alimentos. Na pecuária, de acordo com a Associação Municipalista de Pernambuco (AMUPE), a seca já provoca prejuízos da ordem de R$ 1,5 bilhão na pecuária.
Portal Ultimato – Os Governos têm ajudado, de verdade, a enfrentar a seca deste ano?
John Medcraft - Aqui na Paraíba tem sido a seca melhor administrada que já vi. O Exército administra a distribuição de água nos sítios, com fiscalização transparência. Os governos federal, estadual e municipal estão reativando poços velhos e perfurando novos. O governo estadual tem distribuído ração animal subsidiada para, pelo menos, ajudar os pequenos produtores. A bolsa família pelo menos ajuda o sertanejo a sobreviver.
Marcos Sal da Terra - Esperar que os governos ajudem de verdade é uma atitude infantil. A gente sabe que existe a “indústria da seca”, a barganha eleitoral (voto por água, por exemplo), que situações de calamidades e emergenciais favorecem a corrupção. Porém não se pode negar que ações pontuais têm minorado os flagelos que são comuns à estiagem no sertão (caminhões-pipa, Bolsa Família etc).
Ita Porto - Algumas atitudes emergenciais têm sido realizadas pelo Governo Federal como o fornecimento de água através da Operação Carro-Pipa. São 835 cidades, em nove estados, totalizando quase quatro milhões de pessoas. Existem investimentos para construção de reservatórios de água como barragens, cisternas, perfurações de poços, dentre outras ações emergenciais de enfrentamento à seca (confira no Observatório da Seca. Da mesma forma os governos estaduais e municipais têm contribuído de acordo com a sua capacidade de recursos.
Portal Ultimato – No imaginário brasileiro, a seca está muito ligada à região Nordeste. E junto com ela, há toda uma “cultura da seca”. Que mitos ou ideias falsas o brasileiro tem da seca e de suas vítimas? O que é verdade e o que é mentira?
John Medcraft –
1. “Os nordestinos são coitadinhos ou preguiçosos”. O nordestino sertanejo que eu conheço e com convivo há mais de 40 anos levanta ainda no escuro e trabalho num sol escaldante durante longas horas cada dia. Não há mais preguiçosos aqui de que em outros lugares – acredito muito menos. Quanto a coitadinhos, esta imagem vem da exploração de imagens de miséria por organizações, inclusive evangélicas, que faturam com isso para si.
2. “Deus é um culpado pela seca”. A seca é um fenômeno natural. Alguns dizem que ela é causada por um pecado específico; outros que é causada pela idolatria (como se apenas no Nordeste houvesse idolatria). Se chove tanto no Rio de Janeiro e em São Paulo, ninguém deve pecar por lá então!
3. “A seca é a maior inimiga do sertanejo”. Que a seca complica a vida, é verdade. Mas aprendemos cada vez mais a conviver com ela cada e a nos organizar para enfrentar a próxima. Lutamos para uma melhor distribuição da água e que a transposição do Rio São Francisco chegue às pessoas certas e aos centros que mais precisam.
Marcos Sal da Terra - O grande mito é tentar “combater a seca”. Seca não se combate. O sertão é seco e continuará com índices de precipitação pluviométricas muito baixos; este é o nosso clima. O que tem que ser feito é a adoção de políticas públicas e de convivências com a seca. A transposição do São Francisco é um grande exemplo desta realidade. O que era para ser um grande benefício para tanta gente, virou uma vergonha nacional.
Ita Porto - A seca está realmente ligada à região Nordeste do Brasil; isso é fato, consequência de um fenômeno ambiental natural, considerada uma catástrofe natural. Com as mudanças climáticas, no entanto, essa realidade vem deixando de ser um “privilégio” apenas da região Nordeste. No nosso caso, temos percebido que a maioria do nosso povo, devido a forma dos líderes governar os municípios, tem abandonado a cultura da convivência a partir do conhecimento acumulado de convivência com o semiárido pelos nossos antepassados. Esses conhecimentos foram (ou estão sendo) esquecidos por esse povo. Por exemplo, diminuímos a capacidade de plantio, migramos para as cidades, aumentamos o consumo de água como se vivêssemos em uma região que tem muita oferta de água. A seca está tendo um impacto maior, pois perdemos essa resiliência. Antigamente as pessoas guardavam queijo nas paredes para comer, hoje é melhor comprar do que produzir o alimento. Perdemos essa capacidade de convivência. Tínhamos animais adaptados ao ambiente. Nossos rios não eram devastados, hoje os rios não tem a capacidade de guardar água como antigamente. Para nós, perdemos a capacidade de viver nessa região, pois colocaram na nossa cabeça que o bom é viver na cidade.
O gado também sofre com a seca. Crédito: Acervo Diaconia.
O gado também sofre com a seca. Crédito: Acervo Diaconia.
Portal Ultimato – Como expressar o amor de Jesus no meio de tanto sofrimento?
John Medcraft - Há tantas maneiras! O essencial é trabalhar com comunidades perfurando poços e, onde for possível, criando hortas onde a água for suficiente e de qualidade. Demonstrar o amor de Jesus em coisas práticas assim torna a fé visível. Ainda se pode ensinar comunidades a criar abelhas, melhorar criação de cabras e coisas assim. O melhor é ajudar as comunidades a criar sua própria renda e cultivar seu próprio alimento, mas quando isso não é possível as cestas básicas devem ser distribuídas, de forma emergencial, dentro das possibilidades de cada instituição.
Marcos Sal da Terra - É simples, façamos o que Jesus ensinou: “Dai-lhe vós de comer” (Lc 9.13). O problema é convencer uma igreja já acostumada a pedir, que também assuma a responsabilidade de dar.
Ita Porto - Jesus Cristo, em toda sua trajetória de vida e missão, nos ensinou (e ainda ensina) a enxergar os problemas da sociedade através da convivência (discipulado) com as pessoas. Seus milagres são relatados sempre do ponto de vista de alguém que se deu ao trabalho de sentir o sofrimento alheio, se misturando na multidão de pessoas que o seguiam. O amor de Jesus pode ser expresso por meio do envolvimento das pessoas com a problemática que estamos vivenciando nos últimos três anos. Somos convidados e convidadas a nos solidarizarmos com as pessoas e, em um contexto de emergência que estamos vivendo com essa seca. Isso pode significar envolver-se na luta por melhoria da qualidade de vida das pessoas que enfrentam o desafio de conviver com esse fenômeno climático. Envolver-se nos espaços de políticas públicas e cobrar a melhor aplicação dos recursos também é uma forma de lutar junto de quem precisa e revelar o amor de Jesus, proporcionando justiça social.
