quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Alemanha, Deutschland, Germany: Por que um mesmo país tem nomes diferentes? Conheça os exônimos


Um exônimo (português brasileiro) ou exónimo (português europeu) (do grego ἔξω (éxō) 'externo' + ὄνυμα (ónyma) 'nome') é um nome pelo qual um nome próprio é conhecido em outra língua que não aquela(s) falada(s) nativamente. Em outras palavras, exônimos são nomes estrangeiros para nomes próprios, especialmente para topônimos, ou seja, nomes de lugares ou feições geográficas. Por exemplo, os nomes LondresMoscou/Moscovo e Pequim são exônimos em português respectivamente para as cidades de LondonМосква (Moskva) e 北京 (Běijīng), cujos originais estão em inglêsrusso e chinês. Ainda mais especificamente, Москва pode ter as formas exonímicas Moscou em português brasileiro e Moscovo em português europeu.
O oposto de exônimo é o endônimo, ou nome nativo (ou "autóctone").[1]
Há basicamente os seguintes tipos (ou subcategorias) de exônimos:
  • os exotopônimos - traduções e adaptações de nomes de lugares
  • os exantropônimos - traduções e adaptações de nomes de pessoas
  • os (exo)etnônimos - traduções e adaptações de nomes de povos e nacionalidades
  • os heteroglotônimos - traduções e adaptações de nomes de idiomas e dialetos

Exônimos: História e tendências

Exônimos eram a forma principal pela qual os nomes de paísescidades e regiões eram conhecidos pelos outros povos até o século XX. As pessoas se acostumavam a ouvir nomes de lugares distantes e adaptá-los para facilitar a pronúncia em suas próprias línguas. Assim, os exônimos seguem a lógica da língua do observador. Na maioria dos casos, os exônimos foram simples adaptações fonéticas e ortográficas, seguindo padrões de nomenclatura que "faziam mais sentido" em cada língua. Por exemplo, a cidade italiana Firenze é chamada de Florença em português, Florence em inglês e Florencia em espanhol, cada forma coerente com a lógica de seu idioma. Ocorre o mesmo com o nome "Jerusalém", forma adaptada para o português a partir do original hebraico/aramaico Yeroushalaim. Neste caso, diz-se que são exônimos cognatos.
Em outros casos, porém, exônimos são não-cognatos – ou seja, são criações inteiramente novas e diferentes do idioma nativo do local batizado, como o nome Albânia para o país que em albanês é chamado de Shqipëria ("terra das águias"). Inclusive, um mesmo lugar pode ter versões não-cognatas (ou seja, que derivam de raízes etimológicas diferentes) até em línguas próximas. Por exemplo: os nomes Alemanha (português), Alemania (espanhol), Yr Almaen (galês), Almanya (turco) e Allemagne (francês) são aparentados, enquanto Germany (inglês), Guermaniya (russo, búlgaro) e Germania (italiano) pertencem a outro grupo, que por sua vez contrasta com Nemačka (sérvio), Nemecko (eslovaco) e Németország (húngaro) e ainda Tyskland (dinamarquês, sueco) e Duitsland (neerlandês), estes cognatos do endônimo alemão Deutschland. Embora pertencentes a quatro grupos inteiramente distintos, são todos exônimos para designar o mesmo país.
A aparição de exônimos era tanto maior quanto mais variado fosse o número de povos entrando em contato e trocando informações, em particular desde a Antiguidade. Já locais de colonização mais recente (principalmente ocidental) receberam nomes oficializados e padronizados em documentações institucionais e divulgadas mundialmente sob os auspícios dos Estados e dos poderes constituídos. Por esse motivo, cidades na Europa, na Ásia e no norte da África tendem a ter mais exônimos que as aglomerações urbanas das Américas, do sul da África e da Oceania.
Antes da Idade Contemporânea, a criação de exônimos era incentivada pela falta da escrita (populações majoritariamente analfabetas), pela comunicação oral que muitas vezes mal-interpretava a pronúncia nativa, pela referência a mapas antigos e pouco precisos e pelo contato internacional mediado por relativamente poucos (em comparação com a sociedade inteira) mercadores, diplomatas e cartógrafos. O desenvolvimento das tecnologias de comunicação nas últimas décadas criou uma situação sem precedentes em que os cidadãos comuns de vários países se comunicam em larga escala uns com os outros. Isto tem facilitado o aprendizado de endônimos por populações às vezes muito distantes geográfica e culturalmente.
A disseminação da internet também permitiu o acesso direto a fontes originais, com as formas autóctones de grafia e pronúncia dos nomes próprios. A mídia, principalmente, tem tido um papel de destaque na solapação de exônimos, ao disseminar nomes "nativos" em lugar de formas preexistentes na língua corrente. Vários jornalistas e personalidades de mídia — por ignorância, pressa ou desleixo —, utilizam nomes estrangeiros em vez de formas consagradas (inclusive na língua portuguesa) ao longo de séculos por cartógrafos, historiadoresgeógrafos e diplomatas, e registradas em atlasenciclopédias e livros especializados. O uso de exônimos, portanto, é um problema negligenciado pelo jornalismo internacional.
Atualmente, alguns críticos consideram o uso de exônimos como forma de etnocentrismo e defendem que cada local seja conhecido por seu próprio nome autóctone, inclusive ignorando formas plenamente usadas em outros idiomas. Há, no entanto, diferentes níveis nesta posição, das mais radicais (que propõem usar Deutschland para Alemanha, por exemplo) às mais moderadas (que defendem "exceções consagradas", ainda que o critério de consagração seja vagamente definido).
Em contraposição, outros críticos aduzem que a recomendação da ONU de utilizar formas originais (ver abaixo) é uma mera declaração de intenções sem consequências práticas, pois a adaptação de nomes é um fenômeno perfeitamente normal em quase todas as línguas e que não pode ser suprimido por decreto. Lexicógrafos, inclusive as academias de letras, costumam se opor a esta nova tendência de ignorar as adaptações (que deve ser adotada em círculos profissionais, como bibliotecários e arquivistas, ou políticos) e continuam considerando obrigatório o uso dos exônimos, tanto tradicionais quanto recém-criados, pelo menos nos âmbitos não-oficiais. O lexicógrafo galego José Martínez de Sousa justifica este critério da seguinte forma:
"Em escritos não-profissionais, na literatura e no jornalismo, os exônimos são de uso obrigatório, já que as formas originais são desconhecidas e carecem de enraizamento com a cultura popular e a fonética de cada língua. Caso contrário, teria que ser utilizada, como de fato fazem os profissionais mencionados (bibliotecários e arquivistas) uma série de sinais fonéticos ou combinações de letras (especialmente nas transcrições) que o grosso do público desconhece e só servem para desorientar."[2]

