Moscou, 10 jun (EFE).- O primeiro festival de moda muçulmana da Rússia tenta romper os estereótipos da mulher islâmica como pessoas escravizadas pelo rigor dos dogmas do Corão e intocável para as novas tendências.
'Queremos mostrar que a mulher muçulmana também pode se vestir bem e ser moderna, culta e bonita, ao mesmo tempo em que respeita os princípios do Corão', disse neste domingo à Agência Efe Rushán Abiásov, vice-presidente do Conselho de Muftis da Rússia.
O festival, realizado no principal centro de exposições de Moscou, reuniu hoje mais de uma dezena de desenhistas da Rússia, Cáucaso Norte, Ásia Central, Irã e países árabes.
Os vestidos, roupas para noite e longas túnicas apresentados pelas belas modelos russas, que não devem nada as que desfilam por Paris ou Milão, respeitam os princípios do Corão. 'A mulher muçulmana deve ser modesta e deixar só descoberto o rosto, as mãos e os pés. Além disso, a roupa não deve ser em nenhum caso transparente', disse.
Abiásov não nega às mulheres o direito a vestir calças jeans e roupas mais leves, embora dependa da situação e das circunstâncias.
A moda muçulmana surpreendeu os presentes, não tanto por seu atrevimento, mas pela mistura de classicismo e modernidade, tradições islâmicas e últimas tendências. Em muitos casos os tamanhos eram justos e os saltos muito altos, o que contribuía para ressaltar a elegância dos modelos expostos.
Os chapéus e lenços com estampas originais chamaram a atenção. 'Roupa sem idade. Eterna. Um vestido para cada ocasião. Romântica e extravagante', dizia a apresentadora, enquanto ao fundo tocava uma música que lembrava 'As mil e uma noites'.
A impressão do espectador é que os desenhistas buscaram na tradição uma forma de apresentar uma mulher feminina, graças à pureza do material utilizado e as cores pouco chamativas. 'Queremos mostrar a beleza do Islã. Muitas mulheres querem se vestir bonitas, mas encontrar roupa que respeite os códigos e seja bonita nem sempre é fácil', disse uma porta-voz da organização do evento.
Os organizadores do festival reconhecem que nem todos os países muçulmanos aplicam as mesmas regras e são tão rigorosos com o código de vestimenta de suas mulheres. 'Na Rússia nunca tivemos tradição de túnicas negras como no mundo árabe. As mulheres muçulmanas russas não passam o dia em casa, sem se relacionar com ninguém', acrescentou a porta-voz.
Uma das estrelas do evento foram os vestidos desenhados por uma casa de modas iraniana, muito mais conservadores que o resto dos vestidos mostrados no primeiro festival de moda muçulmana de Moscou.
'A fé é uma questão interior. Eu não sinto que tenha que esconder todo o corpo para ser uma muçulmana melhor. Por outro lado, minha irmã, mais jovem que eu, cobre o cabelo', disse à agência Efe Yulia, de 22 anos da região dos Urais.
Esta bela estudante com um longo rabo de cavalo e veste jeans apertados acredita que é possível encontrar o equilíbrio ideal entre a modernidade e os princípios do Islã. 'Quando eu tiver filhos, deixarei que eles sejam o que escolherem. Isso depende do homem muçulmano, pois há os inteligentes e outros que pensam que mostrar o cabelo é para pecadoras', disse.
Sobre o assunto, Abiásov ressalta que cada vez há mais lojas na capital russa e na internet que vendem roupa para muçulmanos. Na Rússia há mais de 20 milhões de pessoas, divididos entre as repúblicas de Tartária e Bashkiria, Cáucaso e Sibéria.
O clérigo ressaltou que os muçulmanos russos estão acostumados a conviver com cristãos e judeus, tradição de tolerância que é desconhecida por outros países onde o Islã é a única religião. EFE
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