Portal Ultimato – Você vê com bons olhos a participação das igrejas evangélicas na luta contra a seca?
John Medcraft - Igrejas evangélicas que não participam desta luta vão ter que responder diante de Deus. Deus nos coloca em nossas comunidades para sermos “sal e luz”. Pregar é bom, é essencial, mas fazer vista grossa quanto ao sofrimento do próximo é pecado grave. As igrejas evangélicas grandes e ricas de outras regiões precisam entender que estamos no meio de uma catástrofe lenta e discreta; não chama atenção como uma enchente, mas tem efeitos devastadores. Estas igrejas precisam trabalhar junto com instituições sérias e transparentes que fazem auditorias independentes e têm experiência em agir no sertão. Todo cuidado é pouco com os exploradores do momento.
Marcos Sal da Terra - Como na história do aleijado que foi colocado na presença de Jesus, por alguns homens, através de um buraco feito no telhado da casa (Mc 2), vivemos a mesma realidade no sertão. Apenas a exceção se envolve, de forma prática, com a nossa gente.
Ita Porto - Nosso grande desafio é fazer com que as igrejas evangélicas compreendam sua importância e grande potencial no contexto do desenvolvimento social. Nosso convite é que as igrejas se sintam desafiadas a, junto conosco, ocuparmos os espaços de controle social, propondo ações de justiça social e ambiental e, nesse caso, colaborando com as ações de transformação cultural de enfrentamento dos efeitos da seca no Nordeste. Já temos tido bons resultados junto a igrejas parceiras que tem se levantado para lutar em favor de ações de convivência com o semiárido, envolvendo-se em audiências públicas, conscientização da sociedade, numa visão de missão integral.
Menino brinca em região seca de Pernambuco. Crédito: Alison Worrall.
Menino brinca em região seca de Pernambuco. Crédito: Alison Worrall.
Portal Ultimato – A seca tem um “lado positivo”?
John Medcraft - O lado positivo da seca é, como dizia Dom Helder Câmera, que ela é um desafio que faz a vida interessante. Ela nos estica a buscar soluções novas como, por exemplo, dessalinizar água salobra de poços com o mínimo possível de prejuízo ao meio ambiente.
Marcos Sal da Terra - Vemos nela a soberania de Deus. Apesar dos nossos pecados, Ele nos permite “continuar vivos pra contar a história”.
Ita Porto - Sim. As famílias tem se preocupado em se precaver com armazenamento de alimentos a partir do aprendizado das dificuldades enfrentadas pelos anos de seca. Essa pode ser uma oportunidade para, em longo prazo, voltarmos à cultura de convivência com a seca.
Portal Ultimato – Conte-nos alguma história de superação que você viu ou ouviu.
John Medcraft - A ACEV fez um poço nesta seca com uma comunidade quilombola em Manaíra (PB). Era uma comunidade isolada que, além de sofrer com o grave problema da falta de água, ainda sofria terríveis preconceitos raciais. Na terceira tentativa, conseguimos ajudar a comunidade a perfurar um poço que deu água e então bombear a água do vale onde fica o poço para o alto da serra onde a comunidade reside. Presenciei todo este processo e luta. Vi as lágrimas de alegria, a esperança renovada e a autoestima do povo começando a ser restaurada. “Se alguém está em Cristo é verdadeiramente livre”!
Marcos Sal da Terra – Uma comunidade caminhava 18 quilômetros a pé para buscar água (barrenta e salobra), apesar de dispor de cisternas em suas casas, mas que nunca haviam sido abastecidas pelo governo. Lá, uma igreja cavou um poço que custou R$ 7.900. Hoje a comunidade tem 36 mil litros d’água por hora.
Ita Porto - Seu Antonio Magalhães é agricultor e mora na Comunidade Carnaúbinha, na cidade de Afogados da Ingazeira, Sertão do Pajeú (PE). Ele e sua família são assessorados por Diaconia há cerca de 10 anos e desenvolvem estratégias de convivência com a seca, como a reutilização da água usada no trabalho doméstico, o uso inteligente da silagem para armazenar alimento humano e animal. Seu Antonio também gerencia um Banco de Sementes Comunitário que existe há 13 anos com sementes nativas que beneficiam a família dele e a comunidade. Ele cultiva um banco de proteínas com variedades de plantas forrageiras como gliricídia, leucena, palma, feijão guandu, sorgo forrageiro, dentre outras. Essas estratégias fazem parte do resultado da ação de Diaconia junto as famílias, estimulando-as a aplicarem técnicas de convivência com o semiárido. Os silos são feitos em mutirões comunitários estimulando a organização das famílias como forma de fortalecimento político.
Portal Ultimato – Como os leitores podem ajudar seu ministério e organização na luta contra a seca?
John Medcraft - A ACEV só não faz mais poços (já fez mais de 200), só não inicia mais plantações no meio do deserto, e só não cria mais cabras, abelhas e galinhas por falta de mais recursos financeiros. A resposta é simples assim. Já temos uma equipe maravilhosa, dedicada e experiente que deseja e precisa fazer mais. O sertanejo ama o sertão e não quer sair daqui. Temos que facilitar isso e fortalecer a igreja evangélica sertaneja no processo.
Marcos Sal da Terra - O samaritano em (Lc 10) fez o que a grande maioria (representada na mesma história pelo sacerdote e levita) hoje não faz. Ele prestou atenção na situação daquele que havia sido salteado, aproximou-se dele e, cheio de íntima compaixão, pôs “a mão na massa”.
Precisamos mais do que dinheiro (o samaritano não se limitou a dar dois denários ao dono da estalagem), precisamos de gente que disponha dos seus dons e talentos, do seu tempo e do seu esforço. Precisamos menos de discurso e mais de ações. Temos uma “teologia refinada” (tantas vezes), mas uma prática cristã pífia, que não acompanha o discurso (tantas vezes). Temos um exército que tenta em vão defender a fé em Cristo, mas que não vive o que ele ensinou (e acha que isto é defesa).
“Grande é, em verdade, a seara (sertaneja e toda a sua problemática), mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara.”
Ita Porto - Ocupar os espaços de construção das políticas públicas como fóruns e conselhos de desenvolvimento. Que os líderes evangélicos possam estimular os debates sobre o poder da cidadania de seus membros junto às comunidades em que vivem.
***

