sábado, 10 de maio de 2014

Forte crescimento da população africana criará novas tensões sociais

Um estudo da ONU, publicado no mês de julho e comentado nos jornais "Los Angeles Times" e no "Washington Post", mostra as impressionantes projeções do crescimento demográfico dos países africanos. Novas análises realizadas pelos especialistas corrigem estimativas anteriores, indicando que a população africana irá quadruplicar durante o século 21, em vez de simplesmente triplicar, como se calculava até então.
Desse modo, tendo 1,1 bilhão de habitantes atualmente, a África contará com mais de 4 bilhões em 2100. No contexto planetário, a população asiática continuará crescendo, mas num ritmo mais lento, com a Índia ultrapassando a população da China em 2030.
Ao mesmo tempo, a população da Europa declinará ao longo do século 21, enquanto a da América do Norte subirá, ultrapassando o número de habitantes da América do Sul em 2080.
As estimativas sobre o Brasil ilustram este movimento de ascensão, estabilização e declínio da população da América do Sul. Segundo os demógrafos da ONU, o Brasil atingirá o seu pico populacional em 2050, com 231 milhões de habitantes, e verá em seguida esta cifra regredir para 194 milhões em 2100, número próximo ao registrado em 2010 (195 milhões de habitantes).
Inversamente, a população da América do Norte continuará aumentando, sobretudo impulsionada pelo crescimento demográfico dos Estados Unidos. Único país desenvolvido com crescimento demográfico, os Estados Unidos, que contavam com 312 milhões de habitantes em 2010, terão 462 milhões em 2100.
O contraste entre o aumento da população africana, sobretudo nos países subsaarianos, e o resto do mundo aparece nas estimativas sobre a população da Nigéria. Atualmente com 175 milhões de habitantes, a Nigéria terá uma população maior que a dos Estados Unidos a partir de 2050, tornando-se o terceiro país mais populoso do mundo. Em 2100 a Nigéria terá um contingente de 914 milhões, se aproximando da população chinesa neste mesmo ano (1 bilhão de habitantes).
O forte crescimento da população africana criará novas tensões sociais na maioria dos países do continente. De fato, a maior parte dos países africanos herdou fronteiras artificiais, criadas pelas ex-potências coloniais europeias, que funcionam como verdadeiras bombas de retardamento em muitas regiões.
O caso da Nigéria é também exemplar nessa perspectiva. Estado federal que conta com 36 Estados e 250 etnias, o país está dividido entre muçulmanos (50% dos habitantes), cristãos (40%) e seguidores das religiões tradicionais africanas (10%). Refletindo esta situação, o Poder Judiciário nigeriano combina partes do sistema legal britânico (oriundo do país colonizador), as leis tradicionais e a lei Islâmica, aplicada nos 12 Estados do norte da federação.
Nos últimos anos, a radicalização islâmica e a urbanização desordenada têm aumentado os conflitos entre muçulmanos e cristãos. Segundo alguns especialistas, no médio prazo, a Nigéria pode conhecer novos movimentos separatistas e mesma uma divisão de seu território entre o norte muçulmano e o sul cristão.

LUIZ FELIPE DE ALENCASTRO

Cientista político e historiador, professor titular da Universidade de Paris-Sorbonne e professor convidado na FGV-Escola de Economia de São Paulo. É membro da Academia Europaea.

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