© MAHMUD AL-HALABI / AFP
Despertou furor um artigo publicado na atual edição da revista norte-americana The Atlantic: “What ISIS Really Wants” [“O que oEstado Islâmico realmente quer”], escrito por Graeme Wood. Enquanto as fantasias ocidentais reduzem o Estado Islâmico a um bando de psicopatas altamente descontentes, o autor vai mais a fundo e o descreve como uma força descomunal, alicerçada solidamente em uma mistura coesa de ideologia e fé.
De acordo com Wood:
1. O Estado Islâmico e a Al-Qaeda estão muito longe de ser a mesma coisa.
O Estado Islâmico já eclipsou a Al-Qaeda e considera seus líderes como apóstatas. É um grave erro ocidental o de não perceber a diferença entre esses dois grupos, particularmente no tocante à sua forma de interpretar o Alcorão.
2. O Estado Islâmico defende a estrita observância do Alcorão e se proclama responsável pelo cumprimento das suas profecias apocalípticas.
Os seguidores do grupo são muito bem doutrinados na fé e seguem a lei islâmica ao pé da letra, o que inclui a “obrigação” de praticar crucificações e amputações e de impor a escravidão.
3. O Estado Islâmico se considera um califado.
O grupo conseguiu cumprir o requisito de possuir um território próprio: depois de ocupar a área ao redor de Mosul, no Iraque, eles têm hoje um território tão grande quanto o do Reino Unido. Agora, os crentes são obrigados a observar todas as leis da sharia. Em tese, isto implica a imigração dos fiéis ao califado.
4. Os membros do Estado Islâmico acreditam que têm um papel a desempenhar no armagedom.
Para eles, está profetizado que haverá uma grande batalha contra “Roma” em Dabiq, na Síria; que eles conseguirão saquear Istambul; e que acontecerá um confronto final com um anti-Messias antes do retorno de Jesus, no final dos tempos.
5. O atual foco do Estado Islâmico é a ofensiva jihadista de expansão.
Uma vez estabelecido, o califado deve expandir-se para territórios não muçulmanos, conquistando novas terras pelo menos uma vez por ano. Suas táticas – decapitações, crucificações e escravização de mulheres e crianças – têm o objetivo de aterrorizar os inimigos e apressar o fim do conflito.
6. Os Estados Unidos não foram capazes de reconhecer o abismo entre o Estado Islâmico e a Al-Qaeda.
O resultado mais imediato deste erro foi tentativa bizarra e falida de libertar o refém norte-americano Peter Kassig. Os Estados Unidos recrutaram um veterano da Al-Qaeda para interceder junto ao Estado Islâmico em favor de Kassig. A ideia foi um fracasso e culminou na decapitação do refém.
7. Território é um requisito essencial para a existência do Estado Islâmico.
Portanto, se eles perderem seu território, deixarão de ser um califado – o que é um argumento tentador a favor de uma intervenção estrangeira.
8. O Estado Islâmico deseja essa invasão!
Ela reforçaria os recrutamentos e a radicalização de muçulmanos em todo o mundo – o que é um argumento muito forte contra a intervenção estrangeira.
9. O Estado Islâmico pode se tornar vítima do próprio sucesso.
É questão de tempo até que a massa de crentes pobres e com altas expectativas se veja diante da privação econômica, da frustração e da redução do número de fiéis que migram para o califado. Mas o mais provável é que esse tempo não chegue tão cedo.
10. Se a Al-Qaeda se aliar ao Estado Islâmico, será catastrófico.
É por isso que Wood considera tão imprudente a tentativa feita pelo governo Obama de abrir canais de comunicação entre a Al-Qaeda e o Estado Islâmico durante as negociações para libertar reféns.
11. A maioria dos muçulmanos não apoia o Estado Islâmico.
Alguns por serem "moderados" e desconfiarem de qualquer tipo de devoção linha-dura (esses muçulmanos, aliás, são considerados apóstatas pelo Estado Islâmico). Outros se opõem ao Estado Islâmico por motivos conservadores e baseados nas escrituras, como é o caso de segmentos salafistas que preferem abster-se do conflito com outros muçulmanos e concentrar-se no aperfeiçoamento da própria vida pessoal.
12. A fé e a confiança do Estado Islâmico na própria missão divina transforma o grupo num inimigo formidável.
Eles promovem o armagedom prefaciado por uma guerra prolongada. E é improvável, por isso mesmo, que se deixem comover por apelos aos seus “interesses” não religiosos.
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