Entrevistados:
John Medcraft é inglês, naturalizado brasileiro, e mora em Patos (PB). É o presidente da Ação Evangélica (ACEV), uma igreja que neste ano completou 75 anos. A ACEV trabalha em todo sertão paraibano, e também em regiões de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará.
Marcos Sal da Terra é o vocalista da banda Sal da Terra, um projeto missionário que leva a música, o serviço (alimento, água, oração, voluntários) e a Palavra de Deus para o sertão pernambucano.
Ita Porto trabalha na Diaconia, uma organização de inspiração cristã, sem fins lucrativos, que promove a justiça e o desenvolvimento social no Nordeste. A instituição enfrenta a seca com ações estruturantes que ajudam a população, de forma sustentável, a conviver com as condições de semiaridez. Marcelino Lima e Adilson Viana também colaboraram com as respostas.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Racha entre muçulmanos se torna força mais perigosa no Oriente Médio

Protestos em Bahrein (Reuters)
Protestos em Bahrein, um dos focos de tensão entre xiitas e sunitas

Jeremy Bowen - Editor de Oriente Médio da BBC
Passados três anos desde o início da Primavera Árabe, tem se agravada a divisão entre muçulmanos xiitas e sunitas - que diz respeito não apenas a religião, mas também a poder e identidade.
Líderes tentam usar o sectarismo como uma ferramenta para proteger e reforçar sua legitimidade, assim como alguns governos europeus ainda usam o nacionalismo.
Mas as forças que estão em curso no Oriente Médio no momento podem sair do controle.
Um dos focos de tensão é Trípoli, a segunda maior cidade do Líbano - atualmente inquieta, dividida e muitas vezes perigosa.
A crescente guerra civil síria, do outro lado das montanhas de Trípoli, fomentaram um persistente conflito entre muçulmanos sunitas, majoritários na cidade, e alauítas, que são da mesma divisão xiita que o presidente sírio, Bashar al-Assad.

Pôsteres

Em todas as cidades libanesas, há pôsteres de jovens que foram mortos combatendo na Síria.
O Hezbollah, milícia xiita e partido político libanês, enviou tropas para lutar ao lado dos soldados pró-Assad.
Um sunita proeminente local observava os pôsteres, dizendo: "Tudo o que eles fizeram foi viajar e ficar (na Síria) tempo o bastante para serem mortos. Eles eram muito novos e pouco treinados (para combater)."
Alguns xiitas ainda idolatram Saddam Hussein, o líder sunita que, durante seu regime no Iraque, enfrentou o xiita Irã.
O sunita Abu Firas perdeu seu filho de 22 anos quando duas mesquitas sunitas de Trípoli foram bombardeadas, em agosto. A comunidade atribui a culpa aos xiitas.
"Pedimos permissão a Deus todo poderoso para erradicá-los", diz Firas.
Um comandante de uma milícia sunita local diz que a raiva e a dor fazem com que Firas fale assim. Mas, a cada ação sectária que resulta em mortes, aumentam as divisões no Oriente Médio.

Sectarismo

Funeral de combatente do Hezbollah morto na Síria
O grupo libanês Hezbollah (acima, funeral de um de seus integrantes) apoia o regime de Assad na Síria
O racha no islã remete à disputa quanto a quem deveria suceder o profeta Maomé após sua morte, em 632. Os que queriam que seu posto fosse herdado por seus seguidores próximos se tornaram sunitas. Os que defendiam que seus descendentes deveriam sucedê-lo aderiram ao xiismo.
Nos últimos tempos, a invasão americana ao Iraque, em 2003, deu um novo impulso à divisão sectária no islã.
A deposição de Saddam Hussein, maior adversário do Irã (de maioria xiita), foi um golpe à tradicional supremacia sunita no Oriente Médio. Milhares de iraquianos foram mortos em atos de violência sectária desde então.
Na outra ponta do golfo Pérsico, em Bahrein, um persistente conflito político entre a minoria empobrecida xiita e a elite majoritariamente sunita fica cada vez mais abertamente sectária. Um membro do clã que governa o país disse à BBC que isso é perceptível em confrontos nas ruas bareinitas ou mesmo sírias.
Na Síria, o levante que desde 2011 conclama mais liberdade e justiça evoluiu para uma guerra de traços sectários. Grupos extremistas sunitas, em geral seguidores da al-Qaeda, agora dominam a oposição armada a Assad.
Esses jihadistas, que usam a guerra civil para aumentar seu poder em pleno coração do Oriente Médio, têm uma visão profundamente dividida do mundo.
Eles acabam sendo rechaçados por muitos sírios sunitas e "empurram" as minorias do país - tanto cristãos quanto xiitas - para o lado de Assad.