Exônimos em português


 A língua portuguesa teve uma rápida expansão no número de exônimos a partir das Grandes Navegações, quando os mercadores e colonizadores registravam os topônimos das "novas terras" adaptados à pronúncia e ortografia portuguesas. Vários exônimos europeus para cidades e países da Ásia, como Formosa e Japão, derivam dos nomes que os portugueses davam a estes locais (neste caso, Cipango; o original é Nihon). O português europeu e africano é de certa forma mais conservador que a variante brasileira e, por isso, utiliza exônimos mais extensivamente. Vários nomes para cidades europeias — como Estugarda e Utreque — são comuns em Portugal e nos PALOP mas caíram em desuso no Brasil.
Os portugueses também criaram novos nomes para as áreas que colonizaram na América, na África e na Ásia (ÍndiaChina e Indonésia). Do ponto de vista histórico, o nome Brasil era originalmente um exônimo, já que povos do tronco tupi chamavam o território de Pindorama. Ao longo do tempo, com a colonização e a criação de uma população nativa que falava português (principalmente de meados do século XVIII em diante), o nome se consolidou como endônimo. O mesmo pode-se dizer do nome Rio de Janeiro para o lugar que os índios chamavam de Guanabara, se for considerada a formação geográfica já existente (o que não existiam era a cidade e o ente político-administrativo).
Os exônimos em português costumam seguir algumas normas e particularidades:
  1. Acentuação gráfica sempre que necessária.
  2. Utilização da ortografia corrente, com os acentosdiacríticos e dígrafos presentes no alfabeto português, mas sem as letras e sinais não portugueses, como KWYÑPH e SH.
  3. Tradução de prefixos ou termos de situação relativa (Alto, Baixo, Novo, Velho, Grande, Pequeno, Maior, Menor): Antilhas MenoresNew York → Nova York ou Nova IorqueNew Orleans → Nova OrleãesNiedersachsen → Baixa SaxôniaGreat Britain → Grã-BretanhaPrednistrovie → Transnístria
    1. Acréscimo (por sufixação) de vogais e acentuações em terminações indicativas de cidade, região ou país: Seeland → ZelândiaIjsland → Islândia; mas Cf. Éire/Ireland → IrlandaNederland → NeerlândiaAnnapolis → AnápolisMinneapolis → MineápolisEdinburgh → EdimburgoStrasbourg → EstrasburgoHamburg → HamburgoBeograd → BelgradoLeningrad → LeningradoTitograd → Titogrado; Poland → Polónia
  4. Eliminação de artigos (em contraste com árabeespanholitaliano e outras línguas): Al-Kuwait → KuwaitLa Habana → HavanaA Coruña → Corunha (OBS.: casos como El SalvadorLos AngelesLas Palmas não são exônimos, mas endônimos, o nome original)
  5. Acréscimo de vogais para evitar consoantes "mudas": Iraq → IraqueAl-Beyrut → BeiruteBangkok → BanguecoqueNew York → Nova Iorque (ver acima)
  6. Substituição das terminações -an e -am por  ou -ãoPakistan → PaquistãoIran → Irã ou IrãoAmsterdam → Amsterdã ou Amsterdão
  7. Substituição das terminações -in e -en por -im ou -émBerlin → BerlimBenin → BenimDublin → DublimYemen → Iêmen
A esse respeito, o Formulário Ortográfico da Língua Portuguesa de 1943 (em vigor oficial no Brasil) prescreve que:
"39. Os nomes próprios personativos, locativos e de qualquer natureza, sendo portugueses ou aportuguesados, serão sujeitos às mesmas regras estabelecidas para os nomes comuns. (…) 41. Os topônimos de origem estrangeira devem ser usados com as formas vernáculas de uso vulgar; e quando não têm formas vernáculas, transcrevem-se consoante as normas estatuídas pela Conferência de Geografia de 1926 que não contrariarem os princípios estabelecidos nestas Instruções".[3]
LEIA MAIS SOBRE O TEMA:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%B4nimo

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...