Aumento da taxa sobre cartões pré-pagos deve levar ainda mais consumidores ao uso do cartão de crédito em viagens internacionais
Conhecido vilão dos orçamentos pessoais e familiares, o cartão de crédito pode ter finalmente conquistado um espaço interessante para o consumidor. Com as mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos gastos em moeda estrangeira, o meio de pagamento pode se tornar uma boa opção para quem tem um cartão internacional.
Com a taxa de 6,38% cobrada sobre qualquer operação em moeda estrangeira com cartão (de crédito e débito), o consumidor terá de observar outras vantagens para escolher a melhor forma de levar dinheiro para viagens no exterior. Se antes a estratégia era buscar a melhor cotação, agora o que deve definir a estratégia são os benefícios agregados a cada modalidade.
Esta é a dica de Reinaldo Domingos, educador financeiro da DSOP, que de saída já alerta que o dinheiro em espécie deve ser evitado. “É o risco mais caro que existe no mercado hoje. O ideal é levar o mínimo possível, apenas para gastos trocados, em situações em que não cabe o cartão”, explica. Sobram então algumas opções de plástico – o pré-pago, o crédito e a função débito da conta corrente.
Para o especialista, é aí que o cartão de crédito ganha espaço. Com o mesmo custo de operação, o acúmulo de milhas e o pagamento postergado do imposto tornam a opção bastante atrativa.
Se para você o cartão de crédito é sinônimo de descontrole financeiro, fica o alerta. Reduza o limite de compras estrangeiras do seu cartão de crédito ao valor que você já tem guardado para gastar na viagem. “É uma forma de imitar um pré-pago usando os benefícios de milhagem por exemplo”, diz Domingos. “Uma viagem envolve muitas emoções, então a gente entra naquelas de pensar ‘não sei quando vou voltar, então compro e gasto agora, depois me viro para pagar’, mesmo quando não há condições para isso. A redução do limite é uma arma contra esse impulso.”
A propósito, esse tipo de estratégia pode até ajudar a ganhar um trocado mesmo enquanto gasta. Parece controverso, mas é simples. Em vez de pagar o IOF na aquisição do câmbio, ao usar o crédito você adia por mais um mês o pagamento do imposto – tempo esse em que sua reserva financeira pode estar rendendo em alguma aplicação. O ganho é pequeno, se o dólar cair até o fechamento da fatura, o resultado da estratégia será ainda melhor.
Risco
Embora seja animadora, a estratégia também tem uma parcela de risco que merece toda a sua atenção. Esse caminho só é seguro quando as oscilações cambiais são curtas, ou seja, quando o preço do dólar está mais ou menos estável. Como o câmbio das operações é o do fechamento da fatura, o excesso de volatilidade no preço da moeda pode levar todo o exercício por água abaixo.
Em casos de alta volatilidade ou tendência de alta do dólar, Domingos explica que a “situação se inverte”. “Compre aqui, pague aqui, tudo antes de sair para a viagem”, afirma.
Mas e se as férias forem mais longas e trajetória do dólar começar a oscilar ou dar sinais de alta durante a viagem? Nesse caso a estratégia de não por todos os ovos na mesma cesta dá uma margem adicional de segurança. Você pode deixar uma parte menor do seu dinheiro no pré-pago e passar a utilizá-lo na rotina caso o cenário fique muito instável.
Antes da última decisão do Ministério da Fazenda quanto ao IOF, o pré-pago era o queridinho dos viajantes, uma vez que garantia a segurança do cartão e operava à taxa de 0,38% – que, na visão de Domingos, já era suficientemente alta. Agora, ele perde boa parte do apelo, ficando restrito aos superconservadores que preferem a segurança cambial, tarifária e tributária a qualquer outro benefício.
A título de educação financeira, diz Domingos, o pré-pago ainda funciona muito bem. “É a melhor saída para os filhos, por exemplo, que estão começando a aprender a administrar as próprias reservas”, explica.
Contexto
Entre o Natal e o Ano Novo, o aumento do IOF nas operações de câmbio em cartões pré-pagos despertou a ira de muitos brasileiros. Da noite para o dia, fazer compras em viagens internacionais ficou 6 pontos porcentuais mais caro, diminuindo o poder de compra dos consumidores durante o período de lazer.
Até novembro do ano passado, o cartão de crédito respondia por 54,7% do volume total gasto por brasileiros no exterior segundo o Banco Central. Ou seja, na prática, a maior parte dos brasileiros já pagava os tão criticados 6,38% de IOF.
Para José Raymundo Jr., consultor financeiro certificado do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF), esse cenário não deve mudar. No entanto, o consumidor deve ficar bastante atento as tendências da moeda.
Com os novos custos de câmbio, o câmbio em espécie deve voltar à evidência. No entanto, as oscilações do mercado e os contextos políticos podem guardar surpresas. “O ideal é que quando faltar três ou quatro meses para a viagem, o turista comece a verificar diariamente a cotação do dólar e ir comprando aos poucos”, diz.
Atualmente, segundo Raymundo, os turistas levam entre 10% e 30% do total em espécie. Essa parcela pode voltar aos 40%, margem que operava antes do boom dos pré-pagos.
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