Rivais regionais

Em Beirute, homens-bomba alvejaram a embaixada do Irã em novembro. Muitos deduziram que se tratava de mais uma escalada na chamada "guerra por procuração", travada entre o Irã (que apoia o regime Assad) e a Arábia Saudita (sunita, que apoia os rebeldes sírios).
Os dois rivais regionais trocam acusações entre si quanto à escalada do sectarismo.
Membros da minoria xiita na Arábia Saudita, que se concentra no leste do país, se queixam de serem tratados como se fossem agentes infiltrados pelo Irã.
Tanto o Teerã quanto Riad ajudaram a alimentar as rivalidades, mas as divisões entre xiitas e sunitas também foram usadas e abusadas por líderes de outros países árabes que não têm nenhuma intenção de dividir o poder com sua própria seita, muito menos com outros grupos.
A BBC debateu o tema com o novo chanceler iraniano, Javad Zarif, no mês passado, durante negociações em Genebra que levaram a um acordo preliminar sobre o programa nuclear do país.
Zarif disse que, independentemente das diferenças quanto à Síria, os países envolvidos devem cooperar para controlar a crescente divisão entre xiitas e sunitas. O chanceler opina que essa é a maior ameaça não apenas à paz no Oriente Médio, mas à paz no mundo inteiro.
Se há uma chance de se gerenciar ou ao menos reverter a onda de sectarismo, ela provavelmente recai sobre o Irã e a Arábia Saudita. Mas os dois países são potências regionais, divididos pela História e por sua rivalidade no século 21.
Em um funeral recente para combatentes xiitas em Damasco, que morreram defendendo o regime, as pessoas enlutadas não cantavam elogios a Assad (em cujo Exército os homens morreram), mas sim entoavam slogans sectários, exaltando a tradição xiita.
Até mesmo em partes da Síria onde esses rachas são menos evidentes, há os problemas de crise econômica, falência política e repressão.
Mas a força mais perigosa, que ameaça definir a próxima década no Oriente Médio, é a tensão entre xiitas e sunitas.

Passados três anos desde o início dos levantes árabes - nesta semana, foi lembrado o terceiro aniversário da morte do tunisiano Mohammed Bouazizi, cuja autoflagelação serviu de estopim para protestos na região -, o peso de um milênio e meio de rivalidades sectárias está esmagando qualquer esperança de um futuro melhor.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Aprenda a usar o sári, tradicional vestido indiano


Jornalista da BBC finalmente conseguiu dobrar o próprio sári (BBC)
Jornalista da BBC finalmente conseguiu dobrar o próprio sári

Via BBC
A jornalista da BBC em Nova Déli Anu Anand nunca soube como vestir um sári, o traje tradicional popular entre as mulheres na Índia.
Ela mesma é de origem indiana e sempre achou que, quando alguém ajustava os metros e metros de tecido em volta de seu corpo, o traje causava incômodo, restringindo os movimentos.
Para resolver o problema, a jornalista foi até uma escola para aprender como o tecido deve ser dobrado e jogado por cima do ombro.
No vídeo, ela mostra de forma simples o passo a passo da "arte" de se vestir com um sári.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Aplicativos para o aprendizado de línguas

Com textos (adaptados) de EstadãoUOL EducaçãoG1 e Info

50 Línguas
Este app GRATUITO tem 30 lições. As 100 lições o ajudarão a, rapidamente, aprender e utilizar uma língua estrangeira em diversas situações (por exemplo: em um hotel ou restaurante, nas férias, jogando conversa fora, com novos conhecidos, nas compras, no médico, no banco etc.). Você pode baixar os arquivos de áudio para seu tocador de MP3 e ouvi-los em qualquer lugar. O 50linguas (www.50linguas.com) corresponde aos níveis A1 e A2 do Quadro Europeu Comum e é, portanto, adequado para todos os tipos de escolas e alunos. Os arquivos de áudio podem também ser eficazes se usados como um suplemento em escolas e cursos de línguas. Os adultos que aprenderam uma língua na escola podem atualizar seus conhecimentos utilizando o 50linguas.
Para obter maiores informações e baixar o aplicativo, CLIQUE AQUI.

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LinguaLeo

Com o mote "aprenda inglês jogando", o app gratuito da empresa russa de ensino online de inglês permite que o usuário escolha o nível de dificuldade do curso e treine o idioma jogando. A versão do aplicativo para brasileiros tem um dicionário com áudio para cada palavra, recursos multimídia (músicas, vídeos, artigos e piadas em inglês), treinos para memorização e exercícios para aprender novas palavras em inglês. Disponível na App Store (iOS, iPhone), no Google Play (Android) e no Windows Phone.

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Babbel 

Disponível em dez idiomas, os aplicativos gratuitos para iOS da Babbel permitem a consulta de vocabulário básico e avançado utilizado em situações cotidianas. São mais de 3.000 palavras com imagens e áudio. Também é possível treinar e avaliar a pronúncia em inglês com reconhecimento de voz. Disponível no Google Play (Android), no Windows Phone e na App Store (iOS, iPhone).

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Duolingo
Um dos aplicativos gratuitos de maior sucesso do mundo, o Duolingo permite que o usuário faça exercícios em até seis idiomas (português, espanhol, francês, alemão, italiano e inglês). Você pode fazer lições diárias com perguntas rápidas, testes com imagens e áudio. A cada acerto você pula de nível e ganha pontos. Quando você chega num determinado nível, pode traduzir textos para a comunidade Duolingo e compartilhar o que aprendeu. Disponível no Google Play (Android) e na App Store (iOS, iPhone).

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Rosetta Stone
A Rosetta Stone é uma empresa de ensino de línguas que disponibiliza aplicativos para iOS e Android, com cursos básicos de alemão, tcheco, chinês, coreano, espanhol, francês, holandês, inglês, italiano, japonês, polonês, russo, sueco e turco. Os exercícios focam na pronúncia correta e usam reconhecimento de voz para avaliar como o usuário está repetindo a palavra. Eles também criaram um aplicativo exclusivo para brasileiros que viajam para o exterior, o Rosetta Stone Viagem Inglês, que traz livro de frases básicas para situações típicas de viagem e ajudar a evitar deslizes no vocabulário. Disponível no Google Play (Android) e na App Store (IOS, iPhone). Alguns dos itens são pagos.

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Mindsnacks
Os apps da Mindsnacks são gratuitos e dedicados a quem quer aprender idiomas como espanhol, francês, italiano, chinês, alemão ou japonês jogando. Os games são feitos para melhorar o vocabulário, as conjugações verbais e as habilidades em conversação. O aplicativo reúne jogos de memória, puzzles, biblioteca de imagens e arquivos em áudio. Bom para quem já fala inglês e quer aprender outros idiomas. Disponível na App Store (iPhone).

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Busuu
O Busuu é uma rede social de aprendizado de idiomas com mais de 19 milhões de usuários no mundo. O serviço oferece cursos on-line com recursos de áudio e vídeo em 12 línguas, além de permitir a interação entre os alunos e falantes nativos. Além do site, a empresa lançou o aplicativo Busuu. São aplicativos para o ensino de 12 línguas, como inglês,  francês, italiano, alemão, português, russo, japonês, mandarim, turco e polaco, entre outras.
Para baixar, acesse: http://www.busuu.com/enc/mobile

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Google Tradutor
Pode não parecer, mas o Google Tradutor, disponível como plugin para Chrome e app para Android e iOS, ajuda bastante não só a entender, como também a praticar outros idiomas. 
Disponível em 63 línguas diferentes, que incluem português, o aplicativo para Android (assim como a velha conhecida versão web) dele conta com reconhecimento de voz para tradução. Basta falar no microfone para que ele "escreva" tudo por você. Daí, basta dar um clique para ver a tradução no idioma que quiser e ainda ouvir a pronúncia.
Na última atualização do app para Android, tornou-se possível baixar os dicionários que quiser. Assim, o Tradutor se tornou consultável até mesmo offline.
Baixe para Android, CLIQUE AQUI.

Baixe para iOS, CLIQUE AQUI.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Permissão Internacional para Dirigir, sua Carteira de Habilitação válida em quase todo o mundo

Permissão Internacional para Dirigir
O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) lançou em abril de 2006 o novo modelo de Permissão Internacional para Dirigir (PID). O modelo segue o padrão estabelecido na Convenção de Viena, firmada em 08 de novembro de 1968 e promulgada pelo Decreto nº 86.714, de 10 de dezembro de 1981. A PID poderá ser utilizada em mais de cem paises (veja a lista abaixo), porém não substitui a CNH no território nacional.
Antes da padronização da Permissão Internacional para Dirigir ficava a cargo dos órgãos e entidades executivos de trânsito a elaboração e expedição da permissão. Com a PID o Denatran padroniza o modelo do documento. As informações dispostas na PID estarão descritas na língua portuguesa e nas preconizadas na Convenção de Viena. 
Para obter a permissão o condutor deverá possuir a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), devendo esta estar vigente. O prazo de validade da PID, a categoria da habilitação e as restrições médicas são os mesmos referentes a CNH e na hipótese de ocorrer qualquer alteração no cadastro do condutor a mesma deverá ser incluída no respectivo documento internacional de habilitação. 
A Permissão Internacional para Dirigir não será emitida para o condutor habilitado somente com a Autorização para Conduzir Ciclomotor - ACC. Desde abril de 2006, o novo modelo pode ser retirado nos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Estados e do Distrito Federal e a cargo deles ficará a responsabilidade de determinar o valor da expedição do documento.

Países onde é aceita a Permissão Internacional para Dirigir (PID):

África do Sul, Albânia, Alemanha, Anguila (Grã Bretanha), Angola, Argélia, Argentina, Arquipélago de San Andres Providência e Santa Catalina (Colômbia), Austrália, Áustria, Azerbaidjão, Bahamas, Barein, Bielo-Rússia, Bélgica, Bermudas, Bolívia, Bósnia-Herzegóvina, Bulgária, Cabo Verde, Canadá, Cazaquistão, Ceuta e Melilla (Espanha), Chile, Cingapura, Colômbia, Congo, Coréia do Sul, Costa do Marfim, Costa Rica, Croácia, Cuba, Dinamarca, El Salvador, Equador, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Federação Russa, Filipinas, Finlândia, França, Gabão, Gana, Geórgia, Gilbratar (Colônia da Grã Bretanha), Grécia, Groelândia (Dinamarca), Guadalupe (França), Guatemala, Guiana, Guiana Francesa (França), Guiné-Bissau, Haiti, Holanda, Honduras, Hungria, Ilha da Grã-Bretanha (Pitcairn, Cayman, Malvinas e Virgens), Ilhas da Austrália (Cocos, Cook e Norfolk), Ilhas da Finlândia (Aland), Ilhas da Coroa Britânica (Canal), Ilhas da Colômbia (Geórgia e Sandwich do Sul), Ilhas da França (Wallis e Futuna), Indonésia, Irã, Iriã Ocidental, Israel, Itália, Kuweit, Letônia, Líbia, Lituânia, Luxemburgo, Macedônia, Martinica (França), Marrocos, Mayotte (França), México, Moldávia, Mônaco, Mongólia, Montserrat (Grã Bretanha), Namíbia, Nicarágua, Níger, Niue (Nova Zelândia) Noruega, Nova Caledônia (França), Nova Zelândia, Nueva Esparta (Venezuela), Panamá, Paquistão, Paraguai, Peru, Polinésia Francesa (França), Polônia, Porto Rico, Portugal, Reino Unido (Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales), República Centro Africana, República Checa, República Dominicana, Republica Eslovaca, Reunião (França), Romênia, Saara Ocidental, Saint-Pierre e Miquelon (França), San Marino, Santa Helena (Grã Bretanha), São Tomé e Príncipe, Seichelles, Senegal, Sérvia, Suécia, Suíça, Svalbard (Noruega), Tadjiquistão, Terras Austrais e Antártica (Colônia Britânica), Território Britânico no Oceano Índico (Colônia Britânica), Timor, Toqu
elau (Nova Zelândia), Tunísia, Turcas e Caicos (Colônia Britânica), Turcomenistão, Ucrânia, Uruguai, Uzbequistão, Venezuela e Zimbábue.

Fonte: Sistema RENACH Denatran – Dezembro 2010

domingo, 1 de dezembro de 2013

ISLAMISMO — QUEM É DEUS? COMO ELE SE REVELOU?


Texto Básico: Deuteronômio 18.15-19 e João 14.15-17
Leitura Diária
Domingo: Is 9.1-7 – Cristo, o Filho de Deus
Segunda: 1Pe 3.13-22 – Jesus, santificado como Senhor
Terça: Lv 18.1-5 – Obediência ao Senhor
Quarta: 1Rs 18.20-40 – O Senhor é Deus!
Quinta: Nm 25 –Comportamento digno
Sexta: Jz 2.6-23 – O castigo aos que deixam o Senhor
Sábado: Jo 14.1-6 – Jesus é o único resgatador


Introdução
Nesta lição estudaremos uma das maiores religiões do mundo, em franco crescimento, principalmente na Europa. O islamismo é semelhante ao cristianismo em alguns aspectos: é monoteísta, é universal, crê em céu e inferno, na ressurreição futura e na revelação de Deus ao homem. Mas é só isso. As diferenças separam o islamismo do cristianismo para níveis irreconciliáveis. Essas diferenças abrangem as doutrinas mais fundamentais de cada religião. Neste estudo veremos um pouco da fé e práticas do islamismo, mas devemos ter em mente principalmente a apresentação aos islâmicos de quem é Deus e como ele se revelou.
I. A essência do islamismo
O islamismo tem um livro sagrado chamado Corão. A palavra islã significa “submeter-se” e exprime a obediência à lei e à vontade de Alá (Allah, “Deus” em árabe). Seus seguidores são chamados muçulmanos (muslin, “subordinados a Deus” em árabe). O islamismo é a segunda maior religião do mundo, com 1,8 bilhão de adeptos, perdendo apenas para o cristianismo. O Corão, que significa “leitura”, é a coletânea das supostas revelações recebidas por Maomé de 610 a 632 d.C. Dividido em 114 suras (capítulos), seus principais ensinamentos são a onipotência de Deus e a necessidade de bondade, generosidade e justiça nas relações entre as pessoas.II. A influência de Maomé O nome Maomé (570-632 d.C.) significa “digno de louvor”.1 O profeta nasceu em Meca e começou sua pregação aos 40 anos de idade, quando, segundo a tradição, teve uma visão do arcanjo Gabriel, que lhe revelou a existência de um Deus único. Na época, as religiões da Península Arábica eram o cristianismo bizantino, o judaísmo e uma forma de politeísmo que venerava vários deuses tribais. Maomé passou a pregar sua mensagem monoteísta e encontrou grande oposição. Ele não acreditava na Bíblia, e pregava que os judeus e os cristãos haviam mudado o texto original. Maomé dizia que os cristãos haviam acrescentado à Bíblia fatos como a divindade e a filiação divina de Jesus, o ensino da Trindade e a doutrina da expiação. Por isso, considerava os ensinos do Novo Testamento acerca de Jesus Cristo, o Filho de Deus, uma heresia. Ele escreveu: “…e os cristãos dizem: O Messias é o Filho de Deus. Essas são suas asserções. Erram como erravam os descrentes antes deles. Que Deus os combata”. Maomé foi obrigado a emigrar para Medina em 622 (esse fato chamado Hégira, é o marco inicial do calendário muçulmano), depois de ser perseguido em Meca. Em Medina ele foi reconhecido como profeta e legislador, assumiu autoridade espiritual e temporal, venceu a oposição judaica e estabeleceu a paz entre as tribos árabes. Quase dez anos depois, Maomé e seu exército ocuparam Meca, sede da Ka’aba, centro de peregrinação islâmica. Maomé morreu em 632 como líder de uma religião em expansão e de um Estado árabeque começava a se organizar politicamente.
III. As principais crenças e práticas islâmicas
Os muçulmanos acreditam que Deus é superior a tudo e é soberano em seus atos; que há um profeta em cada época, começando com Adão e terminando com Maomé (Jesus foi um dos 120 mil profetas); que o Corão é a revelação final,2 pois foi o último livro sagrado dado ao homem, não sendo necessário estudar os livros anteriores; que Deus mandou Satanás adorar Adão e ele se recusou; que a salvação é pelas obras; que no paraíso existem muitas virgens de olhos verdes para cada homem.
O islamismo envolve todos os aspectos da vida da pessoa (religioso, político, cultural e social) e tem como base alguns “pilares” em forma de doutrina:
• Profissão de fé: “não há outro Deus a não ser Alá, e Maomé é o seu profeta”. Esse testemunho é a chave de entrada da pessoa para o islamismo. A essência da natureza de Deus no islã é “poder”.
• Cinco orações diárias. São orações comunitárias, durante as quais o fiel deve ficar ajoelhado e curvado em direção a Meca. Um sermão com base em um verso do Corão, de conteúdo moral, social ou político, é lido às sextas-feiras.
• Taxa tributária. É o único tributo permanente ditado pelo Corão, pago anualmente em grãos, gado ou dinheiro. É empregado no auxílio aos pobres e no resgate de muçulmanos presos em guerras.
• Jejum completo. Éfeito durante todo o mês do Ramadã, do amanhecer ao pôr-do-sol. Nesse período, em que se celebra a revelação do Corão a Maomé, o fiel não pode comer, beber, fumar ou manter relações sexuais.
• Peregrinação a Meca. Deve ser feita pelo menos uma vez na vida por todo muçulmano com condições físicas e econômicas para tal. A esses cinco pilares, foi adicionado o Jihad (Guerra Santa). É o esforço pelo qual os muçulmanos querem reformar o mundo.
• O conceito de Jihad. O termo significa “luta”, “esforço” ou “empenho”, e no contexto religioso envolve uma luta contra o mal, assumindo várias formas:

Jihad do coração: significa a luta contra as tendências más da natureza humana;
Jihad da boca: argumentação verbal e maldições ou imprecações, ou seja, guerra verbal;
Jihad da pena: utiliza a palavra escrita em defesa do islã (apologética islâmica);
Jihad da mão: busca promover a causa de Alá por meio de boas obras;
Jihad da espada. É a última e mais problemática forma de “jihad”. Esse aspecto domina a história e a jurisprudência islâmica. Quando essa palavra ocorre no Corão sem um qualificativo ou com o qualificativo típico “na causa de Alá”, ela invariavelmente significa um apelo ao combate físico em favor do islã.

IV. Aprensentando a eles Deus e a sua revelação
Para testemunhar a fé cristã a um muçulmano é necessário contornar vários obstáculos e barreiras culturais. Algumas atitudes são fáceis de memorizar:
apertar a sua mão direita; não chamá-lo de irmão, e sim, de amigo; aceitar e retribuir a hospitalidade; evitar falar com o sexo oposto; construir amizade antes de falar de Cristo. Depois destes passos, é importante primar por uma mensagem clara, uma mensagem que apresente nosso Deus e sua Palavra.

A. Agraça do nosso Deus
Quando usamos o termo “nosso” é porque Deus pode ser de todos, mediante a compreensão de si mesmo e do seu plano de salvação, por meio do Filho, Jesus Cristo, nosso Salvador. A mensagem central da Bíblia sobre a obra salvadora de Deus ao longo da história é bem clara e de fácil compreensão. O seu conteúdo básico – a criação, a queda, a redenção e a consumação – é tão simples que uma criança pode facilmente entender. A comunicação de Deus na Bíblia, como um todo, é acessível. Isso pressupõe duas premissas: primeiro, a Bíblia significa o que Deus e os autores humanos queriam que ela significasse;segundo, podemos entender esse significado. Isso, porém, não quer dizer que consigamos entender tudo no grau mais alto possível.

Se podemos entender verdadeiramente a Bíblia, então por que todos os homens não concordam plenamente a respeito do que ela ensina? O problema não está na Bíblia. O problema está nos homens, finitos e pecadores. Se não fossem os efeitos da queda em nossa mente e coração, todos interpretaríamos a Bíblia da mesma maneira. Mas o ponto a ressaltar aqui é que a mensagem central da Bíblia é clara.3
Para a maioria dos convertidos do islã, a obra conclusiva e propiciatória de Jesus Cristo na cruz tem um impacto poderoso. Eles aprenderam que a liberdade em Cristo significa liberação das obras e do medo. Ela ressalta o perdão de Cristo para todos os pecados e o pagamento de toda a dívida. A graça, na plenitude de seu significado, é uma doutrina magnífica. O islã não conhece um Deus íntimo, pessoal e amoroso. Alá é um criador e juiz impessoal. O único termo de “intimidade” no Corão diz respeito à ameaça de julgamento: estamos mais perto de Alá “que sua veia jugular” (Surata 50:16). A benevolência de Cristo na cruz e seu amor transcendente desarmam a mente muçulmana.
B. A Bíblia como Palavra do nosso Deus
Inspirada. Inspiração é como Deus soprou suas palavras por meio de escritores humanos (2Tm 3.16). O prefixo “in” na palavra inspiração induz ao erro, porque 2Timóteo 3.16 se refere a uma obra escrita que Deus soprou para fora e não a algo já existente que Deus soprou dentro e animou. O prefixo “ex” é mais preciso, mas dizer que toda a Escritura foi expirada não melhoraria a explicação. Nós estamos presos à palavra tradicional “inspirada”. A clássica definição de B. B. Warfield é mais precisa: “Inspiração é (…) uma influência sobrenatural exercida nos escritores sagrados pelo Espírito de Deus, em virtude da qual é dada divina confiabilidade aos seus escritos”.4
Inerrante. Inerrância significa que quando todos os fatos forem conhecidos, as Escrituras, nos seus autógrafos originais e corretamente interpretada, demonstrarão ser totalmente verdadeiras em tudo o que afirmam, seja com relação à doutrina, à moral ou às ciências sociais, físicas e humanas.5
Autoridade. O próprio Jesus apela para a Bíblia como a autoridade final, afirmando que não se consegue demonstrar que ela contenha erros: “a Escritura não pode falhar” (Jo 10.35; cf. Mt 5.17-20). Deus tem a autoridade suprema, pois ele criou e controla o universo. Se a Bíblia é inspirada por Deus, então ela tem a autoridade do próprio Deus. É a autoridade máxima. E não é a autoridade máxima simplesmente para “fé e prática”. É a autoridade máxima para cada área do conhecimento a que ela se dirige.
Suficiente. A Bíblia é perfeitamente suficiente para a sua finalidade. Na Bíblia, Deus nos deu tudo aquilo de que precisamos para conhecê-lo, confiar nele e obedecê-lo. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17). A Bíblia não responde diretamente a cada pergunta que as pessoas fazem. Esse não é o propósito dela. Seu objetivo principal é revelar o Deus do evangelho, para que possamos conhecêlo e honrá-lo. A Bíblia sozinha é suficiente. Sua suprema autoridade é exclusiva.
Necessária. A Bíblia é necessária para conhecermos a Deus, confiarmos nele e obedecermos a ele. Um cristão ou um muçulmano deve, de algum modo, ouvir a mensagem da Bíblia, seja lendo-a, seja ouvindo alguém lê-la ou explicá-la. “E que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.15). “E assim, a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).
Devemos continuar a ouvir a mensagem da Bíblia para crescer como cristãos. Isso significa lê-la, estudá-la, memorizá-la, meditar nela e aplicá-la, porque ela é exata. Um cristão precisa da Bíblia como precisa de alimento e de água. A necessidade nunca desaparece. É por isso que Pedro escreve: “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (1Pe 2.2). O “genuíno leite espiritual” é “a palavra de Deus, a qual vive e é permanente[...] a palavra que vos foi evangelizada” (1Pe 1.23-25). A Bíblia é necessária para mais do que a sobrevivência. É o nosso único e infalível guia para navegar na vida com sabedoria, porque ela revela a vontade de Deus.
Conclusão
Uma religião é tão estável quanto o fundamento que a sustenta.6 Tanto o islamismo quanto o cristianismo reivindicam autenticidade. No entanto, entre Maomé e Jesus Cristo, qual é o fundamento mais seguro? Maomé ensinou que há um único Deus. Cristo ensinou que isso é verdade – devemos adorar o único Deus por meio de Jesus Cristo (Jo 14.6). Mas é essencial aprensentar Deus, em toda sua glória, e ao mesmo tempo a manifestação de sua graça aos pecadores por meio de Jesus. A Bíblia é a Revelação de Deus que nos permite conhecê-lo e à sua vontade para conosco. É a verdade de Deus que deve ser apresentada aos muçulmanos, assim como a todo pecador. Somos os vasos de barro que Deus escolheu para levar sua mensagem a toda criatura. Louvemos a Deus por isso, e busquemos cumprir a missão que ele nos concedeu.
Aplicação
Se a essência do islamismo é o conjunto de conceitos advindos do Corão, qual é a essência que exala do cristianismo? Se a imensa influência do seu líder vem de uma postura radical e antibíblica, qual é a influência de Cristo sobre a nossa vida? Se as suas crenças e práticas passam pelos pilares do islamismo, qual é a estrutura que nos mantêm em missão?
Boa leitura!
Em Pensar. Amar. Fazer, da Editora Cultura Cristã, há um capítulo que trata do encontro do islã com a mente de Cristo. Esse livro conduz o leitor uma excelente reflexão. Vale a pena você conferir.

Notas
Islamismo, Tariq Al-Salam, Editora Santos, p.19.
Conheça as marcas das seitas, Dave Breese, Editora Fiel, p. 18.
3 Cf. as sete qualificações sensíveis de Wayne Grudem: “A Escritura afirma que ela pode ser compreendida, mas, (1) não tudo de uma vez; (2) não sem esforço; (3) não sem meios ordinários; (4) não sem a disposição do leitor para obedecê-la; (5) não sem a ajuda do Espírito Santo; (6) não sem o mau entendimento dos homens; e (7) nunca totalmente”. The perspicuity of Scripture, Themelios 34, no3 (2009): 288-309. Disponívelem: .
4 The works of Benjamin B. Warfield, vol. 1, Revelation and inspiration(Nova York: Oxford University Press,1927), p. 77-78. Em português, ver A inspiração e autoridade da Bíblia, de Benjamin Warfield, publicado pela Cultura Cristã.
5 Paul Feinberg, The meaning of inerrancy, emInerrancy, org. Norman L. Geisler (Grand Rapids: Zondervan, 1980), p. 294
O islã sem véu. Ergun Mehmet Caner, Emil Fethi Caner, Editora Vida, p. 258.

>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão, 2013. Usado com permissão.
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